14 de julho. O inverno já se acomodara na cidade como um velho morador que não tem pressa de ir embora. O céu estava de um cinza carregado, pesado como se pudesse despencar a qualquer instante. O vento frio percorria as ruas, assobiando entre os becos e carregando o cheiro de lenha queimada de alguma casa próxima. Havia algo de melancólico naquela tarde — talvez fosse o silêncio cortado apenas pelo ranger das árvores secas ou pelo ruído distante de um cachorro latindo.
O relógio da praça marcava 15h17 quando ela empurrou a porta de madeira de uma pequena cafeteria no centro, apenas para fugir do frio que parecia atravessar o casaco e morder sua pele. O sino preso acima da porta tilintou, anunciando sua chegada, e um calor acolhedor a envolveu de imediato. O contraste era quase doloroso — sair da rua gelada para um ambiente com ar de baunilha e canela.
O lugar era iluminado por luzes amarelas, suaves, e cada mesa tinha um pequeno vaso com flores secas. As paredes, forradas de madeira escura, pareciam absorver qualquer resquício de pressa do mundo lá fora. Escolheu uma mesa próxima à janela, onde a luz fria do dia entrava tímida, criando sombras macias sobre a toalha xadrez.
Sentou-se e pediu um chocolate quente, o tipo que vem com espuma cremosa e um leve toque de baunilha no topo. Enquanto esperava, passava o dedo pelo vidro embaçado, traçando formas aleatórias. Lá fora, as pessoas passavam apressadas, algumas segurando guarda-chuvas, outras apenas encolhendo os ombros como se quisessem se proteger do vento.
Então, a porta se abriu mais uma vez, deixando entrar um sopro de ar gelado. Ela levantou os olhos por instinto e viu um homem entrar, sacudindo o casaco para se livrar das pequenas gotas de chuva fina que começara a cair. Ele tinha o olhar sério, mas não severo, e parecia procurar um lugar para se sentar. Seus cabelos escuros estavam levemente úmidos, e havia um certo cansaço na maneira como ele carregava os ombros.
Por um instante, ela não conseguiu desviar o olhar. Não era atração imediata, tampouco reconhecimento — era algo mais sutil, quase imperceptível, como se uma parte dela tivesse captado algo antes mesmo que a mente pudesse explicar.
Ele pediu um café preto e, para sua surpresa, escolheu a mesa ao lado. O garçom trouxe o pedido dela ao mesmo tempo, e por alguns minutos, trocaram apenas olhares discretos, como se nenhum dos dois tivesse coragem de quebrar aquele silêncio que parecia conter mais palavras do que qualquer conversa.
Até que ele, mexendo lentamente o café, disse:
— Desculpe interromper, mas... você parece alguém que já vi antes.
Ela arqueou as sobrancelhas, intrigada.
— É mesmo? Estranho... porque eu tenho quase certeza que nunca vi você.
Ele sorriu, um sorriso quase tímido, e deu uma risada baixa.
— Talvez seja apenas impressão... mas às vezes a gente cruza com certas pessoas e sente que já as conhece, mesmo sem saber de onde.
Ela não respondeu, apenas girou a colher no chocolate quente, observando a espuma se dissolver. Uma parte dela queria cortar o assunto, a outra queria perguntar mais.
E foi assim, numa tarde fria de 14 de julho, que alguém entrou em sua vida sem pedir licença — não como uma tempestade, mas como uma brisa diferente, capaz de bagunçar levemente as cortinas fechadas do coração.
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Atualizado até capítulo 64
Comments
Sōsuke Aizen
Mal posso esperar pelo próximo capítulo, você tem um talento ímpar! 😊
2025-08-12
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