Passado que machuca

Tamires On

Horas antes da colação de gral...

Estava me arrumando quando batem a porta. Abro ainda receosa afinal não estou esperando ninguém e o porteiro não interfone avisando.

- Bom dia. A Senhorita deve ser Tamires Donavan.

Quando escuto meu nome meu coração gela. Sempre que escuto esse sobrenome meu coração sobressai do peito. Lembro que foi a única coisa seção que meus pais exigiram que manter após sua morte. Claro não mencionei, não sou órfã desde de que nasci, mas minha mãe estava muito doente te e me levou para o orfanato pois era somente nós duas. Eu não me lembro dela, afinal não tinha nem uma ano quando ela faleceu. Meu pai nunca me procurou no orfanato e eu nunca soube nada dele. Minha mãe somente pediram as madre que a família que me adotasse não tirasse meu sobrenome. O porque eu nem sei. Pois ela não tinha esse sobrenome. E quanto a me adotarem, esquece ninguém nunca me quis, via todos irem para algum lar e eu sempre ficava.

Mas de volta a realidade eu respondo o homem a minha frente.

- Sou eu mesma.

Já respondo com receio do que vem pela frente.

- Senhorita viemos lhe entregar a ordem de desocupação do imóvel. Infelizmente os verdadeiros donos requereu diante a justiça a posse do imóvel. O irmão da madre Tarcilia pediu e a justiça autorizou.

Meu mundo desabou com aquelas palavras. Sempre soube do tal irmão porém ele jamais apareceu. Quando a madre me deixou o apartamento não tivemos tempo de arrumar os documentos. Ela adoeceu e veio a falecer, a única coisa que tenho de prova que não invadi o imóvel é uma carta que ela fala que me deixa o imóvel e uma quantia em dinheiro no cofre para me ajudar até me estabelecer por completo. Essa história só uma pessoa sabe e claro que ele usou minhas conversas com ele pra se vingar de mim.

Fico atordoada e logo pego os papéis e assino.

- Tudo bem. Qual o prazo de desocupação?

- Hoje a 00:00hs.

Claro que aquele canalha pensou em tudo, ele sabia que hoje seria um dia grandioso para mim.

Fechei a porta e sentei no chão.

💭Seja forte Tamires. Seja forte. Lembre-se que você é o contato de emergência de alguém que te chama de mamãe.

Com esse pensamento sequei minhas lágrimas.

Levantei e comecei a arrumar minhas coisas pessoais numa mala. Eram poucas e desse apartamento só poderei tirar isso, somente itens de uso pessoal. Pedi dona Tânia pra arrumar as coisas de Maximiliano e expliquei minha situação pra ela. Dona Tânia me ajuda muito com Maximiliano. Sim Max e meu filho. Nunca foi fácil mais sempre estou presente na vida dele. Me dediquei a trabalhar e estudar para dar um futuro e ensinar meu filho a ser um bom homem. Meu menino e meu mundo e por ele eu já passei por muito e agora será somente mais uma batalha, afinal ser mãe solteira não é fácil.

Depois de arrumar tudo fui me arrumar pra ir para o evento de colação de grau.

Quando em fim eu realizo meu sonho de gradua em direito penal sou jogada na lama e sem saber o que fazer para me reerguer mais uma vez, só que dessa vez não sou só eu. Mas é isso, não posso pensar muito.

Estou pronta quando escuto Maximiliano me chamar.

- Mãe você está maravilhosa. Queria tanto ir com você.

Ele me elogia já fazendo aquela cara ja pedindo pra ir comigo. Sei que no fundo é apenas ciúme. Pensa num rapazinho ciumento. Daqui dois meses ele completa 12 anos, mas ninguém acredita na idade dele. Ele é alto e gosta de malhar. Lindo igual ao pai e determinado como a mãe.

Queria ele comigo, mas não posso levar. Até porque será breve minha ida e eu preservo sua imagem.

- Obrigada meu amor. Eu vou e volto logo para ir para o hotel.

O beijo e saio.

Já no evento eu vejo aquele que jamais imaginei ver outra vez. O homem que me fez amar é me destruiu como mulher. Mesmo após quase 12 anos eu ainda não esqueço a forma como ele sumiu da minha vida e principalmente como eu o amei. E aqui está ele...

"Ramon"

Sim o Ramon foi o meu único e grande amor. Conheci ele em uma reunião do campus assim que fiz meus 18 anos, depois disso eu o via todos os dias por lá. Ele cursava direito e estava alguns anos a frente. Tinha acabado de sair do orfanato e estava recomeçando minha vida. Nos namoramos por 3 meses e após um jantar romântico ele me levou para um apartamento e tivemos nossa noite de amor. Ele me tirou a virgindade com o maior carinho do mundo, me senti especial. Ficamos a noite toda juntos e fizemos amor, tomamos café da manhã e ele todo carinhoso comigo.

Isso era um sábado e no domingo passei o dia com a madre. Mesmo com muita vergonha contei a ela tudo que havia acontecido na noite, tudo não. Nada de detalhes mais me abri com ela. Ela ficou super chateada pois só depois tendo nossa conversa foi que lembrei que não nos prevenimos. Mais mesmo assim ela me abraçou e disse que tudo ficaria bem e que o rapaz deveria me amar, afinal não é qualquer um que faria oque ele fez.

Na segunda fui cedo para a faculdade como sempre faço porém achei estranho não o ver. No outro dia a mesma coisa é noutro e no outro.

Por fim desisti de procurar por ele. Por motivos financeiros tive que trocar de universidade. Pois ganhei uma bolsa em uma universidade melhor porém pagaria menos que na outra. Por um lado achei até melhor pois assim não ficaria lembrando dos momentos que vivemos naquele lugar.

Meses se passaram e descobri a gravidez de Max.  Já estava com quatro meses quando num exame deu beta HCG POSITIVO. Foi uma felicidade e um choque, mas naquele momento soube que jamais estaria sozinha novamente.

E agora depois de 11 anos estamos aqui frente a frente novamente. Por mais que o Rio de Janeiro seja grande nunca pensei que iria ver ele novamente e aqui está ele ao meu lado no meu dia mais especial. O choque de ver ele me fez paralisar e eu aceitei sua gentileza, mais quando sua irmã Camila nos apresentou eu fiquei em choque em como o mundo é pequeno. Minha melhor amiga é na verdade e a irmã do meu ex grande amor e tia do meu rapazinho.

Tudo poderia ser perfeito se nosso passado não me machucasse tanto como machucou.

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