Capitulo: 04 - A Casa dos Silêncios

O carro diminuiu a velocidade e, pela primeira vez em toda a viagem, senti algo diferente: pavor revestido de fascínio.

Através da janela escura, vislumbrei os contornos de portões dourados gigantescos que se erguiam à frente como os portões do próprio inferno. Não havia nada acolhedor ali, apenas imponência. Dois homens em ternos pretos, ombros retos e expressões impassíveis, estavam postados ao lado das colunas do portão. Fuzis pendiam em suas costas, e seus olhos, escondidos por óculos escuros, se voltaram imediatamente para o carro que liderava o comboio — o de Vincent.

O portão se abriu sem um som sequer, suave como um suspiro. Um suspiro... antes do mergulho.

O carro avançou devagar, engolido por aquela propriedade que mais parecia um universo paralelo. O caminho era ladeado por jardins milimetricamente aparados, flores exóticas e árvores de copa larga. No centro da propriedade, uma fonte de mármore branco lançava jatos d’água em formas graciosas, mas aquilo não me trazia paz — era quase como se o som da água fosse usado para disfarçar os gritos.

O caminho de pedras brancas seguia até a entrada de uma mansão imensa. A construção era toda branca, de linhas elegantes, colunas clássicas e sacadas com grades de ferro trabalhado. Uma beleza gélida. Imponente. Assustadora.

Ao redor da propriedade, homens vestidos com trajes formais, camisas negras e coletes à prova de balas, caminhavam atentos. Alguns conversavam em russo, outros se posicionavam em pontos estratégicos com armas nas mãos, e todos, sem exceção, tinham aquele acessório discreto na orelha — comunicadores que tilintavam com ordens em murmúrios. A segurança não era apenas intensa. Era militar.

Quando Vincent saiu do carro, todos pararam o que estavam fazendo. Os que estavam mais próximos se voltaram para ele com respeito absoluto. Inclinavam a cabeça, batiam o punho fechado contra o peito ou diziam palavras baixas — algo entre um cumprimento e uma jura silenciosa de lealdade.

Ele era o rei daquele território branco e mortal.

A porta do meu carro foi aberta sem que eu pedisse. Um dos homens ao meu lado me olhou e disse, com um sotaque carregado:

— Saia.

Minhas pernas hesitaram por um segundo. Depois obedeceram. Eu saí do carro, e o ar que respirei ali fora era mais denso. Quase sólido. Como se a atmosfera da mansão tivesse sua própria gravidade. Um ar pesado, carregado de segredos e sangue.

Vincent me lançou um olhar de soslaio. Nada disse. Apenas caminhou em direção à porta da mansão, e eu fui obrigada a seguir seus passos, como uma sombra perdida atrás da figura que agora governava o meu destino.

A entrada era feita de portas duplas em madeira escura, entalhadas à mão, adornadas por maçanetas douradas que reluziam sob a luz artificial dos postes ornamentais.

Assim que ele empurrou as portas, o mundo lá fora desapareceu.

Dentro da mansão, o silêncio era espesso. Um hall gigantesco se abria, decorado com mármores polidos, lustres de cristal pendendo do teto abobadado, tapeçarias finas nas paredes, e uma escadaria dupla se estendendo como braços prontos para engolir qualquer um que ousasse entrar.

Uma fila de mulheres uniformizadas estava à espera. Eram as empregadas — vestidos pretos com aventais brancos, cabelos presos em coques perfeitos, mãos entrelaçadas à frente do corpo e olhares submissos.

Quando Vincent passou, elas se curvaram com precisão cronometrada. Um gesto treinado, quase ensaiado. Nenhuma sequer ergueu os olhos para encará-lo.

Vincent andou por entre elas como um general inspecionando suas tropas. Seus passos ecoavam nas paredes do mármore como batidas de um tambor de guerra.

Ele parou diante de mim e falou com voz baixa, mas tão afiada quanto uma lâmina:

— Aqui dentro, tudo o que vê... tudo o que ouve... morre aqui dentro.

Seus olhos frios cravaram nos meus.

— Você vai trabalhar. Obedecer. Não perguntar. Não pensar. Se quebrar alguma dessas regras... — ele se inclinou ligeiramente para perto de mim, seu hálito roçando minha pele. — ...não precisarei levantar um dedo. Esta casa cuida dos que quebram as regras.

Meu estômago se revirou.

— A partir de hoje, é minha empregada particular. Vai me servir, vai estar à disposição. E se eu disser "vá embora", você some. Se eu disser "fique", você permanece calada. — Ele virou as costas. — E se eu não disser nada... você espera.

Eu não consegui responder. Nem sim, nem não. Só fiquei ali, com o coração esmagado entre os ossos do peito e o sangue martelando nos meus ouvidos.

Uma mulher de rosto magro e expressão dura se aproximou. Carregava um crachá com o nome "Irina".

— Venha — disse, ríspida. — Eu vou te mostrar seus aposentos e suas obrigações.

