Capítulo 4

Capítulo 04: Maurício Bevan...

Acordei antes do sol nascer, o corpo pedia mais algumas horas de sono, mas a disciplina sempre falou mais alto.

Academia logo cedo, como todos os dias, é a maneira que encontro de iniciar o dia com ânimo. Um treino pesado de musculação tentando esvaziar a mente, mas bastava fechar os olhos por um segundo que lá estava ela...

... O que está acontecendo comigo? Só posso estar enlouquecendo!...

De volta a mansão, banho gelado, terno alinhado e a sensação de estar vestindo uma armadura para enfrentar o dia na empresa.

Passei no cybercafé, ansioso para vê-la.

Fui direcionado a uma mesa pelo gerente e assim que me sentei, ela apareceu.

Nossos olhares se cruzaram por mais tempo que deveria. Os meus olhos pareciam ter vida própria, atraídos por ela de uma maneira inexplicável.

— O que vai pedir hoje? — perguntou com um sorriso contido.

Ela tentava esconder a forma que eu a desestabilizo e sorrio de canto.

— Café preto e croissant de chocolate! — respondi.

Enquanto esperava, tentei voltar ao meu celular, aos e-mails que começavam a lotar a caixa de entrada, mas a verdade é que fiquei procurando por ela... a seguindo com o olhar.

Tomei o café, assistindo ela trabalhar e vez ou outra, nos pegávamos numa intensa e discreta troca de olhares.

Pouco tempo depois, já estava em meu escritório, mergulhado em relatórios, negociações e telefonemas.

Lívia me convidou para almoçar, fiquei feliz e desconfiado. Depois que ela ficou adulta, o meu maior temor é o momento em que vá me apresentar a algum namorado. Sei que isso um dia vai acontecer, porém, tenho medo dela se magoar ou até mesmo se tornar dependente de um relacionamento sem amor. Não quero que a história se repita.

O restaurante escolhido por ela, era aconchegante e tranquilo... perfeito para relaxar da rotina pesada da manhã.

Ela mexia distraída no cardápio, percebi sua inquietude e me preocupei. Até que ela largou tudo e me encarou.

— Pai, preciso te contar uma coisa!

Arqueei a sobrancelha e imaginei que essa frase nunca termina bem.

Lívia riu nervosa e disparou:

— Estou namorado!

Quase engasguei com a água.

— O quê? Como assim namorando? Desde de quando? Quem é o sujeito?

— Calma, pai! — ergueu as mãos como se quisesse me conter. — Ele é da faculdade, gente boa, responsável... tenho certeza que vai gostar dele!

— Gostar? — repeti, rindo de incredulidade. — Eu já não gostei!

Ela bufou.

— Pai, você não pode agir assim! Eu tenho vinte anos, não sou mais uma menininha boba!

— Justamente por isso, Lívia! — rebati, encostando no encosto da cadeira. — Agora que esses carniceiros, começam a aparecer com segundas intenções...

— Carniceiros?— riu e revirou os olhos. — Ele não é um predador, pai! É um cara normal, sério...

Cruzei os braços e resmunguei:

— Normal, até provar o contrário!

Ela revirou os olhos impaciente.

— Precisa confiar em mim, pai! Sempre faz isso... suspeita de todos os homens que se aproximam de mim!

— Claro que eu confio em você, minha princesinha! Eu não confio é neles!

Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que ela pousou sua mão sobre a minha.

— Pai, eu te amo muito e te respeito... mas precisa deixar eu viver a minha vida! Quero que o conheça e não quero brigar...

Olhei para ela, a minha menina cresceu tão rápido, senti o meu peito se apertar. Para mim, será sempre a minha menina e não ter a mãe para falar sobre...

Aí! Não quero nem pensar nisso!

— Está bem! — murmurei rendido. — Aceito conhecer esse tal rapaz, mas aviso que se ele vacilar com você, vai ter que se entender comigo... quebro cada osso do corpo dele e...

— Já entendi pai!

Ela abriu um largo sorriso e me abraçou forte.

— Já aviso que não vou facilitar as coisas para esse rapaz!

Respirei fundo e tentei me concentrar na refeição. Porém, no fundo, ainda estava processando a ideia de que a minha filhinha, já tinha alguém.

Voltei para a empresa e fui lembrado de que a noite teria um compromisso na faculdade de Lívia, uma palestra.

Cheguei em casa ainda remoendo o almoço. Sentia como se a comida estivessa atravessada na garaganta e não descia de jeito nenhum.

Terminava de me arrumar, quando o meu celular tocou, era meu amigo Theo.

— Olha só quem resolveu atender o amigo! — ele riu ajeitando os fones. — E aí, CEO, tá com cara de quem carregou o mundo nas costas!

— Pior que não foi a empresa, cara! É a Livia...

— Ihhh... — ergueu a sobracelha já se divertindo. — O que a princesinha do papai aprontou?

Ao contar, ele caiu na garagalhada.

— Ah, não! O paizão ciumento finalmente chegou nessa fase? Eu queria estar aí para ver a sua cara!

— Tá rindo de quê? — rosnei, mesmo sabendo que era inútil. — Ri, porque não tem filhos e não sabe como é!

— Justamente por isso eu posso rir à vontade!

Continuou rindo e vendo a minha seriedade disse:

— Isso é normal, cara! Relaxa, a Livia é adulta...

— Estaria relaxado se não tivesse que imaginar esse sujeito rondando a minha filha!

— Vai ter que aceitar meu amigo! Melhor conhecer o cara do que se tornar um inimigo e acabar perdendo a sua filha!

Fiquei em silêncio por alguns segundos, Theo tinha razão, mas admitir era outra história.

—Enfim... e você quando volta?

— Dentro de alguns dias estou de volta!

— Ótimo! Preciso sair um pouco e tomar uns drinks!Sobrou apenas nós dois de solteiro... o Zayan foi abatido com sucesso!

Rimos.

— Assim que chegar marcamos algo e vai me contar tudo sobre o tal pretendente e vou rir da sua cara de novo!

Revirei os olhos.

—Idiota!

— Ciumento! — retrucou.

Encerrei a chamada, terminava de me arrumar, no silêncio do meu quarto, pensando em como a vida sabe nos surpreender quando menos esperamos.

Não encontrei Lívia, ela já deve ter ido, então segui para a Universidade.

Entrei naquele auditório pronto para mais um compromisso comum, acostumado com os olhares femininos que sempre me cercam.

Conversei um pouco com o diretor e logo um professor me encaminhou para o local.

Até que eu a vi...

Sim era ela, sentada entre os alunos e o meu coração deu um salto.

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