Entre Garras e Jogadas
O escritório de Dante Morelli parecia um santuário proibido. Paredes de vidro escurecido, decoração minimalista, nada de retratos de família ou traços pessoais. Apenas arte cara, armas bem guardadas… e ele.
— Sente-se — ordenou, apontando para a poltrona de couro à sua frente.
Allegra obedeceu sem hesitar. Cada movimento seu era calculado. Ela não podia parecer curiosa demais, nem submissa. Havia estudado homens como ele por anos. Sabia que Dante Morelli era do tipo que lia pessoas como um livro aberto — e queimar páginas era uma de suas especialidades.
— Onde aprendeu a andar como quem governa o chão? — ele perguntou, erguendo a sobrancelha com leve ironia.
— Talvez eu tenha nascido pra mandar, não pra obedecer — retrucou, cruzando as pernas com elegância.
Os olhos dele desceram devagar por suas coxas à mostra. Sem disfarçar. Allegra sustentou o olhar, como se dissesse: olhe o quanto quiser, mas nunca terá controle sobre mim.
— Você é ousada — ele murmurou. — Isso pode te salvar… ou te destruir.
— Isso vale pros dois.
Um sorriso nasceu nos lábios dele. Lento, perigoso. E por um instante, Allegra se perguntou o que haveria atrás daquela máscara de poder. Um homem quebrado? Um assassino frio? Ou os dois?
— Eu te chamei aqui porque gosto de saber quem anda sob meu teto. Todos que trabalham pra mim têm algo a esconder. Qual é o seu segredo, Sofia?
É que meu nome não é Sofia, e eu vim destruir seu império por dentro, pensou. Mas respondeu:
— Meu segredo? Eu tenho medo de altura… mas continuo subindo. Sempre.
Dante deixou o copo de uísque sobre a mesa e inclinou-se levemente, como uma fera que fareja perigo… ou desafio.
— Está contratada, Sofia. Trabalhará no salão nobre. Comece hoje à noite.
Ela assentiu, sem sorrir.
Levantou-se, mas antes que pudesse dar dois passos, ele falou:
— E, Sofia?
Ela virou o rosto devagar.
— Se mentir pra mim… Eu vou saber.
Seus olhos se encontraram, e naquele instante, Allegra teve a certeza: se não tomasse cuidado, aquele homem a engoliria viva — e ela deixaria.
Capítulo 4 – Feridas Invisíveis
O relógio marcava duas da manhã quando Allegra saiu do salão nobre. Seus pés doíam nos saltos finos, mas sua mente estava afiada como nunca. Cada passo dado naquela noite era uma peça no tabuleiro — e Dante Morelli acabara de avançar o rei.
Ela não podia negar: o toque dele ainda queimava em sua pele. A forma como a defendeu diante de Lorenzo não parecia apenas encenação. Parecia posse. Desejo. Algo mais.
Mas ela não podia se permitir fraquejar.
No vestiário, trocou o vestido vermelho por uma calça jeans justa e jaqueta de couro. Tirou a maquiagem pesada, revelando a mulher por trás da máscara. A mulher que queria justiça.
Saía pelos fundos do cassino quando ouviu a voz grave atrás de si:
— Bonito disfarce… Mas seus olhos não mentem.
Ela girou rápido, a mão quase indo à adaga na cintura. Mas era Dante.
Encostado na parede, braços cruzados, olhar indecifrável.
— Você me seguiu? — ela perguntou, tensa.
— Mando em tudo aqui. Sei quem entra, quem sai… e quem esconde algo. — Ele se aproximou, os olhos cravados nos dela. — Você esconde algo, Sofia.
Ela respirou fundo, mantendo a fachada.
— Talvez o que eu esconda seja só o medo. Medo de ser mais uma peça no seu jogo.
Dante ergueu a mão, tocando de leve seu queixo.
— Você não é peça. É ameaça. E eu gosto disso.
Ela deveria recuar. Deveria afastar-se. Mas seu corpo se inclinou, quase imperceptivelmente, como se atraído por uma força maior que sua missão.
— Eu não vim aqui pra ser parte de nada — murmurou. — Muito menos sua.
— Ainda. — O sussurro dele veio perto demais.
O silêncio entre eles era uma corda esticada. Bastava um movimento em falso para tudo desmoronar.
Mas Dante se afastou.
— Descanse, Sofia. Amanhã começa de verdade. E no meu mundo, só os fortes sobrevivem.
E então ele sumiu na escuridão do corredor, deixando para trás apenas o aroma do seu perfume e a sensação de que o jogo entre eles acabara de mudar de nível.
Allegra encostou-se à parede, ofegante. Por dentro, mil batalhas silenciosas rugiam. Entre ódio e atração. Entre vingança e desejo.
Você não pode se apaixonar por ele, repetia como um mantra.
Mas seu coração… já começava a ignorar ordens.
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