Capítulo 3

Jogo e Máscaras

A sala de jogos tinha cheiro de madeira fresca. Luzes baixas pendiam sobre a mesa de sinuca, delineando a superfície verde com faixas douradas. Stefano movia o taco com um gesto calmo e preciso, cada impacto na bola soando como uma sentença controlada.

Seus olhos, de olhar reservado e misterioso, acompanhavam cada movimento com a mesma frieza com que sondara a moça naquela noite chuvosa. Quando falou, a voz saiu tão serena quanto o gesto do taco.

— Chamei você aqui porque tenho planos pra você. Muitos que virão.

Seline permaneceu de pé, as mãos ainda trêmulas pela ordem que lhe fora dada. Seu coração batia acelerado; a presença do homem fazia com que o ar ao seu redor parecesse mais denso. Ela ouviu, e guardou cada palavra como se fosse fio que poderia prender sua vida a um destino novo.

_ Minha irmã casou recentemente com um homem que já vi antes em um jogo de apostas de cavalo — disse ele, parando por um instante para engatilhar outra tacada.

_ Adulteraram nosso jogo. Perdemos uma quantia avantajada.

_ Preciso que se aproxime dela e da casa dela. Quero que seja a minha informante.

O taco cortou o ar, a bola deslizou, e o estalo foi curto como a sentença que completou.

— Você será apresentada como minha namorada.

Seline sentiu o mundo girar. A ideia parecia absurda, quase cômica demais diante da fragilidade que ela ainda carregava. Como uma pobre moça sem instrução e sem passado poderia se passar por alguém refinada? Stefano, no entanto, não pretendia discutir possibilidades; ditava ordens e finalidades.

_ Não tenho tempo para arrumar ou pagar alguém que faça o que planejei.

_ Você será preparada para isso. Apresentar-se-á como uma mulher elegante e refinada. — A voz dele ficou mais cortante.

_ Não estrague meus planos. Se o fizer, seu fim estará próximo.

Ela tentou questionar, a voz saindo por entre os dentes:

_ Por que está fazendo isso? Se for por pena… deixe-me ir.

Ele largou o taco, aproximou-se, e a encurralou com o corpo grande e a presença insubstituível de seu poder.

_ Em tudo o que falei aqui não ficou claro pra você? — sussurrou, os olhos fixos nos dela.

_ Você é apenas um brinquedinho pra mim, garota. Agora eu sou o seu dono. Quando não me for mais útil, irei me desfazer de você.

_ Você saberá demais.

O aviso teve a frieza de quem escreve um contrato com tinta invisível: sangue pela obediência. Aos funcionários, ela seria tratada com aparente cortesia; na prática, todos sabiam de quem seria, e sob quais ordens agiria. Assim se comprava a lealdade: presença pública com pergaminho ameaçador por debaixo.

Uma semana passou em aulas curtas, etiqueta improvisada, arranjos no cabelo e posturas ensaiadas. Ela aprendeu a caminhar com o corpo retraído transformando-se, por esforço e medo, numa mulher que se supunha elegante. Cada gesto era uma peça a mais na máscara que Stefano obrigava-a a vestir.

No grande dia, um jantar foi oferecido na mansão. Yarin — a irmã de Stefano — chegou acompanhada do marido.

O cunhado fora sempre uma sombra suspeita: fora contrário ao casamento repentino da irmã, falava discretas críticas e, embora a irmã soubesse das má intenções do marido, seguira por medo de desagradar Stefano. Por isso mesmo, mais do que curiosidade, a presença dele despertara em Stefano uma faísca de antigo descontentamento — a lembrança do jogo de apostas, a suposição de trapaça. Era por isso que precisava de olhos atentos dentro daquela casa.

Seline entrou na sala de jantar com o peito comprimido por uma mistura de nervosismo e adestramento.

