A porta da frente se abriu com um estalo seco. Ouvi os passos apressados de Shamantha, os saltos sendo abandonados no chão e a bolsa jogada no aparador da sala. Já passava das dez da noite. A casa estava mergulhada num silêncio sufocante — até que minha voz o rompeu, vinda da cozinha:
— Está chegando tarde de novo, Shamantha.
Não falei alto, nem com raiva. Só estava... cansado. Cansado de repetir as mesmas palavras.
Ela revirou os olhos, do jeito que fazia quando queria encerrar qualquer conversa.
— Ah, Leonardo... Por favor, não começa.
— Não estou começando. Só estou observando. Você sai cedo e volta quando quer. Eu sou seu marido, Shamantha. Não um inquilino nesta casa.
— E o que você quer que eu faça? Que largue meu trabalho? — retrucou, jogando o blazer sobre a cadeira da sala de jantar. — Se ainda não percebeu, eu também tenho uma vida, Leonardo. Um trabalho de verdade, que exige meu tempo e minha atenção!
— E o nosso casamento? Exige o quê? Nada? — levantei da cadeira, indo até o corredor, ficando mais próximo dela. — Você quer manter as aparências, mas nem olha mais na minha cara.
— Talvez porque eu esteja cansada de discutir todo santo dia! — rebateu, na mesma intensidade. — Você vive me cobrando, me julgando, como se tivesse feito um favor me casando com você. E sabe o que é pior? Eu fiz mesmo! Casei por impulso. Por pressão!
Respirei fundo. Tentei segurar o nó que começava a crescer na garganta. Mas meus olhos já estavam ardendo.
— Então agora é isso? Vai jogar na minha cara que o nosso casamento foi um erro?
— Você não percebe, Leo? Nós não somos mais um casal! Só restou rotina, cobranças e silêncio. E eu estou farta disso!
Não disse mais nada. Voltei para a cozinha. A comida já estava fria. Me sentei, peguei o garfo e continuei o jantar do jeito que dava.
Ela me seguiu em silêncio, sentou-se do outro lado da mesa. Ficou mexendo na comida, sem levar nada à boca.
— Se não vai comer, por que se sentou? — perguntei, sem tirar os olhos do prato.
— Por educação — respondeu, seca. — Ou talvez porque ainda esteja tentando manter alguma normalidade nessa farsa.
Larguei os talheres com força sobre o prato.
— Isso não é uma farsa pra mim, Shamantha. Eu ainda amo você. E não sei mais o que fazer pra salvar esse casamento. Mas você não ajuda, você não tenta. Você só se afasta mais a cada dia.
Ela me encarou por alguns segundos. Depois se levantou sem dizer uma palavra e foi para o quarto.
Mais tarde, já deitado, senti o colchão afundar do outro lado. Me aproximei devagar. Puxei os lençóis e me deitei ao seu lado. Ficamos em silêncio. O quarto escuro, o ar pesado. Toquei de leve seu braço.
— Sam... — murmurei, me inclinando para beijá-la.
Ela virou o rosto, fugindo do meu toque.
— Não, Leonardo... Por favor.
— Por favor o quê? — insisti, tentando me manter calmo. — Você me evita, me trata como um estranho. Agora nem posso mais te tocar?
— Não é o momento, Leonardo. Eu não estou bem. Não tenho cabeça pra isso.
— Você nunca está! — explodi, sentando-me na cama. — A verdade é que você não quer mais estar comigo. Já faz quase um mês que não fazemos amor. Eu sou homem, Sam. Eu te amo. Mas você não me ama mais, só pode ser isso.
— E se for verdade? — ela me olhou com frieza. — Vai fazer o quê? Vai me obrigar a continuar nessa prisão que virou nossa vida?
As palavras dela foram como facas. Fiquei em silêncio, digerindo cada uma com dificuldade.
— Eu só queria que você fosse sincera. Que me dissesse o que está acontecendo. Porque, sinceramente, essa indiferença está me matando.
