Capítulo 2

No dia seguinte, a jovem estava com suas cestas empilhadas, carregando TODAS com cuidado enquanto caminhava entre as árvores como um labirinto natural em direção ao acampamento militar, à margem da cidade. O vento puxava sua capa e os cabelos em fios soltos escapavam do capuz, mas Florence seguia firme, apertando os dedos ao redor das cestas.

O acampamento era uma fileira ordenada de tendas, carroças e cavalos. O cheiro de ferro, couro e fumaça dominava o ar. Soldados com mantos pesados se entreolhavam curiosos ao vê-la se aproximar.

– Olá! Eu vim a mando do capitão Alexander. – Anunciou, parando em frente à entrada vigiada por dois soldados de expressão desconfiada.

– Entrega de comida? – Um deles perguntou, erguendo a sobrancelha, examinando-a dos pés à cabeça. Enquanto outro abria a cesta do topo para bisbilhotar dentro.

– Não. – Respondeu com firmeza, estendendo as cestas. – Trago as folhas de sabugueiro que Capitão Alexander havia me pedido para a viagem.

O soldado hesitou por um instante, mas ao ver a seriedade nos olhos dela, tomou uma das cestas e a cheirou.

– Ah... é disso que o capitão tem falado tanto. Espere aqui, senhorita. Vou chamá-lo. – Disse por fim, desaparecendo entre as tendas.

Florence permaneceu imóvel, sentindo os olhares de alguns soldados recair sobre ela, curiosos, cínicos, alguns claramente inconvenientes. Mas ela manteve o queixo erguido, os ombros firmes.

Após alguns minutos, passos firmes sobre o chão seco anunciaram a aproximação dele.

Alexander surgiu imponente entre as tendas, com o sobretudo militar escuro balançando aos ventos aberto, mostrando a camisa branca com três primeiros botões abertos. O cabelo negro bem penteado brilhava à luz, e os olhos, de um azul vívido com reflexos escuros.

– Vejo que cumpriu sua promessa, pequena bruxa. – Disse Alexander, cruzando os braços com um leve sorriso nos lábios. Indicando para os soldados que peguem as cestas das pequenas mãos femininas. – E ainda chegou antes do prazo.

– Meu nome é Florence, meu senhor. – Disse, batendo delicadamente as mãos para remover a poeira do vestido, manchado pela terra, depois que as cestas foram pegas pelos soldados liberando a visão para seu corpo magro e pequeno.

– Recordarei de seu nome. Venha até minha tenda. Irei te dar sua recompensa e informar que tomei certas providências. – Acenou em direção à tenda central, começando a caminhar, seguido por ela.

– Providências? – Ergueu as sobrancelhas, acompanhando-o com curiosidade e um pouco de receio de estar a sós com um homem.

– Recorda do filho do senhorio da vila, aquele que a importunou há poucos dias? – Afastou o tecido que ocupava o lugar da porta, segurando para que ela passasse.

A jovem de cabelos loiros-mel, adentrou com cuidado, passando as mãos no vestido para desfazer os amassados e limpar a sujeira, pois deixava o mato para ingressar naquele ambiente, que mesmo sendo uma tenda era luxuoso em excesso para ela em seus trapos humildes.

– Sim, recordo perfeitamente. – Disse, parando diante dele, segurando uma mão com a outra, receosa e com o coração disparado. Quase como um gato acoado.

O homem entrou depois dela, deixando o tecido cair. – Eu já estava com reclamações sobre o controle da região. Muitos senhorios reclamaram do controle do barão, então fazia certo tempo que eu estava em uma investigação ferrenha sobre tal assunto. Infelizmente minhas investigações sempre foram desestabilizadas. Então fui em busca de satisfações acerca desse assunto e descobri que várias mulheres tinham queixas sobre um dos filhos de um senhorio como as suas queixas, senão piores. Portanto, era caso de prisão, já que violar ou tentar, quebra o código de cavalheiro, isso é algo que normalmente tomam seu título e te decretam prisão imediata. Quando exigi providencias com o barão, ouvi que se tratava de um jovem impulsivo a quem seria dada apenas uma advertência. Um discurso incompetente para me enrolar. Não pude aceitar um senhor de terras incapaz de manejar tal problema. Ao investigar a administração do território por parte de tal senhorio, descobri sonegação de impostos. Como capitão da guarda imperial, tenho o dever de enfrentar essa situação. Além disso, descobri dezenas de desvios do barão nos papéis do senhorio da sua vila, que nada mais era que o escudo do barão. – Apoiou a mão no queixo, explicando e apontou para uma cadeira. – Sente-se, por favor.

– Eu recuso. Sinto-me satisfeita por ter sido de ajuda. – Disse, com frieza.

