O dia seguinte começou com a formalidade de sempre. Catarina e eu descemos juntos, impecáveis. Ela, em um vestido elegante que realçava sua postura de mulher poderosa. Eu, no meu terno sob medida, a frieza estampada no rosto como se fosse outra peça do traje. Casal perfeito, ao menos para as câmeras.
Seguimos para a cerimônia de posse no grupo Caligari. No escritório de meu pai, Dimitri, ele e minha mãe, Íris, já nos aguardavam. A expectativa estava no ar, mas antes de qualquer palavra sobre negócios, veio a cobrança.
— É hora de vocês terem um herdeiro — disse meu pai, sem rodeios.
Catarina e eu nos entreolhamos. Pensei em dizer que era cedo, que tínhamos tempo, mas, como sempre, ela foi mais rápida.
— Não se preocupem, sogros. Nós já estamos providenciando.
O sorriso se abriu no rosto de minha mãe, e meu pai pareceu satisfeito. Eles comemoraram a “novidade” como se fosse a confirmação de que todo o império estaria em boas mãos. Para eles, o herdeiro era a garantia da continuidade, da eternidade do nome Caligari.
Seguimos, então, para a cerimônia. Flashes, jornalistas, discursos. A imprensa inteira estava lá. Eu assinava documentos, cumprimentava empresários, e Catarina brilhava ao meu lado, como a peça fundamental da vitrine que havíamos construído. Tudo saiu como planejado. A imagem perfeita do novo chefe do grupo Caligari, acompanhado de sua bela esposa.
No final do dia, já em casa, a máscara do casal perfeito se desfez, como sempre. Na sala, encarei Catarina, sentado na poltrona enquanto ela retirava as joias diante do reflexo de uma parede de vidro .
— Que história era aquela de já estarmos providenciando um herdeiro? — perguntei, a voz fria, mas carregada de desconfiança.
Ela riu, sem me olhar diretamente.
— Você achou mesmo que nossos pais não iriam nos cobrar isso?
— Achei que pudéssemos segurar mais um pouco.
Ela se virou, cruzando os braços, firme.
— Eles não iriam te passar o comando de tudo sem ter isso como uma certeza, Niko. Mas fica tranquilo, já tenho tudo planejado. Você só vai precisar entrar com a sua parte do DNA.
Silêncio. Eu apenas a encarei, mas não havia espaço para discussões. Era típico de Catarina assumir o comando em situações como essa, como se o casamento fosse apenas mais um negócio que ela gerenciava com precisão.
Ela se levantou, pegando a bolsa.
— Agora eu preciso me arrumar. Estou indo para a casa da serra. Se alguém perguntar por mim, estou em um retiro espiritual, ok?
Assenti, sem questionar. Eu sabia muito bem que tipo de retiro era aquele. Catarina possuía uma casa na serra — luxuosa, discreta, perfeita para manter as aparências intactas. Ali, ela se encontrava com seu amante oficial, Rodrigo Ortis.
Fiquei sozinho no quarto, olhando a cidade pela parede de vidro. Casamento de fachada, família de fachada, herdeiros que seriam mais uma exigência do que fruto de algo real. Era isso que significava ser um Caligari: carregar o peso do nome, manter as aparências e, acima de tudo, nunca deixar ninguém ver as rachaduras por trás da perfeição.
E eu, como sempre, cumpria meu papel.
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Atualizado até capítulo 102
Comments
Mônica
Nao se preocupe, esse ace berg esta c os dias contados para se derreter.
2025-09-24
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