03 - Barraca armada

Evan

Acordei mais cedo que o normal. O silêncio reinava na fraternidade — raro, considerando a galera que vive aqui. Desci para a cozinha, ainda meio sonolento, procurando café como se fosse meu oxigênio.

Todos os quartos estavam quietos. Olhei para o relógio pendurado na parede. Sete minutos para a primeira aula do Logan. Ótimo. Ele vai se atrasar. De novo.

Estava prestes a mandar uma mensagem quando a campainha tocou. Sorri, esperando encontrar a Riley do outro lado, talvez com uma de suas marmitinhas saudáveis e aquele sorriso doce que sempre me desmonta logo cedo.

Mas quem aparece quando abro a porta é um furacão loiro em salto alto.

Lara Benoit.

Ela entra sem pedir licença, o blazer roxo se moldando perfeitamente ao corpo, e o perfume cítrico dela invade o ambiente como se marcasse território. Passa por mim com o mesmo desprezo com que se passa por um poste na calçada.

Logo atrás dela, Riley surge, com as bochechas vermelhas de quem claramente correu.

— Onde fica o quarto daquele imbecil? — Lara dispara, os olhos faiscando.

— É o primeiro no último andar. — Riley responde antes que eu consiga abrir a boca. E nós dois apenas assistimos a Lara desaparecer escada acima, como uma tempestade vestida de alfaiataria.

Fico parado, ainda assimilando a cena, quando Riley me encara. Me aproximo e lhe dou um selinho, uma tentativa sutil de apaziguar a insegurança que inevitavelmente bate quando a presença avassaladora de Lara entra em cena.

Ela suspira, encostando o queixo no meu ombro.

— Pelo menos ela não te viu sem camisa. — murmura, tentando brincar, mas o ciúme escapa pela borda da voz.

Sorrio de lado, puxando-a mais para perto.

— Você sabe que não tem por que se preocupar. — digo, mesmo sabendo que, quando se trata da Lara, não é tão simples assim. Porque ela é linda, sim. Inteligente, também. Mas, acima de tudo, ela sabe exatamente o efeito que causa nas pessoas. E usa isso como quem carrega uma arma carregada.

Lara

Subo as escadas da fraternidade sem me importar com os olhares dos garotos meio acordados ou o som dos meus saltos estalando no piso de madeira. Tenho um alvo — e ele está atrasado para a primeira aula do dia.

Chego ao último andar, bato a porta do quarto apenas uma vez antes de girar a maçaneta. Está destrancado. Que conveniente.

Entro no quarto escuro, o cheiro de desodorante masculino e roupa suada toma o ar. E lá está ele.

Logan Morgan.

Deitado de lado, completamente largado, com o cobertor jogado para fora da cama. Sem camisa. Apenas de cueca. E, pelo volume evidente sob o tecido, com o corpo despertando... mesmo que ele ainda esteja dormindo.

Reviro os olhos.

— Sério? Isso é o que chamam de futuro da equipe de hóquei? — resmungo para mim mesma, me aproximando da cama.

Puxo o travesseiro da cabeça dele e lanço no chão.

— Morgan, acorda.

Ele resmunga, se vira um pouco... e o cobertor cai mais.

Ótimo. Preciso de foco.

— Logan, levanta. Você tem aula em sete minutos. E eu não vim até aqui pra ser ignorada por um idiota sonolento.

Ele geme baixo, a voz rouca de sono:

— Vai embora, Barbie... ainda são cinco da manhã...

Eu cruzo os braços.

— São quase oito. E se você não levantar agora, eu vou puxar o colchão junto com você.

Abro as janelas com força, a luz invade o quarto e ele cobre o rosto com o braço, resmungando mais alto.

— Por que você tá aqui, mesmo?

Me inclino, colando os lábios perto do ouvido dele.

— Porque sua vaga no time depende de mim. E se não quiser perder tudo por causa de faltas e notas baixas... vai levantar agora, colocar uma calça e me acompanhar. Ou eu mesma vou escolher sua roupa do dia. Cueca florida inclusive.

Ele finalmente abre os olhos. Me encara. E mesmo com a cara amassada e o cabelo bagunçado, continua irritantemente bonito.

— Você é insuportável. — diz.

— Obrigada. Agora, anda.

Viro de costas e caminho até a porta. Antes de sair, lanço por cima do ombro:

— E dá um jeito aí embaixo, Jack Frost. Nem eu mereço essa visão logo cedo.

Fecho a porta com um sorriso vitorioso nos lábios, ouvindo ele soltar um palavrão abafado do outro lado.

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