[Narrado por Viviane]
Desci as escadas com a mala nas mãos, o coração dividido entre a empolgação pelo final de semana com a Bárbara e o aperto no peito pela ausência da minha mãe. Ela não apareceu. De novo. Nem um abraço. Nem um “se cuida”.
A dor da indiferença dela me perfurava como navalha.
Meu pai me aguardava na sala, em silêncio. Sorriso forçado, olhos carregados. Tentei fingir normalidade.
— Vamos, filha? — ele disse, pegando as chaves do carro.
— Pai… cadê a mãe? Eu queria me despedir dela.
Ele hesitou antes de responder, olhando pro chão por um segundo.
— Ela… tá com dor de cabeça. Deitou pra descansar. Não tá bem.
Não insisti. Já estava acostumada com essa desculpa esfarrapada.
— Entendi. Vamos, então.
O caminho até a casa da Bárbara foi um silêncio denso, daqueles que gritam por dentro. A noite caía lá fora, e eu, do lado de dentro, só pensava no vazio que minha mãe tinha deixado mesmo estando viva e tão perto.
Chegando lá, já ia abrir a porta do carro quando meu pai me chamou de novo.
— Filha… perdoa sua mãe. Ela tá passando por muita pressão no trabalho. Isso mexe com ela.
Respirei fundo.
— Eu entendo, pai. De verdade. Mas isso não justifica a forma como ela me trata. Ela me ignora como se eu fosse um peso. Não é só trabalho.
Ele baixou os olhos. Queria dizer algo, mas engoliu.
— Tchau, pai.
— Juízo, filha.
Saí do carro e fui recebida pela minha melhor amiga.
— Até que enfim, Vivi! — Bárbara abriu a porta sorrindo — Entra logo, mulher!
— Valeu, amiga!
A casa dela sempre foi meu refúgio. Rimos, fofocamos, falamos besteira o resto da tarde. Quando anoiteceu, começamos a nos arrumar pro baile no morro. Eu estava nervosa. Nunca tinha ido a um lugar assim, mas ao mesmo tempo… precisava sair, viver. Respirar algo que não fosse aquela tristeza que me esperava em casa.
Coloquei o vestido que tinha escolhido com tanto cuidado. Justo, provocante, sem ser vulgar. Queria me sentir bonita. Desejada. Queria me sentir viva.
Mas, mesmo com a música alta no fundo e a maquiagem feita, a ausência dela ainda latejava em mim.
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[Narrado por Daniel]
Meu nome é Daniel. Tenho 49 anos, sou advogado. E sou pai da mulher mais linda e forte que já conheci: Viviane.
Mas nem sempre foi fácil ser o pai que ela precisava.
Sou casado com Sofia há mais de duas décadas. E se tem uma palavra que define esse casamento… é inferno. Começou como amor. Um amor louco, impulsivo, daqueles que te consome. Mas foi virando prisão. Ciúmes. Controle. Gritos.
A primeira grande briga foi o estopim. Eu saí de casa furioso, fui beber. E numa dessas madrugadas de fraqueza… acabei nos braços de outra. Valéria.
Linda. Doce. Iluminada.
No começo foi só um erro. Depois, um segredo. E logo virou salvação. Me apaixonei por ela. Tive coragem de contar tudo pra Sofia. Disse que queria me separar, recomeçar. Ela chorou, implorou, mas eu estava decidido.
Valéria era minha nova chance.
Quando ela engravidou, foi o dia mais feliz da minha vida. Montamos um lar. Planejamos cada detalhe da chegada da nossa filha. Ela ficou ainda mais bonita com aquela barriga, radiante.
Mas o destino é cruel.
No parto, tudo deu errado. Os médicos vieram com o olhar quebrado e a notícia que despedaçou minha alma: Valéria não resistiu.
Entrei naquela sala e vi meu mundo destruído. Ela, pálida, imóvel. A mulher que me fez acreditar de novo no amor… tinha ido embora.
Quis morrer com ela.
Mas aí me lembraram da bebê. A pequena Viviane. Fui até a incubadora e vi o rostinho dela. Era a cara da mãe. Eu chorei tanto. Tinha perdido o amor da minha vida, mas ganhado uma razão pra seguir.
Organizei o enterro como um zumbi. E dias depois, quando voltei ao hospital pra buscar minha filha… encontrei Sofia.
Ela disse que estava visitando uma amiga. Quando ouviu tudo que aconteceu, me ofereceu ajuda. Disse que nenhuma criança deveria crescer sem mãe.
No começo, relutei. Mas aceitei.
Ela cuidou da Vivi com carinho. Nos primeiros cinco anos, foi tudo bem. Ela parecia outra mulher. Amorosa. Presente. Mas, com o tempo… esfriou. Começou a se afastar. Já não beijava mais a menina. Não dizia que amava. Era um cuidado mecânico. Sem alma.
Vi a mudança, mas calei. Sofia tinha me ajudado no pior momento da minha vida. Achei que devia isso a ela. Mas o tempo passou. E hoje, com Viviane adulta, eu vejo a dor estampada nos olhos dela. A ausência da mãe, mesmo com ela viva dentro de casa, é um peso que minha filha não merece mais carregar.
Cansei de me calar.
Tá na hora da verdade. Tá na hora da Vivi saber quem realmente é a mulher que a criou. E quem foi a mulher que a gerou.
E que o nome dela… era Valéria.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Maria Karolayne
eu sabia que ela não era mãe dela ninguém merece passar por isso não /Frown//Frown//Frown//Frown/
2025-06-04
1
Mclaudia Oliveira
Cretina 🤬😤
2025-06-06
0
Mavia Dantas
/Sob//Sob//Sob//Sob/
2025-06-05
0