Ela virou-se de costas, puxando o lençol até o queixo.
— Boa noite, Leonardo.
Fiquei ali, sentado por longos minutos, encarando o teto escuro do quarto. Sentindo que cada tentativa minha era só mais um passo na direção do fim.
E, naquele silêncio ensurdecedor, eu soube: algo entre nós estava prestes a se quebrar de vez.
A manhã seguinte chegou com os primeiros raios do sol atravessando as cortinas. Era sábado. O único dia da semana em que, antes, costumávamos estar mais próximos. Agora, era só mais um dia onde o silêncio falava alto demais.
Acordei antes do relógio. Me virei e a observei dormindo de lado, os cabelos soltos cobrindo parte do rosto. Ainda era linda. E talvez meu erro fosse amar tanto alguém que já não estava mais ali.
Com cuidado, me aproximei e beijei devagar o pescoço dela, num gesto quase desesperado por conexão.
— Bom dia... — murmurei, ainda com a voz rouca de sono.
Ela se remexeu, incomodada.
— Leonardo, não... — disse, afastando-se de forma ríspida. — Por favor, não começa com isso logo cedo.
Me afastei, sentindo como se tivesse levado um tapa.
— “Isso”? — repeti, magoado. — Eu só queria te dar um bom dia. Ser carinhoso com minha esposa. Mas parece que nem isso posso mais.
Ela virou de costas, puxando o lençol até o pescoço.
— Você sempre escolhe os piores momentos... Só queria dormir um pouco mais. Já não basta a semana inteira exaustiva?
Me sentei na cama, esfregando o rosto com as mãos.
— Não é só sono, Shamantha. Você me afasta todos os dias. Qualquer toque meu é rejeitado. Qualquer palavra vira discussão. Me sinto invisível dentro da nossa própria casa.
— Porque você não entende, Leonardo! — ela se virou, sentando-se na cama com os olhos furiosos. — Eu não estou bem! Não quero fingir que está tudo bem entre nós. Não quero carinhos forçados, nem beijos por obrigação. Isso só me sufoca mais!
— Então diz o que você quer! — me levantei, perdendo o controle. — Porque eu já tentei de tudo! Já fui paciente, já fui presente, já implorei por um gesto seu... E nada! O que você quer de mim, Shamantha?
Ela me encarou, os olhos cheios de raiva — e talvez de dor também.
— Eu quero paz, Leonardo. Só isso. Quero parar de viver essa mentira. Quero acordar sem sentir esse peso no peito.
— E eu sou o peso? — perguntei, com amargura.
— Somos um para o outro. Essa relação está nos sufocando. Só você ainda não percebeu.
Fui até a janela e abri as cortinas com força. A luz invadiu o quarto como se pudesse iluminar também a escuridão que se instalou entre nós.
— Então é isso? Vai passar o fim de semana me tratando como um estranho?
Ela não respondeu. Apenas se deitou novamente e virou o rosto.
Olhei para ela uma última vez, depois saí do quarto. E o som da porta se fechando atrás de mim soou como um ponto final. Como se, ali, o que restava de nós tivesse começado a ruir de vez.
Nota da autora:
Cada curtida sua é muito importante para mim. Não deixe de curtir.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Elisete Rodrigues de Jesus
Ela é uma mulher covarde, ninguém é obrigado a gostar de outra pessoa, a covardia dela está no fato de não pedir o divórcio para os pais não reclamarem, fazendo o marido sofrer até q ele peça a separação e acabe saindo como vilão aos olhos dos pais dela, e ela fica de vítima.
2025-06-22
2
Danielle Pereira
mulher safada vagabunda ordinária tomará q sofrer ele arrumar outro amor 💘 não volta pra essa vagabunda
2025-06-21
2
Francis Damasceno
Coitado do Leonardo. Ela quer que ele tome a iniciativa de pedir o divórcio para não ter problemas com os pais.
2025-06-22
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