A manhã começou com um brilho suave atravessando a cortina fina do quarto de Júlia. O sol entrava com delicadeza, aquecendo a atmosfera e desenhando sombras douradas pelo chão. Ela abriu os olhos lentamente, ainda com a memória da noite anterior fresca em sua mente. Gabriel estava lá, de algum modo permanecendo presente mesmo após ter partido. O sorriso dele, a maneira como segurou sua mão, a voz baixa mas firme, tudo parecia dançar na memória de Júlia, criando um misto de conforto e inquietação. Era estranho, pensou, sentir-se tão segura e ao mesmo tempo tão vulnerável.
No quarto ao lado, sua filha já estava acordada, o que fez Júlia suspirar de alívio e felicidade. A menina sempre estivera com ela, e aquela constância era uma das poucas certezas de sua vida. Seu vínculo com a filha era algo que ninguém poderia substituir — um amor puro, que a sustentava em qualquer momento de dúvida ou solidão.
— Bom dia, mamãe! — disse a filha, correndo para abraçá-la.
— Bom dia, meu amor — respondeu Júlia, sorrindo com genuína ternura e envolvendo a menina em um abraço demorado. Ela inalou profundamente, sentindo o cheiro doce do cabelo da filha, o calor do corpo pequeno contra o seu, e o conforto que só aquele abraço podia proporcionar.
Enquanto preparavam o café da manhã, Júlia não conseguia evitar pensar em Gabriel. Havia algo nele que a atraía de forma quase magnética. Não era apenas a aparência ou o charme; era a maneira como ele parecia compreender suas emoções sem exigir explicações, a paciência que demonstrava, e o cuidado que se percebia em cada gesto. Era raro encontrar alguém assim, e Júlia sabia que precisaria se permitir sentir, explorar aquilo com cautela, mas também com coragem.
A filha de Júlia, percebendo a distração da mãe, começou a contar histórias de suas bonecas. Inventava vozes, situações e pequenos dramas, e Júlia ouvia atentamente, rindo das ideias absurdas e da criatividade da menina. Ela percebeu, naquele instante, como a presença constante da filha tornava sua vida mais rica, mesmo diante de desafios e responsabilidades diárias. Cada risada, cada comentário inesperado era uma lembrança do que realmente importava.
Após o café, decidiram ir ao parque. A filha corria à frente, rindo sem se preocupar com nada, enquanto Júlia caminhava mais devagar, observando cada movimento. Ver sua filha feliz era uma prioridade que guiava todas as suas decisões, mas agora também havia Gabriel em seus pensamentos — uma presença que fazia seu coração bater mais rápido, despertando emoções que ela não sentia há muito tempo.
Enquanto caminhavam, Júlia refletia sobre os próximos passos em relação a Gabriel. Encontrá-lo novamente significaria abrir seu coração, lidar com medos antigos, e ainda manter sua rotina como mãe. Mas a ideia de não se permitir viver algo que parecia tão verdadeiro era ainda mais assustadora. Havia riscos, sem dúvida, mas também havia uma possibilidade de felicidade que não podia ignorar.
No parque, sentaram-se em um banco enquanto a filha corria para brincar com outras crianças. Júlia recebeu uma mensagem de Gabriel: ele sugeria um passeio leve no fim de semana, algo tranquilo, sem pressa, apenas para conversarem e se conhecerem melhor. O coração de Júlia disparou. Ela sentiu excitação e ansiedade, mas acima de tudo, uma vontade crescente de aceitar o convite. Era o primeiro passo concreto para permitir que Gabriel fizesse parte de sua vida de forma mais presente.
Enquanto observava sua filha brincar, Júlia começou a imaginar pequenos cenários. Como seria apresentar Gabriel à menina? Como seriam os domingos juntos, entre risadas, passeios e refeições simples? Como poderiam compartilhar momentos que fossem significativos para todos, sem forçar situações ou criar expectativas irreais? Cada pensamento era um misto de preocupação e esperança, mas predominava a sensação de possibilidade.
