Capítulo 3

— Precisa de alguma coisa? — chamou Iker, chamando minha atenção.

O homem encarregado era de estatura mediana, um pouco robusto e com um sotaque nortista.

— Não sei... eu... não me ocorre o que poderia precisar. Acabei de chegar.

Examinou-me com o olhar, avaliando cada detalhe.

— Que tamanho usa?

— Tamanho?

— De roupa. Começaremos por isso. O amo pediu-me para te atender bem.

"Atender-me bem"? Nem que fosse alguém importante! Ou será?

— Tamanho pequeno.

— Número de sapatos?

— Quatro.

— Perfeito. Irei ao centro comercial.

— Vai já agora?

— Sim.

— Mas...

— Tranquilo! Um dos guardas ficará de vigia. Tu só cuida do Nicolás. Ele ainda não tomou café da manhã; talvez não queira descer ao refeitório, então leve a comida para ele.

Cuidar do Nicolás? Do que o tinham operado? O tipo parecia não precisar de ninguém, e sua atitude me provocava repulsa. Esse foi meu primeiro estereótipo sobre ele!

— De acordo. Verei o que posso fazer com o tal Nicolás.

Notei um gesto curioso no rosto de Iker. No final, assentiu sorrindo.

— Seu quarto está no andar de cima, ao lado do de Nicolás.

— Genial. Obrigado por me dizer.

— Regresso em breve. Se precisar de algo, pode chamar-me.

— Ah, mas não tenho seu número e nem celular.

Surpreendeu-se.

— Jura que não tem celular?

— Sim. Não tenho celular.

Pareceu incrédulo.

— Bom, conseguirei um para você. Não temos telefone fixo na casa, mas isso é o de menos!

— Acha que não haverá problema em me comprar um celular?

— Claro que não há problema. Enquanto isso, sinta-se bem-vindo nesta casa.

Iker foi-se segundos depois. Ouvi o portão abrir, a caminhonete arrancar e fechar. Fiquei sozinho na sala! Senti-me estranho, completamente deslocado.

Dentro da casa reinava um silêncio profundo. Deixei minha mochila em um sofá, fui à cozinha, lavei as mãos e dirigi-me a subir o café da manhã para Nicolás. Não tinha outra opção!

Ovos mexidos com chouriço, tortilhas quentes, um termo com café e pão. Parecia delicioso! Quem me dera poder tomar café da manhã assim todos os dias.

Peguei a bandeja e subi as escadas. Como era possível que já estivesse de moço, se esta manhã ainda cortava milho na plantação? Droga! A vida se movia depressa demais comigo.

Meu coração batia forte, quase podia ouvi-lo em alto-falante. Raios! Parei antes de entrar, respirei fundo, contei até três e obriguei-me a seguir. Devia ser decidido: o tal Nicolás precisava da minha ajuda.

Entrei no quarto dele.

— É hora do café da manhã! — tentei soar animado.

Nicolás continuava encostado na janela, desfrutando do ar. Suas costas me incomodavam, seu silêncio era irritante. Macaco convencido!

— Quem é você? — perguntou finalmente.

— Meu nome é Bruno. Muito prazer!

— Bruno?

— Sim. Estou aqui para cuidar de você. Isso me disseram seus pais.

Pareceu rir levemente. Por quê?

Continuava de costas, e notei um nó de tecido cor de café em sua nuca. Segurei a bandeja com a comida, tentando não hesitar.

— Você é o novo moço.

— Não. Só vim fazer companhia e cuidar de você.

— Como poderia cuidar de mim?

— Por enquanto, trouxe o café da manhã. Está com fome? Iker me disse que ainda não...

— Por que não me trata por você?

Sua pergunta me desconcertou. Tratá-lo por você? Nem que fosse velho!

— Não é um velhote. Já sabe... — respondi rápido —. A única coisa de velhote que poderia ter é esse caráter amargurado.

— Amargurado?

— Essa é a impressão que me dá.

— Eu não sou amargurado. Sou a alma da festa!

— Também sinto que é um pouco convencido.

Ficou em silêncio uns segundos. Incomodou-o minha sinceridade?

— Feche os olhos e não diga nada — ordenou.

Fechar os olhos? Calar-me? Não tinha sentido!

— Mas...

— Cale-se e feche os olhos — foi mais autoritário.

— Não. Eu não vou fazer isso!

— Tente caminhar até a janela com os olhos fechados. Assim poderia cuidar de mim agora.

Cuidar dele com os olhos fechados? Estava louco!

— Está bem? — perguntei, sem disfarçar meu assombro.

— Não muito bem. Vai me obedecer ou não?

Supus que não perdia nada tentando.

— Está bem. Tentarei.

Pus a bandeja sobre a cama, suspirei e fechei os olhos. Tudo tornou-se escuro, e comecei a girar em direção à janela. Avancei lentamente, com as mãos à frente.

— Já chegou à janela? — parecia ansioso.

— Quase... talvez já quase cheguei.

— De verdade fechou os olhos?

Choquei com algo, usei as mãos para apalpar e senti a borda da janela; meu braço direito roçou seu braço esquerdo.

— Sim. Tenho-os fechados.

— Está me mentindo?

— Não. Por que mentiria?

O vento bateu em nossos rostos. Era agradável.

— Pegue minha mão e leve-a até seu rosto.

Seu pedido me desconcertou.

— Pegar sua mão?

— Não tenha medo, eu também estou me acostumando com isso.

Acostumar-se a quê?

Procurei sua mão, e ao tocá-la senti calor. Levei-a até meu rosto, e o contato me fez sentir... estranho.

Ele começou a apalpar meu rosto suavemente, com um tato que me provocou sensações que não esperava.

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