03— Verdades

A leste da mansão estava tomada por silêncio e tensão. Apenas o som dos aparelhos preenchia o ambiente.

— Avô... — murmurou, olhando para o homem deitado na cama hospitalar.

O esforço de Dom Enrique era visível, mesmo assim, os olhos dele ainda tinham a intensidade que o mundo aprendeu a temer.

— Fernando… você… veio...

— Claro que sim. Eu estou aqui.

O velho tentou esboçar um sorriso, mas foi apenas uma contração involuntária no canto da boca. Um médico se aproximou, observou os sinais vitais, depois se afastou em silêncio. Todos sabiam que o tempo era curto.

— Você… precisa ser forte...— sussurrou o homem, com dificuldade.

Fernando segurou a mão ossuda do avô, sentindo a pele gelada. Como um filme, relembrou quando saiu da presença do avô e batido a porta sem olhar para trás…

— Ainda podemos conversar. Pode se recuperar… tem médicos aqui, tudo ficará bem…

Don Enrique fechou os olhos por um momento, como se buscasse forças no fundo de si. Quando voltou a abri-los, o brilho já estava mais fraco.

— Eu vi você crescer...ser moldado... para este momento. Não jogue tudo por uma mulher. A família...sempre em...primeiro...

As últimas palavras saíram com esforço.

— Avô?— Fernando aproximou-se mais.— Avô, estou aqui. Fica comigo. Não se vá agora...

Mas era tarde.

O som continuo e agudo do monitor cardíaco cortou o silêncio da sala com uma lâmina.

Don Enrique López havia partida.

Fernando sentiu as pernas falharem. Porcum instante, tudo gerou. A mão do avô ainda estava na sua, mas o calor havia ido embora. Ele abaixou a cabeça, e lágrimas, que ele se recusava a derramar desde a morte dos pais, finalmente escaparam.

Não por saudade apenas, mas por tudo que ficou por dizer. Por tudo o que nunca foi entendido entre eles.

O corpo de Don Enrique López foi velado na própria mansão, como era a tradição…

Uma multidão silenciosa passou pelo saguão principal decorado com flores brancas e o caixão envernizado ao centro. Políticos, empresários, líderes de outras famílias...

Todos vinham prestar homenagens ao homem que por décadas, foi temido e respeitado em igual medida.

Fernando permaneceu todo o tempo ao lado do corpo, de pé, em silêncio. Os irmãos e a sua avó, a matriarca da família, se dividiam entre ficar ao lado do caixão e circular entre os convidados, recebendo os pêsames.

Valéria García... Valéria era o oposto de Elena, que estava presente, discreta, sentada ao lado do pai, Arturo Gutiérrez. Vestida toda de preto e com os olhos baixos, aos 20 anos, era uma jovem moldada para o casamento.

Já a namorada de Fernando López, estava radiante em sua dor contida. Cumprimentava pessoas importantes com a naturalidade de uma primeira-dama. Nos bastidores, já era tratada como a futura esposa do novo chefe da organização. falava com firmeza, sorria com elegância, como se já pertencesse àquela posição. Parecia enfim, em seu habitat.

Fernando observava tudo, em silêncio, amarrado em sua dor.

Na manhã seguinte ao enterro Maria Del Pilar chamou o Raul, o secretário pessoal do falecido marido.

— Quando Fernando acordar, traga-o para mim.

A matriarca estava na biblioteca com uma xícara de chá calmante nas mãos, o rosto abatido, quando Fernando fechou a porta atrás de si, a vó fez sinal para que ele sentasse à sua frente.

— Ele te amava, sabe disso não é?— disse ela, quebrando o silêncio.

Fernando assentiu, com leve movimento de cabeça.

— Á maneira dele.— respondeu ele, num murmúrio.

Maria Del Pilar observou o neto por um longo tempo antes de falar:

— Ainda não é hora de decidir nada. Os conselheiros esperam para saber como será o futuro da organização.

— Eu já abdiquei da liderança...

— Shh...deixa de ser "esquentado". Sabe que Alejandro não serve para ser o chefe, não está pronto e nem deseja isso.

— Não me casarei com a filha dos Gutiérrez!

A matriarca respirou fundo, depois disse com firmeza:

— Quero que fale com Valéria. Diga a ela que não vai assumir a liderança. Seja firme. Quero que veja com seus próprios olhos o que ela faz com essa informação.

— Avó, Isso é...

— Um teste. — interrompeu ela— Preciso que você saiba, de uma vez por todas, com quem está lhe dando. Seu avô tentou te alertar até o fim, agora é a sua vez de ver por si mesmo.

Fernando ficou em silêncio.

Parte dele já sabia a resposta, masparte ainda queria se agarrar a alguma esperança.

Dois dias após o enterro, Fernando saiu da mansão e foi até o apartamento luxuoso onde ele mantinha Valéria, o mesmo apartamento onde tantas vezes se desentenderam, mas também se reconciliaram.

Ele a amava desde sempre e ela também o amava, ele tinha certeza disso, mas ao vê-la tomando champanhe no meio da tarde, fez com que ele acatasse o pedido da sua avó.

Valéria levantou-se do sofá e foi até ele, animada, com um vestido justo, salto alto e o mesmo perfume que ele sempre achou doce demais.

— Pensei que viesse antes.— disse ela, manhosa, dando um leve beijo nele.

Fernando não retribuiu. Sentaram-se no sofá. Ele manteve o tom controlado.

— Os conselheiros irão reunir-se nos próximos dias. Mas eu já tomei a minha decisão.

Valéria inclinou-se para frente, interessada.

— E qual é?

Ele respirou fundo, no íntimo tinha medo de se decepcionar.

— Não ficarei com a liderança. Não quero seguir esse caminho. Vou me afastar dos negócios da família de vez.

O sorriso dela congelou no rosto. Os olhos brilharam por um instante... Não de emoção incredulidade.

— Como assim? Você... está brincando?

— Não. É definitivo. Vovó irá assumir até que Alejandro esteja pronto. Quero outra vida. Sem envolvimento com organização. Uma vida só nossa, simples e verdadeira.

Valéria Garcia levantou-se, andando até a janela como da última vez. Mas agora não era por contemplação, era pânico disfarçado.

Você quer que eu viva com você como... como o quê? Um homem comum? Longe de tudo?

— Nós nos amamos, isso basta...

Ela não respondeu de imediato, mas quando Fernando aproximou-se, tentando envolvê-la num abraço, ela afastou-se dele.

— Obrigada por ser tão esclarecedor. — ela disse com zombaria— Agora saia. Preciso pensar... Volte amanhã.

Fernando sentiu que perderia o chão. A sua avó não poderia estar certa. Tinha a certeza de que a namorada apenas estava nervosa... Talvez estivesse naqueles dias...

Ele apenas beijou a sua testa carinhosamente e saiu, voltaria no outro dia e tudo se resolveria...

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Comments

Mavia Dantas

Mavia Dantas

iiiiiiiií Fernando perdeu a mulher /Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm/ ela nunca te quis ela queria o poder que voce tinham /Awkward/

2025-08-28

0

Maria Aparecida

Maria Aparecida

já tô com raiva, não demora tá p mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais

2025-08-28

2

Celia Aparecida

Celia Aparecida

é uma tppeira que não inchegar um palmo na frente do nariz

2025-08-28

1

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