Seus cabelos castanhos escuro caiam em ondas discretas sobre os ombros; os olhos, de um castanho mais claro, Usava um vestido simples — porém bem cortado — de crepe verde esmeralda com cintura marcada e decote discreto; algo que traduzia elegância sem ostentação, fruto das rápidas lições que recebera. O tecido acompanhava seus movimentos com sobriedade, escondendo o tremor que ainda vinha do estômago.

Yarin e o marido a observaram com olhos que variavam entre admiração e desconfiança. Yarin, dona de um instinto herdado de Yonara — mãe sensível que sempre percebera quando alguém não estava bem — percebeu algo além da beleza superficial: havia medo profundo nos olhos de Seline, um medo que só quem conseguia notar claramente era a irmã de Stefano. Yarin não sabia dizer por que; apenas sentiu.

Yarin tem uma beleza admirável, de olhos verdes e cabelos lisos de um castanho escuro e sorriso fácil. Uma mulher doce, refinada e humilde. Nessa Noite está vestida com um longo vestido azul-escuro, e os seus cabelos estão presos num coque com poucas mechas soltas no seu rosto, como uma franja mediana.

A conversa à mesa fluiu entre temas polidos: negócios, lembranças de família, e elogios sutis ao gosto da casa. Seline tentou corresponder, mas o mundo girava em volta de um núcleo de ansiedade. Numa fração de segundo — talvez pela mão que tremeu, talvez pela garganta seca — sua taça de vinho escapou.

O líquido rubro se derramou, mordeu o tecido do vestido e escorreu em direção ao chão. A taça caiu, estilhaçando-se em fragmentos que cintilaram como pequenos cristais negros sob a luz.

Um silêncio cortante percorreu a mesa por um suspiro. Yarin levantou-se num impulso e aproximou-se, a expressão imediatamente tomada por preocupação.

_ Está tudo bem? — perguntou Yarin, a voz macia. _ Parece nervosa. Vem comigo, vou te ajudar com o vestido.

Stefano ergueu o olhar da cadeira, e por um instante seu olhar foi como o de uma águia pousando: direto, avaliador, e frio. Seline sentiu o pânico apertar o peito — temeu a ira do homem por ter chamado atenção, por ter quebrado a cena perfeita que ele tanto prezava. Cada passo até o lavabo foi uma prova.

No banheiro, o cheiro de sabonete e vapor envolveu-a como um manto. Yarin trouxe um vestido novo, pedido com antecedência à funcionária do closet — um gesto de quem queria proteger sem expor suas suspeitas. Enquanto Yarin a ajudava a secar o vinho do rosto e a ajeitar o novo tecido sobre o corpo, sua voz saiu baixa, quase maternal.

_ Está acontecendo alguma coisa? O meu irmão está te fazendo mal?

A pergunta era uma antena apontada para o coração dela. Seline sentiu todas as palavras que poderia dizer se enredarem numa corda fina. Pensamentos rápidos e aterradores invadiram-na: se errasse alguma coisa, se fosse descoberta, Stefano poderia puni-la. Ele poderia exigir mais. Ele poderia, no extremo, tirar-lhe a vida — assim ela pensou, e aquela ideia tornou-se uma lâmina fria na garganta.

Ela fixou os olhos claros de Yarin, e foi como se toda a proteção que nunca teve se comprimisse numa súplica silenciosa. Não era apenas um pedido — era um pedido de socorro. O brilho em seus olhos implorou por algo que as palavras não poderiam traduzir: ajuda, cuidado, salvação.

Yarin inclinou-se, encostou a mão na dela por um segundo — um gesto pequeno, mas cheio de calor humano. Pouco, talvez, para salvar uma vida; muito, certamente, para acender uma esperança. Seline sentiu, por um segundo, que poderia haver uma saída além das ordens e da prisão de seda.

Autora: Será que Seline vai contar a verdade para a irmã de Stefano? Leia mais para descobrir...

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Claudia

Claudia

Coitada da Seline♾🧿

2025-10-08

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Mariasilva1990 Silva

Mariasilva1990 Silva

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2025-10-07

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