Elara dançava sozinha no quarto.
Deslizava os pés pelo carpete, o vestido de algodão girando ao seu redor como as pétalas de uma flor. Os passos eram leves, graciosos, e seguiam uma música invisível que ela guardava no coração.
- Um, dois... volta e gira - murmurava para si mesma.
Elara não precisava das aulas com os primos. Os passos estavam gravados na memória de sua alma. E ela preferia a solidão ao risco das zombarias.
Naquela tarde, pouco antes do entardecer, escapou mais uma vez até o jardim.
O rei estava lá, sentado sob a sombra de uma árvore antiga, observando o céu.
- Alteza! - chamou ela, com o rosto iluminado.
Ele sorriu ao vê-la aproximar-se.
- Boa tarde, Elara. O que a traz aqui hoje?
- Estou treinando para o baile - disse, empolgada. - Quer ver?
O rei ergueu uma sobrancelha, divertido.
- Vai me mostrar agora?
- Só um pouquinho. O resto é surpresa para o baile.
Ela fez uma reverência exagerada e começou a dançar. Os passos eram simples, pensados para uma criança, mas cheios de leveza. Ela rodava e se equilibrava nas pontas dos pés, com os braços abertos como asas.
Quando parou, arfando com um sorriso orgulhoso, o rei bateu palmas devagar.
- Você dança com alegria. Isso é o mais importante.
Elara se aproximou, sentando-se ao seu lado na grama.
- Acha que mamãe dançava assim?
- Sua mãe dançava como se o mundo fosse feito de música - disse ele, olhando para o céu. - E você se parece cada dia mais com ela.
Elara apertou o medalhão no pescoço.
- Espero que todos notem isso amanhã.
Há poucas horas do baile, Juno estava à beira de um colapso.
- Onde está a fitinha azul do cabelo? E as sapatilhas prateadas? Não podemos esquecer nada!
- Estão na caixa branca - disse Elara, sentada com paciência enquanto lhe trançavam os cabelos. - A de laço.
- Todas têm laço, Elara!
A menina riu.
- A que você escondeu de mim semana passada para eu não estragar.
Juno parou, fechou os olhos e respirou fundo.
- Ah. Aquela.
Elara se levantou e foi até a mulher, segurando-lhe as mãos.
- Vai dar certo, Juno.
A babá a olhou como se fosse pequena demais para dizer algo tão grande. Mas Elara parecia segura, centrada. Ainda assim, nos olhos de Juno, havia algo que nem a fita azul podia esconder: preocupação.
- Você é uma criança - sussurrou. - Uma criança esperta, sim, mas ainda assim sozinha entre gente que...
Ela não terminou.
Elara apertou sua mão.
- Eu sei o que estou fazendo. - Disse Elara e completou somente em seus pensamentos - "Dessa vez, eu sei".
No fim da tarde, Elara saiu discretamente pelos fundos do palácio, vestida com uma capa cinza de veludo, o capuz cobrindo os cabelos cor de cobre.
Evitou os corredores principais, andou em silêncio, os olhos atentos.
Só retirou a capa na entrada do salão.
E então, Elara apareceu.
Seu vestido era azul-claro, de tecido leve, com mangas curtas bufantes e uma faixa prateada na cintura, como nos retratos antigos da mãe. O laço atrás fazia uma cauda delicada, e o penteado era uma trança alta presa com pequenas margaridas brancas, simples, mas diferente do habitual.
Ela parecia saída de uma pintura.
Os primos a olharam confusos, sem reconhecê-la de imediato. Quando perceberam, tentaram reagir, mas Elara já passava por eles com um sorriso educado:
- Boa noite, Thomas. Que botas brilhantes.
- E-eu... - gaguejou ele.
Mas ela já seguia, deixando apenas o perfume suave de lavanda no ar.
Ela cumprimentava todos com polidez, como mandava o protocolo, mas sem parar tempo suficiente para fazerem ou dizerem alguma grosseria. E sempre com os olhos voltados para o trono, onde o rei observava.
Mas bastava passar alguns passos além para ouvir os sussurros.
- Dizem ela é a filha de um bruxo - sibilou uma voz abafada entre duas damas. - E agora caminha por aqui como se fosse princesa.
- O rei envelheceu - respondeu outra. - Enxerga lembrança onde há apenas risco.
Um cavaleiro mais jovem comentou com desdém.
- Devíamos ter nos preparado para fantasmas. Essa menina não pertence aqui.
Elara, embora não escutasse as palavras exatas, sentia os olhos. Pesavam diferente. Não eram só olhares de surpresa - havia julgamento, e medo. E isso... ela já conhecia.
Foi então que ouviu:
- Elara?
Ela virou-se.
Era Gael, com as bochechas coradas e o cabelo penteado com cuidado demais.
Usava um casaco azul-marinho com bordados prateados, calças ajustadas ao joelho, e um laço malfeito no pescoço.
- Você... você tá diferente - disse ele, coçando a nuca. - Quer dizer... bonita.
Elara sorriu.
- Obrigada. Você também está... penteado.
Ele riu nervoso.
- Meu avô disse que a dança de abertura é para os mais novos. E... eu queria dançar com você.
Ela fingiu pensar, com um ar teatral.
- Bem... se você prometer não pisar no meu pé...
- Prometo!
Ela aceitou o braço dele, e juntos foram para o centro do salão.
A música começou.
A dança era simples, pensada para crianças. Um dois-pra-lá, dois-pra-cá, voltas lentas. Gael estava nervoso, mas Elara conduzia com naturalidade.
- Você aprendeu com quem? - perguntou ele, com a língua entre os dentes.
- Com o vento - respondeu ela, girando. - E um pouco com as estrelas.
Gael riu.
- Você é esquisita.
- Você que é. Mas dança bem.
Quando a música terminou, os dois se curvaram com elegância e a doçura infantil.
Aplausos suaves ecoaram. Alguns sinceros, outros forçados. Mas vindo de todos os lados.
Elara sentiu o olhar do rei sobre ela. Um olhar cheio de lembrança e de orgulho.
- Obrigado por me convidar, principe Gael - disse ela.
- Obrigado por aceitar.
- Vai me chamar de novo? - perguntou ela, já caminhando de volta para o canto do salão.
Ele respondeu rápido, quase tropeçando nas palavras:
- Todas as vezes que puder.
Na lateral, a distância, Juno apertava um lenço contra o rosto. Ela só podia olhar de longe, mas estava tão orgulhosa quanto alguém podia estar, Elara tinha razão, deu tudo certo.
E o rei cruzou os braços e observou a menina se afastar com a postura de alguém que pertencia aquele lugar.
...꧁༒༻ Fim do Capítulo 5 ༺༒꧂...
Você também torceu por ela no baile?
Me conta aqui nos comentários: será que o coração do príncipe está começando a mudar...?
Deixa sua curtida para Elara dançar mais longe!
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Atualizado até capítulo 39
Comments
Ely
Elara pega pesado, cuidado pra não matar o velho
2025-07-10
0
Ely
Queria comentar na imagem, Elara tá muito linda
2025-07-10
0
Cleide Almeida
os dois tão fofos 😍
2025-08-30
0