O abraço demorou. Mais do que qualquer outro que eles já tinham dado na vida. E, ao mesmo tempo, parecia pouco. Pouco pra tudo que precisava ser dito, pra tudo que queimava por dentro, pra tudo que eles seguraram por tanto, tanto tempo.
Quando, enfim, se afastaram, Luca limpou o rosto, meio constrangido, meio perdido, meio... assustado demais.
Duarte respirou fundo, apertando as mãos nos joelhos, olhando pro chão. — Isso... — tentou falar, a voz falhou —... isso foi...
— Intenso. — completou Luca, encarando o próprio tênis como se aquilo fosse a coisa mais interessante do mundo.
Duarte soltou uma risada curta, seca. — É. Intenso.
O silêncio ficou estranho. Pesado. Não como antes. Antes era cheio de desejo, de curiosidade, de vontade. Agora... era cheio de medo.
Porque agora tava real. Agora não dava mais pra fingir que era só um café, só um esbarrão, só uma coincidência bonita numa cidade qualquer.
Agora era eles. Agora... doía.
Duarte respirou fundo. O peito apertava. As mãos suavam. E aquela voz interna começou a gritar. “Corre. Corre agora. Antes que fique pior. Antes que doa mais. Antes que ele te veja demais. Antes que te larguem. Antes que... antes...”
Levantou, rápido demais. — Eu... — a voz saiu seca —... eu preciso...
Luca levantou também, confuso, o rosto se contraindo. — Precisa... o quê?
— Ir. — Duarte respondeu, enfiando as mãos nos bolsos, olhando pra qualquer lugar que não fosse Luca. — Eu... só... preciso.
O olhar de Luca quebrou. No meio. Na hora. — Tu tá... — a voz tremia —... fugindo de mim?
Duarte apertou os olhos. O corpo inteiro tremia. — Não é... não é de ti. Eu... — passou a mão no rosto, no cabelo, no pescoço, sem saber onde enfiar as mãos, o corpo, a culpa —... é de mim.
Luca respirou fundo. As mãos tremiam tanto que quase não sabia como segurar a mochila. — Jura? Porque... — engoliu seco, apertando os olhos —... de onde eu tô vendo, parece igualzinho a quando... — a voz rachou —... todo mundo foi embora.
O peito de Duarte explodiu. — Não diz isso. Por favor... não diz isso.
Luca deu dois passos pra trás. — Então me fala o que é isso, Duarte. Fala. Porque... eu não sei se aguento mais... — a voz falhou —... ser alguém fácil de largar.
Duarte apertou os olhos, apertou os punhos, sentiu o estômago virar. — Eu... — tentou falar, mas a voz simplesmente não veio. — Eu não sei. Eu não sei, Luca. Eu... — balançou a cabeça —... eu tô com medo.
— Eu também. — Luca respondeu, as lágrimas escorrendo, quentes, rápidas. — Mas eu tô aqui. E tu... — apertou os olhos —... tu tá indo embora.
O silêncio ficou mais pesado do que qualquer palavra.
Por alguns segundos, Duarte ficou ali, imóvel, o corpo inteiro tremendo, o peito esmagando. Pensou em falar. Pensou em puxar Luca. Pensou em dizer qualquer coisa.
Mas não disse.
Deu dois passos pra trás. E virou as costas.
E, enquanto se afastava, sentiu... como se arrancassem um pedaço dele.
Luca ficou parado. Sozinho. O rosto molhado. As mãos tremendo. O peito doendo mais do que nunca.
E, pela primeira vez, pensou: “Talvez... talvez eu realmente seja fácil de largar.”
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Atualizado até capítulo 36
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