2 Castelo de cartas

A biblioteca era o único lugar naquela casa onde eu ainda conseguia respirar. Não por causa dos livros eu nunca fui de passar horas lendo. Era pela lembrança. Meu pai costumava se trancar ali por horas, e eu… bom, eu usava o espaço pra escapar do mundo.

Hoje, eu só queria uma garrafa de uísque escondida atrás de alguma primeira edição.

A porta estava entreaberta, e eu empurrei com o ombro sem bater. O som que ouvi primeiro não era de páginas sendo folheadas. Era riso. Baixo. Feminino.

Meus passos cessaram.

Riccardo estava lá, como um bom anfitrião da própria casa. Sentado no sofá de couro, descontraído. A camisa social aberta no colarinho, as mangas dobradas nos antebraços. O sorriso cínico esculpido no rosto. E sentada ao lado dele, com uma taça de vinho na mão e os olhos brilhando, estava Bianca Valente.

A irmã da noiva.

Ela jogava o cabelo loiro para trás com um exagero que só as mulheres perigosas dominam. Estava rindo de algo que ele sussurrou, e por um instante rápido demais vi a mão dela repousar na coxa dele.

Nada explícito. Nada que eu pudesse provar. Mas suficiente para acender um alerta na minha mente.

Mateo - Interrompo alguma coisa? — perguntei, encostado no batente da porta.

Riccardo virou o rosto devagar, o sorriso ainda no lugar.

Riccardo - Ora, se não é o irmão perdido. — Ele se levantou com a mesma calma ensaiada de sempre.

Riccardo - Pensei que já estivesse se entediando da velha mansão.

Mateo - Estou me readaptando — respondi, os olhos alternando entre ele e Bianca, que agora parecia mais composta, como se tivesse voltado a lembrar que havia um mundo lá fora.

Mateo - Só vim buscar um uísque. Ou um motivo pra sair daqui antes de cometer um crime.

Ricardo - Ainda o mesmo — ele riu. — O bar está ali. Sirva-se.

Bianca não disse uma palavra. Só levantou e caminhou devagar até a porta. Quando passou por mim, deixou um leve perfume no ar — doce, intenso, impróprio.

Bianca- Boa noite, Mateo — disse com um sorriso que não alcançava os olhos.

Eu a observei sair, e depois voltei meu olhar pro meu irmão.Ele já tinha voltado ao sofá. Relaxado. Como se nada demais tivesse acontecido.

Mas eu conheço Riccardo.

Conheço aquele olhar de caçador entediado.

E conheço mulheres como Bianca.

Alguma coisa estava errada.

E eu não sabia o que ainda.

Mas a verdade… sempre sangra com o tempo.

Fiquei parado por alguns segundos, observando a porta ainda balançar levemente depois que Bianca saiu. O silêncio ficou mais pesado do que o normal. Riccardo voltou a se servir de vinho como se nada tivesse acontecido.

Mateo - O que fazia aqui com sua cunhada… sozinhos? — perguntei, cruzando os braços e encostando de novo no batente da porta, o tom calmo, mas firme.

Ele ergueu os olhos lentamente, um sorrisinho debochado surgindo nos lábios.

Riccardo - Mateo, por favor… não vai começar.

Mateo - Começar o quê? A perguntar o que diabos minha futura cunhada fazia com você, rindo como se tivesse esquecido que a irmã dela tá prestes a entrar com você na igreja?

Riccardo - Bianca é uma garota espontânea — ele deu de ombros, bebendo mais um gole.

Riccardo - Não sabe se comportar como a Aurora, toda controlada. Às vezes vem aqui pra conversar, só isso.

Mateo - Sentada colada em você desse jeito? — soltei, me aproximando. — Aquilo não era uma conversa, Riccardo. Era um jogo. E você tava jogando.

Riccardo - Você sempre foi dramático demais — ele disse, agora mais sério. — Tá há o quê… dois dias em casa e já quer bancar o juiz moral?

Mateo - Eu só não sou cego — rebati, encarando-o. — E conheço você melhor do que ninguém. Você se cansa fácil. E quando se cansa, destrói tudo ao redor. Inclusive pessoas.

Riccardo - Cuidado com o que insinua, irmão — ele disse num tom baixo, se levantando do sofá. — Aurora é parte do plano. Um plano que, aliás, vai garantir o futuro de todos nós. Inclusive o seu. Não estrague isso com desconfianças inúteis.

Mateo - Você está apaixonado por ela?

Ele sorriu. Não um sorriso feliz. Foi cínico. Quase vazio.

Riccardo - Apaixonado? Mateo, isso é casamento. Não conto contos de fadas. Eu faço negócios. E Aurora é o melhor deles.

Aquilo me fez querer socá-lo.

Mas não fiz. Ainda não.

Porque algo me dizia que esse castelo de cartas que ele construiu estava prestes a desmoronar.

E, quando caísse, não seria por dinheiro.

Seria por causa dela.

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Comments

Silvana Luiza Dos Santos

Silvana Luiza Dos Santos

fuja com ela Matheus vc merece ela mais que esse otario

2025-06-01

1

Salete Silva

Salete Silva

que cara mais escroto e essa Bianca é uma vadia.

2025-06-06

1

Leoneide Alvez

Leoneide Alvez

que ranço desse cara

2025-06-06

1

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