Abri a porta e saí de casa, caminhando sem rumo para qualquer lugar, me sentindo miserável.
Meu apartamento ficava a mais ou menos uma hora e meia daqui, então pegar um táxi agora sairia muito caro. Eu precisava falar com a Aurora para vir me buscar, mas ela provavelmente ainda estava no desfile.
Eu não conseguia processar tudo… quanto mais pensava, mais meu coração doía. Só queria esquecer.
Minhas pernas já tremiam de tanto andar, então entrei no primeiro bar que vi. Só depois percebi que na verdade, aquilo era um hotel.
Não me importei e fui direto para a parte do bar, sentando no banco alto. Eu só precisava esquecer tudo e relaxar, então pedi uma vodka, parecia ser o mais barato do cardápio.
Não sei quantos tragos já tinha tomado quando meu celular tocou. Era a Aurora.
“Aurora… tô num hotel perto da minha casa” falei, sentindo minha língua enrolada. “Você pode vir me buscar?”
“Que hotel?” a voz dela vinha com muito barulho ao fundo. “Me manda sua localização, por favor. E me diz: que diabos aconteceu? Por que você tá bêbada num hotel?”
Só de lembrar o motivo de estar ali afogando minhas mágoas, comecei a chorar de novo.
“Dói...muito.” murmurei, soluçando.
“Você tá bem?”
“Não! Ele engravidou minha irmã” soltei, a voz embargada. “O Kevin tava me traindo com a minha irmã, e sabe qual é a pior parte? Ele me deu um maldito anel de noivado, dizendo que a gente ia se casar… enquanto transava com ela!”
Olhei para o anel que ainda estava no meu dedo e não consegui parar de soluçar no telefone.
Quão cara de pau ele podia ser? Acho que nunca o conheci de verdade.
Quando Aurora não respondeu, franzi o cenho.
“Alô?” murmurei.
Olhei para o celular e estreitei os olhos ao ver que tinha desligado, a bateria acabou.
Ah, ótimo… era só o que faltava.
Agora eu nem sabia como ia dizer para Aurora onde eu estava.
“Oi” um cara se sentou no banco ao meu lado. “Posso te oferecer uma bebida?”
“Não, não quero beber mais. Não tá vendo que eu tô bêbada?” respondi, ofendida. E depois murmurei: “Você tem um celular para me emprestar?”
“Vem” ele disse, ignorando minha pergunta, e empurrou uma taça na minha direção. “Bebe isso.”
O líquido tinha umas bolhas estranhas, e mesmo bêbada eu percebi que não eram normais. Aposto que ele tinha colocado alguma coisa ali. Não sou idiota.
“Não quero” retruquei, tentando me afastar, mas ele me segurou pela cintura.
“Bebe” insistiu.
“Não! Me deixa em paz!” falei, mas de repente ele estava mais perto, o rosto colado no meu pescoço.
“Vem...” insistiu de novo, resistindo quando tentei empurrá-lo. O álcool me deixava fraca.
“Tá tudo bem aqui?” a voz grave de um homem atrás de nós nos fez virar. Aproveitei a distração do sujeito para descer do banco e correr até o segurança enorme que estava por perto.
“Esse louco tentou me drogar! Tira ele daqui!” falei ao segurança.
O homem fez um sinal e dois outros pegaram o sujeito pelos braços, arrastando-o para fora. Respirei aliviada, mas minha cabeça ainda girava.
“Obrigada, moço” falei, sentindo que estava prestes a cair. “Eu só… preciso fazer uma ligação… você tem um tele…”
Me desequilibrei para frente e ele me segurou rapidamente nos braços. Nossa… ele era forte.
“Meu telefone tá no meu quarto” disse ele. “Não vou te fazer nada. Você pode esperar lá, vai estar segura.”
Tentei me afastar, mas não conseguia me manter de pé. Ele era como uma muralha de músculos sob aquele terno elegante.
Ele me ajudou a entrar no elevador e, em seguida, me levou até o último andar. Fiquei surpresa ao entrar no quarto enorme, com uma vista incrível da cidade.
O segurança estava hospedado na suíte presidencial? Eu estava confusa… mas, de algum jeito, aquilo fazia sentido.
“Obrigada, senhor segurança” murmurei, sentindo minha língua enrolada. “Você é muito gentil.”
“Não sou” murmurou ele. “O segurança.”
Arregalei os olhos, confusa, e cutuquei o peito dele com o dedo.
“Ah… devo me preocupar, então?” perguntei, mas curiosamente não me sentia em perigo. Comecei a me equilibrar melhor e andei um pouco pelo quarto, ainda meio cambaleante.
“Não” respondeu ele. “Na verdade, o que sinto por você agora é pena.”
Me olhei no espelho e levei um susto.
A maquiagem tinha escorrido horrivelmente por todo o meu rosto, como se fosse uma máscara grotesca, e meu cabelo… parecia que um bando de pássaros tinha acabado de atacá-lo.
