O silêncio no carro era tão denso que poderia ser cortado com uma lâmina. Gabriel dirigia com uma mão no volante, a outra descansando no joelho, como se nada no mundo pudesse abalá-lo.
Já Clara, do banco do passageiro, mantinha o olhar fixo na janela, como se as luzes da cidade pudessem distraí-la do fato de que, dali a poucos dias, estaria oficialmente casada com aquele homem. Um estranho. Um CEO arrogante, controlador e, para seu completo desgosto... perigosamente sedutor.
— Vamos direto para o apartamento — informou Gabriel, quebrando o silêncio com sua voz grave e autoritária.
Ela virou o rosto lentamente, arqueando uma sobrancelha.
— E quem disse que eu vou morar com você?
Ele sorriu, aquele sorriso torto, carregado de prepotência.
— Está no contrato. — Jogou, seco. — Casamento, Clara. E casais, normalmente, dividem o mesmo teto.
— É? Que curioso... Porque jurava que era um casamento de fachada. — Cruzou os braços. — Não vejo necessidade de compartilhar espaço com você.
Ele apertou o volante, os olhos semicerrados.
— Aos olhos do mundo, somos marido e mulher. E eu não faço nada pela metade. Se vai fingir, vai fingir direito. Isso inclui viver comigo.
Ela riu, seca.
— E quem garante que você vai sobreviver a isso?
— Isso serve pra você também — respondeu, a voz mais rouca, desafiadora. — Acha que consegue me enfrentar, Clara? Acha que pode me provocar sem consequências?
Ela se inclinou levemente na direção dele, o olhar faiscando.
— Eu não acho, Gabriel. Eu tenho certeza.
Ele desviou o olhar da estrada para ela, só por um segundo. Tempo suficiente para que um choque elétrico invisível percorresse o espaço entre eles.
— Você é insuportável — rosnou.
— E você é insuportável e metido a Deus — rebateu, seca.
Chegaram.
O edifício parecia algo saído de uma revista de luxo. Vidros espelhados, detalhes dourados, porteiros impecáveis e um saguão digno de hotel cinco estrelas. O elevador privativo os levou direto à cobertura.
Assim que as portas se abriram, Clara prendeu a respiração. O apartamento era simplesmente deslumbrante. Pé direito altíssimo, janelas de vidro do chão ao teto, vista panorâmica da cidade inteira. A decoração misturava preto, cinza, branco e tons de madeira, tudo de extremo bom gosto.
Mas ela não estava disposta a se impressionar. Pelo menos não na frente dele.
— Bem-vinda à sua nova casa — disse Gabriel, largando as chaves sobre uma mesa de mármore. — Espero que saiba se comportar.
Ela soltou uma risada sarcástica.
— Engraçado... pensei exatamente o mesmo sobre você.
Ele a encarou por alguns segundos, como se avaliasse até onde ela podia ir. Depois respirou fundo, afrouxando a gravata e se jogou no sofá de couro preto.
— Precisamos estabelecer algumas regras — disse, passando a mão pelos cabelos. — Isso precisa funcionar. E não estou disposto a ver isso desmoronar por causa do seu... gênio difícil.
Clara cruzou os braços, caminhando devagar pela sala.
— Ótimo. Vamos lá. Regra número um: cada um no seu espaço. Quero um quarto só meu.
— Feito — respondeu, dando de ombros. — Desde que, em aparições públicas, você continue sendo a esposa perfeita.
— Sem problema. E mais uma coisa... — Ela parou na frente dele, cruzando os braços. — Não tente me controlar, Gabriel. Não sou uma das suas secretárias nem das suas... acompanhantes de luxo.
Ele riu, aquele riso rouco e provocante que fez seu corpo inteiro se arrepiar, para seu completo desgosto.
— Clara... se eu quisesse controle total, teria comprado uma boneca, não um contrato com você.
Ela arqueou a sobrancelha, mordendo a língua para não perder a linha.
— Ainda bem que sabe disso.
Ele se levantou, devagar, com aquele jeito predatório, até ficar perigosamente perto dela. Clara recuou meio passo, mas se obrigou a manter o queixo erguido.
— E você, Clara — sua voz saiu mais baixa, rouca, arrastada —, faria bem em lembrar que quem costuma ditar as regras... sou eu.
O ar ficou pesado.
Denso.
Quente.
Ela o encarou, desafiadora.
— Só se eu permitir.
Por um segundo, parecia que ele ia beijá-la. O olhar desceu dos olhos dela para a boca, e o silêncio foi preenchido apenas pelo som das próprias respirações, rápidas, descompassadas.
Mas ele se afastou. Frio. Calculado.