Antes de segui-la, olhei para Vincent mais uma vez. Ele já estava de costas, subindo lentamente os degraus da escadaria com a segurança de quem nunca precisou correr.

A mansão era mais do que uma casa. Era uma fortaleza. Um labirinto de silêncio, medo e segredos.

E agora, eu fazia parte dele.

Continua...

Capítulos
1 Capítulo: 01
2 Capitulo: 02 - A escolha
3 Capítulo:03 - O Começo Do Fim
4 Capitulo: 04 - A Casa dos Silêncios
5 A primeira ferida
6 O preço da mentira
7 Capítulo: 7
8 Capítulo 8
9 Capítulo 09
10 Capítulo: 10 - A escada de mármore
11 Capítulo: 11 - Sangue e Juramento
12 capítulo: 12 - Corpo e confronto
13 Capítulo 13 – Mãos que tremem, olhos que miram
14 Capítulo 14 – Primeiro disparo, último silêncio
15 capítulo: 15 - Cinzas na respiração
16 capítulo:16 ecos sob a pele
17 capítulo: 17 - No limiar entre bela e a lâmina
18 Capítulo 18 – Sombras em Movimento
19 Capítulo 19 – Onde a Verdade se Cala
20 Capítulo 20 – O eco que não se cala
21 Capitulo 21 – A distância entre o gatilho e o toque
22 Capítulo 22 – O inimigo dentro, o fogo fora
23 Capítulo 23 – Vozes sob tortura, silêncios sob ameaça
24 Capítulo 24 – A casa sangra por dentro
25 Capítulo 25 – Onde nascem os monstros
26 Capítulo 26 – O que resta quando o fogo apaga
27 Capítulo 27 – Aquilo que floresce entre as cinzas
28 Capítulo 28 – O lobo que sorri
29 Capítulo 29 – O Banquete das Sombras
30 Capítulo 30 – Cinzas do Passado
31 Capítulo 31 – Aqueles que Espreitam na Névoa
32 Capítulo 32 – O Rosto da Névoa
33 Capítulo 33 – O Sussurro e a Faca
34 Capítulo 34 – A Cicatriz que Fala
35 Capítulo 35 – Ecos de Vidro
36 Capítulo 36 – A Caça do Espelho
37 Capítulo 37 – Entre Sombras e Suspeitas
38 Capítulo 38 – A Sombra Entre Nós
39 Capítulo 39 – O Labirinto da Mente
40 Capítulo 40 – Ecos do Invisível
41 Capítulo 41 – O Prelúdio da Sombra
42 Capítulo 42 – O Espelho da Caça
43 Capítulo 43 – A Primeira Fenda
44 Capítulo 44 – A Caça Silenciosa
Capítulos

Atualizado até capítulo 44

1
Capítulo: 01
2
Capitulo: 02 - A escolha
3
Capítulo:03 - O Começo Do Fim
4
Capitulo: 04 - A Casa dos Silêncios
5
A primeira ferida
6
O preço da mentira
7
Capítulo: 7
8
Capítulo 8
9
Capítulo 09
10
Capítulo: 10 - A escada de mármore
11
Capítulo: 11 - Sangue e Juramento
12
capítulo: 12 - Corpo e confronto
13
Capítulo 13 – Mãos que tremem, olhos que miram
14
Capítulo 14 – Primeiro disparo, último silêncio
15
capítulo: 15 - Cinzas na respiração
16
capítulo:16 ecos sob a pele
17
capítulo: 17 - No limiar entre bela e a lâmina
18
Capítulo 18 – Sombras em Movimento
19
Capítulo 19 – Onde a Verdade se Cala
20
Capítulo 20 – O eco que não se cala
21
Capitulo 21 – A distância entre o gatilho e o toque
22
Capítulo 22 – O inimigo dentro, o fogo fora
23
Capítulo 23 – Vozes sob tortura, silêncios sob ameaça
24
Capítulo 24 – A casa sangra por dentro
25
Capítulo 25 – Onde nascem os monstros
26
Capítulo 26 – O que resta quando o fogo apaga
27
Capítulo 27 – Aquilo que floresce entre as cinzas
28
Capítulo 28 – O lobo que sorri
29
Capítulo 29 – O Banquete das Sombras
30
Capítulo 30 – Cinzas do Passado
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Capítulo 31 – Aqueles que Espreitam na Névoa
32
Capítulo 32 – O Rosto da Névoa
33
Capítulo 33 – O Sussurro e a Faca
34
Capítulo 34 – A Cicatriz que Fala
35
Capítulo 35 – Ecos de Vidro
36
Capítulo 36 – A Caça do Espelho
37
Capítulo 37 – Entre Sombras e Suspeitas
38
Capítulo 38 – A Sombra Entre Nós
39
Capítulo 39 – O Labirinto da Mente
40
Capítulo 40 – Ecos do Invisível
41
Capítulo 41 – O Prelúdio da Sombra
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Capítulo 42 – O Espelho da Caça
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Capítulo 44 – A Caça Silenciosa

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