– Bom, de qualquer forma a situação se resolveu graças a você. Já que eu descobri os crimes do barão quando achei seu escudo que era o senhorio. Você me ajudou de forma inestimável. – Colocou o pequeno saco de moedas de ouro sobre a mesa. Quando Florence estendeu a mão para pegá-lo, ele o retirou rapidamente.

– De qual família você é? – Ergueu uma sobrancelha, fitando-a atentamente.

A jovem loira arqueou as sobrancelhas, surpresa. – Perdoe-me?

– Sei bem que você é de linhagem nobre. – Sorriu, apoiando os cotovelos na mesa com um ar descontraído.

– Não sei do que fala. — Desviava o olhar, evitando seus olhos.

– Talvez você simplesmente esteja se escondendo... — Disse ele, cruzando os braços com um meio sorriso confiante. — Mas sou um homem acostumado a conviver com mulheres. Sei ler seus modos, seu porte, a forma como falam e gesticulam. A educação refinada, a elegância contida e essa frieza. Tudo isso são sinais de sangue nobre, inconfundíveis.

– Creio que está enganado, senhor. — Respondeu ela, segurando com firmeza o tecido do vestido, as mãos trêmulas. — Sou apenas uma plebeia.

– Não a forçarei a revelar o que não deseja, senhorita. Contudo, se por acaso vossa família tiver cometido algum ato cruel, pode confiar em mim. Farei o que estiver ao meu alcance para resolver a situação. Já presenciei muitas mulheres sendo vendidas a homens por culpa dos próprios lares. — Empurrou o saco de moedas para a beirada da mesa, o olhar firme.

Ela agarrou o pequeno saco, os olhos arregalados, não pelo peso, mas pela percepção dele, como se pudesse enxergar sua alma.

– Apenas peço que instrua meus soldados na preparação correta do chá com estas folhas, antes que eu se retire. Há quinze moedas de ouro reservadas para isso. — Cruzava os braços com um olhar analítico sobre ela.

Florence levantou-se com rapidez, o pequeno saco de moedas apertado contra o peito, mas a mente ainda imersa nas palavras do duque, que pareciam desvendar segredos ocultos em sua alma. Seus passos eram ligeiros, porém cautelosos, enquanto deixava a tenda, sentindo o peso do olhar dos homens ao seu redor. O ar frio da manhã acariciava seu rosto, mas havia uma inquietação em seu peito, cercada por tantos soldados, não podia evitar o receio que lhe apertava a garganta. Com o capuz ainda parcialmente cobrindo seus cabelos dourados, atravessou o acampamento, os olhos brilhando com uma mistura de determinação e cautela. Ao se aproximar dos soldados, ergueu a voz com clareza e firmeza, pronta para ensinar o preparo do chá de folha de sabugueiro.

A jovem explicava para os soldados da cozinha e instruía, enquanto ouvia atentamente o diálogo atrás de si.

– Souberam o motivo pelo qual nosso retorno está sendo adiado? – Comentou um dos soldados, mexendo distraidamente em um caldeirão. – Ouvi dizer que o imperador quer casar nosso senhor com a princesa. Por isso o duque está retardando a partida, não deseja esse casamento de maneira alguma… Mas não há razão oficial para recusá-lo, já que continua solteiro.

– Nosso senhor com aquela mulher cruel e sem estribos… – Resmungou outro. – Dizem que ela chicoteia os próprios servos por diversão. É óbvio que ele odeia a ideia. Maldita seja aquela noiva prometida que o abandonou para virar freira. Deixou nosso capitão à mercê de um destino abominável. Víbora egoísta…

– Devíamos encontrar outra noiva para ele, alguém digna. Mas quem? – Suspirou um terceiro, apoiando o peso do corpo sobre a mesa improvisada.

Florence permaneceu de costas para o grupo, mas seus ombros se contrairam levemente ao ouvir o nome da princesa e a possível união com o duque. A colher que usava para mexer as folhas na água parou por um breve segundo antes de continuar. Aquele homem não era casado? E para infelicidade dele, ainda seria forçado a um casamento indesejado. No fim das contas os dois estavam praticamente no mesmo barco. Ou não, já que ela conseguiu fugir, mas aquele homem, não poderia abandonar um exército e um território para fugir do casamento, a situação dele era pior pelo ver dela. Mas enfim, isso não era o problema de uma "plebeia".

Ela mordeu o lábio inferior com suavidade, ocultando qualquer expressão mais intensa. A ideia de que aquele homem, um capitão de guerra pudesse também ser sufocado por um casamento arranjado deixava um gosto amargo na boca, ninguém estava livre dos padrões da alta sociedade e de casamentos indesejados e infelizes.

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Rafaela Braga

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2025-08-03

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