CAPÍTULO V - ENTRE MURALHAS E RESPIRAÇÕES

O título de Guardiã de Sangue mudou tudo... e ao mesmo tempo, nada.

Avelyn agora tinha aposentos próprios dentro da Ala Real. Guardas a saudavam com reverência. Conselheiros a respeitavam em silêncio. Mas no fundo… ela só queria uma coisa:

Aquela que sempre protegera em silêncio. Agora, que a amava em voz alta.

---

Naquela noite, o palácio descansava sob um céu sem estrelas. Mas Nyra estava desperta.

Percorreu os corredores descalça, vestida com uma túnica leve, os cabelos soltos, o coração aos pulos.

A porta de Avelyn estava entreaberta. Ela não bateu.

Entrou.

Avelyn estava sentada à beira da cama, os músculos do ombro enfaixados, a pele bronzeada ainda marcada por feridas frescas.

— Você não deveria estar andando — Avelyn disse, com um sorrisinho cansado.

— Você também não. — Nyra caminhou até ela. — Mas está aqui. Como sempre esteve.

Avelyn a olhou… e tudo silenciou.

Nyra então sentou-se ao seu lado.

— Desde que voltei… não durmo. Sinto que perdi algo. Ou que estou à beira de perder.

— Você está segura agora. Eu jurei.

— Eu não quero segurança. Eu quero você.

O mundo desabou em silêncio.

Avelyn respirou fundo, como se lutasse contra algo maior do que todas as guerras que já enfrentou.

— Nyra… se alguém entrar…

— Que entre. Que veja. Que espalhe. Eu sou tua. E se o mundo não aceitar… ele que se dobre.

Avelyn então tocou o rosto dela. Com delicadeza brutal. Como quem toca o centro da própria fé.

E a beijou.

Não como das outras vezes, escondido, breve, furtivo. Mas como se fosse a primeira e a última vez juntas.

Um beijo longo, quente, urgente. Um beijo com gosto de promessa, de noites perdidas, de futuros sonhados.

Nyra então segurou a mão de Avelyn e a levou ao coração.

— Aqui. É o teu lar.

Avelyn, com olhos marejados, a puxou para mais perto.

— E aqui… — murmurou, encostando a testa na dela — é onde morro toda vez que você parte.

E ali, no quarto simples da mulher mais temida do império, a princesa tirou a túnica devagar.

Pele com pele. Sussurros no escuro. Olhares que falavam mais do que qualquer poesia.

Beijos pelo corpo como bênçãos. Mãos tremendo de desejo e reverência.

Não foi pressa. Foi entrega. Não foi pecado. Foi destino.

E quando enfim repousaram entre os lençóis amassados, Nyra segurou a mão de Avelyn contra os lábios.

— Você me protegeu do mundo inteiro. Agora deixa eu proteger você de si mesma.

Avelyn sorriu, já meio adormecida.

— Se for nos teus braços… eu me rendo.

E o silêncio que se seguiu… era de paz. De verdade. De amor consumado.

O amor, uma vez consumado, tornou-se uma chama difícil de esconder.

Olhares demorados nos corredores. Toques rápidos sob a mesa do Conselho. Noites em que Nyra surgia nos aposentos de Avelyn com um livro na mão e desejo nos olhos.

Mas sempre havia olhos. E nem todos fiéis.

Um bilhete anônimo chegou à sala do trono.

> “Se quer manter intacta a imagem da sua herdeira, controle sua cadela.”

O rei Caelum não demonstrou emoção. Apenas queimou o papel ali mesmo… e mandou dobrar a vigilância.

Mas o silêncio era apenas o início da tempestade.

---

Na manhã seguinte, Kael de Sorran apareceu no reino com uma comitiva surpresa. Um gesto diplomático, disfarçado de “visita amigável”.

Mas quando Nyra e Avelyn cruzaram o salão, lado a lado, Kael sorriu… como quem morde devagar.

— Ouvi rumores deliciosos — disse, servindo-se de vinho diante do Conselho. — Que vossa alteza anda… se distraindo com a guarda real.

Nyra ergueu o queixo.

— Cuidado, príncipe. Algumas distrações sangram de volta.

Avelyn encostou sutilmente a mão no punho da espada.

— Digo isso apenas porque, se for verdade, o mundo irá questionar sua sucessão. Uma herdeira... com gostos tão seletivos... pode perder apoios importantes.

Nyra andou até ele. Perto. Perto o suficiente para o silêncio cortar.

— Príncipe, meu trono não é sustentado por alianças forçadas. É sustentado por respeito... e medo. E se quiser testar qual dos dois te sustenta, te encontro ao amanhecer, sem testemunhas.

Kael riu, mas os olhos dele gelaram.

— Parece que a princesa virou loba.

— Sempre fui. Você que não ouviu o uivo.

---

Naquela noite, Nyra se jogou nos braços de Avelyn, o corpo tenso, mas o olhar firme.

— Eles querem usar meu amor contra mim. Mas não vão conseguir.

— Eles podem tentar, Nyra. Mas pra te derrubar… terão que passar por mim.

Nyra acariciou o rosto dela, os olhos marejando.

— E se for por ti que me derrubem… que seja caindo nos teus braços.

---

Horas depois, o rei Caelum chamou ambas em particular.

A sala estava vazia. Só ele, Nyra, Avelyn e uma garrafa de um vinho raro, que só abria em tempos de guerra.

— Eu sabia. Sempre soube — disse ele, ao servir três cálices. — E nunca fui contra. Mas agora… a ameaça é real. Eles sabem.

Nyra apertou a mão de Avelyn, firme.

— Então o que o senhor vai fazer?

O rei encarou a filha. Depois Avelyn. Então disse:

— Proteger. Como sempre fiz. Como ela faz. — E olhou para a guerreira com algo além do respeito. — Você é mais que a espada dela. É a âncora. E por isso, Avelyn… oficialmente, a partir de hoje:

Você será promovida a Capitã das Forças Pessoais da Princesa.

Um novo título. Um novo poder. E um novo escudo contra o mundo.

— Mas… — Caelum completou, erguendo o cálice. — Se algum inimigo ousar tocar nesse amor... queime o mundo. Com meu aval.

E brindaram.

Ao segredo.

Ao trono.

Ao amor que ninguém mais seguraria.

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Syaifudin Fudin

Syaifudin Fudin

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2025-05-29

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