Um Dia de Histórias ( e Sorrisos)

📖 Capítulo 5

A livraria estava em festa.

Naquela manhã, Lorenzo chegou bem mais cedo do que de costume, com uma cesta de biscoitos caseiros debaixo do braço e um sorriso sapeca no rosto. Colocou seu inseparável avental de tecido cru — com a frase bordada “Livros, café e risadas curam tudo” — e começou a organizar os detalhes para o evento do dia: o “Sábado de Histórias”, uma manhã dedicada às crianças da vila.

Era uma tradição criada por ele há alguns anos. Uma mistura de contação de histórias, teatro improvisado, pintura e, claro, muitos abraços e piadas. Lorenzo levava tudo muito a sério — ou quase tudo, já que ele fazia questão de rir de si mesmo a cada passo.

— Maria, coloque os pirulitos perto da mesa dos dinossauros! Ou os dinossauros vão comer tudo antes das crianças chegarem! — disse ele, rindo com sua assistente, uma jovem estudante que o ajudava nos eventos.

A livraria estava enfeitada com balões, livros infantis empilhados em forma de castelo e pequenas almofadas coloridas no chão. Um tapete redondo no centro servia como “palco” para a leitura. Lorenzo caminhava de um lado para o outro com um boneco de fantoche na mão esquerda e uma xícara de café na direita, equilibrando charme e trapalhadas.

— Atenção, pessoal! O evento começa em trinta minutos! E quem derrubar um livro hoje… vai ter que declamar poesia! — anunciou, arrancando risos dos pais que começavam a chegar.

Na pousada, a movimentação também era animada.

Fiorella andava de um lado para o outro com uma bandeja de biscoitos e um brilho animado nos olhos. Ao ver Giulia sentada na varanda, com o olhar distante e a xícara de chá entre os dedos, ela parou ao lado e sorriu com carinho.

— Hoje é dia de festa na vila, minha querida.

— Festa? — perguntou Giulia, despertando do pensamento.

— O livreiro maluco ali da esquina está fazendo o evento das crianças. É uma tradição deliciosa. Você precisa ir.

— Eu? Mas não tenho filhos pequenos…

— Isso não importa. Todo mundo vai. É divertido. E Lorenzo é… um personagem.

— Lorenzo? — repetiu Giulia, levantando uma sobrancelha.

— O dono da livraria. Um homem encantador. Faz rir só com o jeito de andar.

Giulia hesitou. Não sabia se queria sair. Mas algo naquele convite lhe pareceu leve… um sopro diferente. E ela se levantou, ajeitou os cabelos, pegou uma echarpe clara e, sorrindo de canto, respondeu:

— Então vamos ver esse personagem.

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Na livraria, Lorenzo agora contava a história de um sapo poeta apaixonado por uma libélula distraída.

— E então o sapo subiu na pedra e disse: “Querida libélula, se você parar de voar um pouquinho, eu prometo te declamar os versos mais verdes dessa lagoa!” — disse ele, com a voz alterada e o fantoche na mão.

As crianças gargalhavam. Os pais aplaudiam. Lorenzo fazia caretas, girava, pulava e fingia tropeçar. E no meio da confusão, uma garotinha de olhos enormes levantou a mão:

— Signor Bellini! O sapo pode cantar?

Lorenzo colocou a mão no peito, ofendido.

— Minha querida, claro que pode! O que é um sapo sem um pouco de ópera?

E começou a cantar uma versão desafinada e dramática de “O Sole Mio” com voz de sapo apaixonado. A livraria quase veio abaixo de tanto riso.

No canto da livraria, perto da vitrine, Giulia entrou junto com Fiorella, rindo discretamente ao ver a cena.

Ela não sabia ainda quem era aquele homem. Mas algo nele… a forma como fazia as pessoas rirem, como se entregava ao momento, como transformava livros em mágica… mexeu com algo dentro dela.

— Esse é Lorenzo — sussurrou Fiorella.

Giulia apenas sorriu.

— Ele é… diferente.

— É. Ele é como a livraria dele: antigo, bonito, cheio de histórias… e com cheiro de café fresco.

As duas ficaram ali, observando.

Lorenzo não as viu. Ainda.

Naquele instante, ele olhava para as crianças, encantado com a alegria simples delas, e nem imaginava que, entre os novos rostos do público, havia uma mulher de alma ferida e olhos curiosos — uma mulher que, sem saber, já começava a ocupar um pedacinho do coração dele.

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