O tempo passou rápido. Voltaram para casa e Júlia começou a organizar algumas tarefas domésticas, enquanto a filha ajudava alegremente. Ela percebeu que, apesar de tudo, sua rotina não precisava ser interrompida por sentimentos novos. Pelo contrário: era possível conciliar o amor pela filha com a possibilidade de amar novamente, de se abrir para alguém que a respeitasse e a compreendesse.
Durante o preparo do jantar, Júlia refletiu mais uma vez sobre Gabriel. As lembranças da noite anterior — o sorriso, o toque, a maneira como ele a olhava — permaneciam vívidas. Sentiu que não se tratava apenas de atração ou curiosidade; era algo mais profundo, algo que despertava esperança e, ao mesmo tempo, medo. Era o medo do desconhecido, do que poderia acontecer se ela se permitisse confiar completamente.
Quando finalmente a filha adormeceu, Júlia se sentou no sofá, abraçando um travesseiro. O silêncio da casa contrastava com a intensidade dos pensamentos em sua mente. Gabriel não era apenas alguém que cruzara seu caminho; ele estava começando a se tornar uma presença concreta, que podia trazer algo significativo à sua vida. O simples fato de imaginar pequenos momentos compartilhados com ele já fazia seu coração acelerar, mas também a deixava cautelosa.
Ela começou a planejar mentalmente como seria o encontro com Gabriel no fim de semana. Pensava em roupas, lugares, horários, mas também em como se comportaria diante dele, como poderia equilibrar suas emoções e expectativas. Cada detalhe era uma estratégia silenciosa para que tudo corresse da melhor forma possível, sem perder a naturalidade e a leveza que ela tanto prezava.
Mais tarde, Júlia enviou uma mensagem para Gabriel apenas para desejar boa noite. Ele respondeu com carinho, compartilhando pensamentos do dia e pequenas brincadeiras. A conversa fluiu de maneira natural, como se já se conhecessem há muito tempo. Júlia sorriu sozinha no sofá, percebendo que a conexão entre eles estava crescendo de maneira orgânica, sem pressa, mas com intensidade.
Ela refletiu sobre sua vida, sobre sua filha e sobre como estava pronta para permitir que Gabriel fizesse parte desse mundo. Não era apenas sobre romance; era sobre construir algo que pudesse coexistir com sua rotina, com suas responsabilidades e com o amor incondicional que já sentia por sua filha. Era sobre equilibrar, com cuidado, coragem e sensibilidade, todas as partes de sua vida.
Enquanto se preparava para dormir, Júlia sentiu um misto de tranquilidade e expectativa. Sabia que o caminho à frente não seria simples, mas estava certa de que queria trilhá-lo. Gabriel despertara algo dentro dela que não estava disposta a ignorar, e isso trazia esperança e coragem.
E assim, naquela noite silenciosa, Júlia se permitiu sonhar. Sonhar com risadas compartilhadas, conversas longas, passeios tranquilos, e até mesmo com os desafios que poderiam surgir. Ela se sentia preparada para enfrentar tudo isso, porque finalmente havia uma certeza crescente: a felicidade podia ser construída, e talvez estivesse mais próxima do que ela imaginava.
Na manhã seguinte, Júlia acordou com a sensação de que algo estava mudando dentro dela. A rotina diária continuava, mas havia um brilho novo em seus olhos, uma leveza na maneira como caminhava, na forma como interagia com sua filha, na forma como se permitia sorrir sozinha ao lembrar de Gabriel. Ela sabia que o encontro no fim de semana poderia definir muito do que viria, mas também estava pronta para deixar acontecer de forma natural, sem pressa, sem pressão.
E, naquela mistura de expectativa e serenidade, Júlia entendeu que a vida era feita de momentos simples que, quando vividos com atenção e amor, podiam se tornar extraordinários. Gabriel era parte desse novo capítulo, mas sua filha continuaria sendo seu centro, seu alicerce. Tudo podia coexistir: amor, cuidado, esperança e a possibilidade de felicidade.
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Atualizado até capítulo 28
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