Iris
Eu terminava de sair da pista de dança quando Homero entrou na minha frente.
— A próxima música é tua única chance de dançar comigo — ele disse, com aquele sorriso de propaganda de pasta de dente.
— Chance? — arqueei a sobrancelha. — Querido, a última vez que alguém achou que estava me dando uma chance, saiu com três costelas quebradas. E por incrível que pareça estava usando terno também.
Ele recolheu a mão, ainda sorrindo, mas havia um traço de frustração ali. Ótimo. Melhor aprender desde já.
— Boa sorte, Homero — disse, passando por ele e voltando para a mesa.
De longe, Stefani me lançou um olhar que dizia você vai ficar sozinha pra sempre. Eu retribuí com outro que dizia melhor sozinha do que morta por decepção, dali acabei minha noite pois tinha que cavar umas covas no dia seguinte.
Missão 01 — Armazém 43, Zona Portuária, 03h14
Tudo estava errado.
O plano era simples: entrar, coletar o drive de informações no galpão, sair. Mas a comunicação com Homero caiu no minuto em que ele passou do perímetro interno. Eu pedi atualização. Nada. Só silêncio. Como um idiota que resolveu jogar o herói.
Então fiz o que sempre faço: entrei.
Três inimigos estavam armando emboscada na lateral do galpão. Eles não esperavam que alguém invadisse pelo teto. Ruins de mira. Melhor pra mim.
Um giro, dois tiros, uma rasteira — e pronto. O último homem ainda tentava erguer a arma quando pressionei a lâmina contra sua garganta.
— Onde ele está?
O sujeito apontou com o olhar, aterrorizado. Atrás de um container de metal, encontrei Homero imobilizando um dos caras. Um corte no braço, nada grave. Mas sério o suficiente pra deixá-lo lento.
— Você está brincando comigo, né? — Minha voz era mais afiada que a lâmina ainda em minha mão.
— Eu ia avisar, mas fui interceptado. Precisava lidar antes...
— Antes? Você quebrou a regra número um de uma missão em dupla: atualize. Sempre. E se eu não tivesse vindo? Ia morrer abraçado nesse container?
Ele não respondeu. Claro que não. O tipo dele nunca responde quando está errado.
Voltei com ele até o ponto de extração. A adrenalina ainda fervia em mim. Ao chegar na base, nem esperei ele terminar de descer da van antes de invadir a sala da CEO.
— Você enlouqueceu? — perguntei, batendo a porta com força. — Quer me punir? Me manda limpar banheiro, não me dá um parceiro que nem sabe seguir protocolo!
Ela ergueu os olhos do tablet, calma demais pro meu gosto.
— Bom dia, pra você também. — disse em um tom sarcastico. — Ele é o melhor da TecCorp.
— Ele quase virou estatística da TecCorp. Você quer uma operação ou uma tragédia?
— Iris — ela respirou fundo —, você sempre trabalhou sozinha, mesmo estando em equipe. Essa é sua chance de aprender a confiar e a liderar sem se centralizar.
— Eu não sou babá.
— Não, você é uma arma. E armas precisam de controle. Você vai aprender. Nem que seja na marra.
Saí da sala bufando, mas sem argumento. Tinha acabado de salvar um idiota — e, ainda por cima, ele era meu parceiro.
Homero
Ela não disse uma palavra no caminho de volta. Só o som do motor e da minha respiração pesada. Eu estava tentando entender o que tinha feito de tão errado.
Mas a forma como ela me olhou… como se eu fosse um fardo.
Talvez fosse.
Ou talvez ela só estivesse com medo de que eu me aproximasse. Porque se alguém chegar muito perto, pode ver as rachaduras.
E alguma coisa me dizia que as dela eram mais profundas do que qualquer missão poderia mostrar.
Chegamos na Antcorp ela ainda estava bem irritada, saiu do carro e bateu a porta como se fosse papel, ela não apareceu no refeitório então fui procura-la, ela com certeza estava descarregando sua raiva então o primeiro lugar que fui, foi a sala de treinamento.
Assim que cheguei o som do impacto ecoou pela academia. O corpo de Antônio voou no ar como um saco de farinha e caiu para fora do ringue com um baque seco.
— Ponto pra mim — disse Iris, ainda em posição de ataque.
Ela limpou o suor da testa com o antebraço, sem perder o fôlego. Estava no auge. Sempre estava.
Entrei no espaço naquele exato momento, parando no limiar do tatame, surpreso.
— Santo Deus — murmurou.
— Relaxa, novato — disse Antônio, rindo do chão, os braços abertos como se tivesse acabado de sair de uma montanha-russa. — Isso aí é o nosso jeitinho carinhoso de brincar. A Iris se diverte assim, quebrando ossos e egos.
— Você veio espionar ou tentar a sorte? — Iris disse, já saltando para fora do ringue com a leveza de quem não tinha acabado de arremessar um homem de oitenta quilos.
Homero ergueu as mãos, num gesto de paz.
— Na verdade, eu... pensei que talvez pudéssemos treinar juntos.
— Treinar juntos? — Ela estreitou os olhos. — Porque a última vez que trabalhamos "juntos", você decidiu brincar de esconde-esconde no meio de uma missão.
— Eu cometi um erro. E já ouvi o suficiente sobre isso, inclusive de você, três vezes. Só estou tentando... melhorar. Aprender com a melhor.
Iris parou por um segundo. Só um segundo. Mas ele percebeu. Alguma coisa naquela frase a tocou — ou talvez a irritou ainda mais.
— Homero — disse ela, com voz firme, andando até ficar cara a cara com ele — Você quer aprender comigo? Então presta atenção. Eu não sou sua mentora. Não sou sua amiga. E definitivamente não sou o tipo de pessoa que melhora os outros.
Ela se afastou, pegou a toalha e virou as costas.
— Mas se ainda quiser subir no ringue... o Antônio está livre. Ou quase.
— Eu passo — respondeu Homero, erguendo uma sobrancelha, enquanto Antônio ainda gemia de dor no fundo.
Ela estava prestes a sair da sala quando ele disse, mais baixo:
— Você sempre foi assim ou alguém fez você virar isso?
Iris congelou por um segundo. O ar pareceu mais pesado.
Ela não se virou. Apenas respondeu:
-- Alguém não. Alguns.
E saiu, deixando a porta bater atrás de si.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 82
Comments