— O quarto de hóspedes é no final do corredor — disse, voltando a ajustar a gravata. — Amanhã às oito, temos uma reunião com o decorador. E depois, sessão de fotos para o anúncio oficial do casamento.
Ela bufou.
— Mal posso esperar.
— Eu também — ele respondeu, sem olhar para trás. — Afinal, isso... — fez um gesto indicando os dois — ...promete ser divertido.
Clara apertou os olhos, apertou os punhos e, no fundo, uma voz incômoda dentro dela sussurrou que, sim... ele estava certo.
Isso prometia ser muito mais do que ela imaginava.
Clara caminhou até o quarto de hóspedes com passos firmes, determinada a não se deixar afetar. O espaço era enorme, luxuoso e impecavelmente organizado, como tudo naquele apartamento. Cama king-size, banheiro privativo, varanda com vista para a cidade e um closet que parecia uma pequena loja de grife.
Sobre a cama, havia várias caixas.
Ela arqueou a sobrancelha ao se aproximar. Abriu uma delas e encontrou... roupas. Vestidos, conjuntos, lingeries — todas escolhidas em seu tamanho.
— Esse homem é louco... — murmurou, segurando um conjunto de seda preta que, definitivamente, não tinha cara de algo que ela teria escolhido.
— Imagino que tenha encontrado seus presentes. — A voz grave ecoou atrás dela, fazendo Clara se virar bruscamente.
Gabriel estava escorado no batente da porta, braços cruzados, observando-a como quem analisa uma peça rara, ou uma presa interessante.
— Invadir o quarto das pessoas é um dos seus hobbies? — Ela largou o tecido de volta na caixa.
— Só vim checar se estava confortável. — Seu sorriso torto denunciava que ele sabia exatamente o efeito que causava. — E, claro, garantir que você saiba que não precisa trazer nada da sua antiga vida. Tudo o que precisa está aqui.
Ela cruzou os braços.
— Isso é uma tentativa patética de controle ou uma forma disfarçada de me impressionar?
— Nenhuma das duas. — Ele deu um passo para dentro, lentamente, como um predador que cerca a presa. — É apenas praticidade. Você agora faz parte da minha vida, Clara. E, gostando ou não, isso inclui certos... benefícios.
Clara apertou os olhos.
— Benefícios? — Deu um passo na direção dele, sem recuar. — Não se iluda, Gabriel. Eu não sou uma dessas mulheres que se derrete por cartões de crédito, roupas caras e jantares em lugares que nem sabem pronunciar meu nome.
Ele riu, lento, provocante.
— Ah, Clara... — Aproximou-se mais um pouco, tão perto que ela pôde sentir o perfume amadeirado, quente, viciante. — Você ainda não percebeu, mas o que me atrai em você não tem absolutamente nada a ver com submissão.
Ela engoliu em seco, odiando o arrepio que percorreu sua espinha.
— Então o que é? — desafiou, mantendo o olhar firme.
Gabriel levou a mão até o queixo dela, segurando de forma firme, porém surpreendentemente gentil, obrigando-a a manter o olhar nos olhos dele.
— É exatamente isso. — Sua voz saiu baixa, arrastada. — Você não se dobra. Você me enfrenta. Você me provoca. E, no meio desse jogo, Clara... você não faz ideia do quanto isso me excita.
Por um segundo, tudo parou. O tempo, o ar, o próprio mundo. Estavam perigosamente próximos, olhando um para o outro como se qualquer centelha fosse suficiente para incendiar tudo.
Ela então, empurrou a mão dele para longe, respirando fundo, tentando recuperar o controle que, naquele momento, parecia escorrer pelos dedos.
— Cuide-se, Gabriel — disse, com a voz mais firme do que imaginava conseguir. — Porque você está brincando com algo muito mais perigoso do que pensa.
Ele sorriu, aquele sorriso de quem nunca perde.
— Eu conto com isso.
Sem dizer mais uma palavra, ele se virou e saiu do quarto, deixando-a ali, com o coração descompassado e a respiração falha.
Clara apertou os olhos, passou a mão nos cabelos e se deixou cair sentada na cama.
— No que é que eu me meti? — sussurrou para si mesma.
No fundo, sabia a resposta.
E isso... era assustador.
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Atualizado até capítulo 47
Comments
Anonymous
Estão medindo forças kkk
2025-06-04
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Dulce Gama
KKK essa história está ótima estou adorando os pombinhos estão o tempo todo brigando eu estou me acabando de tanto rir 😂😂♥️♥️♥️♥️♥️👍👍👍👍👍🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁🌟🌟🌟🌟🌟
2025-05-26
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