Ayaka Lin
Crescer cercada por luxo é uma experiência curiosa, você tem tudo menos liberdade a minha família é dona de uma das maiores holdings da Ásia, o Linhara Group um nome que brilha em revistas de negócios, mas que para mim sempre pesou como uma corrente invisível o meu pai é do tipo rígido, calculista, que enxerga o mundo como uma planilha a ser equilibrada a minha mãe é a perfeita anfitriã de jantares beneficentes, com um sorriso ensaiado e vestidos sob medida, moldando nossa família como se fosse uma obra de porcelana: bonita por fora, mas frágil por dentro tenho um irmão mais velho, Kazuo ele já fez o que se esperava: casou com a herdeira certa, teve uma filha adorável e hoje vive a vida que meus pais sonharam para ele o orgulho da família e querem o mesmo para mim. O problema é que eu não sou como eles desde pequena, o que me fazia vibrar não era abrir relatórios financeiros, era me imaginar nos bastidores de um set de filmagens, entre câmeras, roteiros, maquiagem, improvisos, mas não foi isso que estudei. Me formei em Economia porque era “estratégico para o futuro da família.” Fiz estágio na própria empresa, cumpri minha parte no teatro que montaram para mim até que fui aceita para a pós nos Estados Unidos e lá, pela primeira vez, respirei. Pude namorar sem ser avaliada pude sair para festas sem precisar sorrir para fotógrafos, pude atuar em pequenas produções estudantis, fazer figuração em comerciais tudo usando um nome artístico e fugindo dos holofotes o dinheiro da família me deu uma vida confortável e também uma forma de me esconder viver como anônima era libertador até meu pai estragar tudo.
“Você vai se casar.” Essas foram as palavras exatas sem rodeios sem pedir minha opinião, apenas uma ordem disfarçada de proposta discutimos, gritei, gritei disse que queria ser atriz, não moeda de troca. Que eu estava construindo minha vida, mesmo que ainda fosse pequena, mesmo que ninguém soubesse meu nome ele retrucou que a empresa precisava de mim, que a união com a família Beaumont salvaria nossos acordos internacionais e que eu precisava ser grata por ter sido escolhida. Escolhida como se fosse um sorteio de gala, a ameaça final foi sutil, mas clara: ou eu aceitava o acordo, ou voltaria para casa e viver sob aquele teto de novo significava ser vigiada, podada, sufocada voltar seria morrer um pouco a cada dia, chorei de novo, sozinha no quarto apelando para o meu lado filha caçula mimada pelo pai, ele sempre se compadecida quando eu chorava, fiz uma sena deitada no tapete com a cara afundada no travesseiro, preste a desligar a chamada de vídeo, meu pai suspirou disse que se eu não gostasse do rapaz, ele daria um jeito, que não me forçaria mas que ao menos eu deveria conhecê-lo bom já era um começo então concordei e agradeci por algo que nunca deveria ser imposto e desliguei, com um gosto amargo na boca. Mas a vida não para para a gente digerir sentimentos, algumas horas depois, lá estava eu, me trocando para mais um trabalho de figuração uma produção meia-boca, com roteiro fraco, direção perdida e maquiagem que cheirava a cola vencida eu era um zumbi sexy aquilo só podia ser brincadeira mas era sério.
No fim do dia, o diretor nem olhou na minha cara, eu quase nem aparecia nas cenas, senti o peito apertado um misto de frustração e vergonha mesmo que fosse só uma ponta, eu queria ter brilhado mas sei que o começo é assim.
— Isso foi trágico — murmurei, arrancando os cílios postiços no camarim improvisado.
— Sabe o que você precisa? — disse Samanta, minha amiga e cúmplice nas aventuras secretas. — Uma bebida, uma música boa, uma noite fora dos trilhos.
— Tô cansada, Sam... — murmurei. — Tarde demais o meu humor tá um lixo.
— Ótimo! Melhor hora pra sair tem uma festa num bar novo, chiquérrimo, e dizem que hoje é noite de fantasia, perfeita pra nossa maquiagem zumbi improvisada vambora!
Insistência, sorrisos, uma chantagem emocional com pizza prometida depois cedi como sempre.
Chegamos ao lugar por volta da uma da manhã, a fachada era discreta, com letreiros dourados e um segurança enorme na porta. Lá dentro era um espetáculo o bar parecia saído de um filme de luxo sobrenatural as paredes eram negras com detalhes dourados lustres de cristal pendiam do teto, lançando reflexos nas máscaras brilhantes e nas roupas provocantes de todos ao redor havia neblina baixa, um DJ vestido de monge tocando remix de “Sweet Dreams”, e garçons usando uniformes de mordomos góticos servindo coquetéis em copos iluminados por dentro. As fantasias variavam entre ousadas, criativas e absurdas, vi uma Mulher-Gato beijando o Coringa, um vampiro dançando com um alienígena gente bonita por todo lado gente rica, provavelmente, mas ninguém me reconhecia e isso era delicioso.
Olhei para o lado e Samanta já estava de papo com um cara vestido de policial sexy, rindo como se fossem velhos amigos.
— Ótimo — murmurei, sorrindo de canto.
Fui até o balcão, pedi uma cerveja e me recostei, respirando fundo a maquiagem começava a coçar a fita da perna escorregava o meu humor ainda não era dos melhores comecei a pensar que talvez fosse melhor ir embora e dormir já estava tarde me perdi no horário, mas sei que já passava das duas da manhã foi então que ouvi uma voz masculina elogiando a minha "fantasia" virei devagar e ele estava ali, alto ombros largos terno preto perfeitamente alinhado, camisa escura, aberta no colarinho, revelando pele quente um lenço branco dobrado com precisão no bolso, mandíbula marcada olhos castanhos profundos cabelo levemente bagunçado como se o vento tivesse moldado sua beleza com ciúmes e aquele sorriso contido nos lábios. Senti minhas pernas tremerem, um calor subiu pelo meu pescoço até o topo da cabeça.
“Meu Deus quem é esse homem?”
Talvez, só talvez tenha sido uma boa ideia vir a essa festa, finalmente algo bom acontecendo comigo nesse dia, então precisamos de um drink para comemorar a liberdade.
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Atualizado até capítulo 43
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