“O telefone está carregando, você pode usar quando quiser…” ele começou a dizer, mas eu nem prestei atenção.
Droga… eu estava horrível!
“Vou tomar um banho” murmurei.
Então, cambaleante como estava, entrei no banheiro.
Na minha cabeça bêbada, aquilo fazia todo o sentido do mundo. Tirei o vestido e entrei no chuveiro frio.
Lavei o cabelo, tirei a maquiagem com o sabonete e, ao sair, escovei os dentes com uma das escovas novas que encontrei ali. Vesti o mesmo vestido de antes e saí do banheiro secando o cabelo com a toalha… até que, de repente, fiquei completamente imóvel.
O homem que me havia trazido estava sentado na beira da cama, com os braços cruzados. Só agora percebi que, na verdade, ainda não tinha visto seu rosto direito. Ele havia trocado de roupa: agora usava uma camisa branca que deixava à mostra as tatuagens em seus braços musculosos e uma calça esportiva preta. O cabelo escuro estava solto, caindo um pouco acima dos ombros. E os olhos… havia algo neles que hipnotizava. Aquele homem era tão bonito que parecia irreal, como um deus.
Ou seria apenas meu estado ainda meio embriagado distorcendo a realidade?
Eu não conseguia desviar o olhar dele e percebi que minha boca estava entreaberta, tamanha era minha surpresa.
Ele me observava atentamente, provavelmente achando diferente me ver sem uma gota de maquiagem, depois de me encarar com o rosto todo borrado de preto antes.
“Você parece com…” comecei a dizer, estreitando os olhos “alguém que eu já vi, mas não sei onde. Nos meus sonhos?”
Notei o canto dos lábios dele se curvar levemente. Ele me parecia estranhamente familiar, mas meu cérebro, ainda anestesiado pelo álcool, não encontrava a resposta.
“Meu celular está ali para você fazer a sua ligação” disse, indicando com o queixo um ponto próximo à janela “Posso também chamar um Uber, se quiser.”
“Não tenho dinheiro” admiti, sentindo a vergonha me queimar.
“Eu pago” ofereceu.
Eu ri.
Que irônico… meu ex nunca se ofereceu para me pagar um táxi, um Uber, nem mesmo a passagem de ônibus. Já para minha irmã, ele teria pago sem hesitar.
Eu achava que tínhamos perdido a virgindade juntos, que o nosso relacionamento era exclusivo e para sempre. Ele era um mentiroso completo.
Meu peito ardia. Ardia de raiva, de dor.
Balancei a cabeça. Não queria mais pensar neles.
Não quando eu estava no céu… e na frente de um anjo.
“Descobri hoje que meu namorado me traiu com a minha irmã. E ela está grávida” contei, me aproximando dele. A vontade de tocá-lo, de confirmar que era real, começava a me dominar.
De repente, eu não queria mais ir embora. Queria ficar ali, com o deus que me havia encontrado, conversar para me distrair, transformar aquele dia caótico em algo… um pouco melhor.
Deixei a toalha de lado e me sentei em seu colo, de forma descarada, posicionando uma perna de cada lado de seus quadris.
Meu vestido subiu um pouco sobre minhas coxas enquanto minhas mãos deslizavam pelos braços dele e, em seguida, subiam até tocar seu rosto.
Era real.
“O que você acha que está fazendo?” ele perguntou, franzindo o cenho. Suas mãos prenderam meus pulsos e senti o calor me inundar com a força que ele exerceu.
“Não vou viver esse luto de forma miserável” declarei, com a certeza de que ele sabia exatamente qual era o meu objetivo.
“Menina…” ele balançou a cabeça “você está muito bêbada.”
“Seja minha cura por esta noite” aproximei minha boca da dele “me cura.”
“Você tem certeza disso?” perguntou, seus olhos profundos buscando os meus. Mas eu os fechei. Eu só queria vingança, queria me consumir em outra pele.
“Amanhã a gente esquece…” prometi.
“Menina… você não me conhece” murmurou.
“Não precisamos nos conhecer” respondi “Só quero parar de ter fidelidade ao meu ex. Não quero que ele seja o único a ter tocado meu corpo. Eu só quero vingança.”
Comecei a me mover sobre ele e, quando pressionei minha boca contra a dele, ele não me afastou. Ainda assim, num movimento inesperado, me jogou na cama, me deixando sem fôlego, enquanto se inclinava sobre mim e mantinha meus pulsos presos. Seus olhos azuis, agora mais escuros, pareciam brilhar na penumbra quando murmurou:
“Menina...eu gosto de ser bruto. Essa é sua última chance de ir embora.”
Aquelas palavras deveriam ter me feito recuar e sair daquele quarto… mas eu não o fiz.
Engoli seco e murmurei:
“Não para.”
E seus lábios se esticaram em um sorriso perigoso.
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Atualizado até capítulo 43
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