Camila
Deixando de lado o susto por estar no corpo da vilã comecei a dar uma olhada no quarto onde acordei. As grandes janelas deixavam a luz suave do dia invadir o ambiente, banhando as paredes em tons quentes de marrom e dourado. O espaço era amplo, arejado, como se fosse um refúgio do mundo. Móveis elegantes, na tonalidade branca, contrastavam com a madeira escura dos detalhes, criando uma harmonia simples e sofisticada. Tapeçarias ricas adornavam as paredes, as suas cores vibrantes destacando-se contra o fundo suave.Em um canto, poltronas macias chamavam para um momento de descanso, e, no centro do quarto, a cama. Lençóis macios, como nuvens, e cobertores de peles peludas estavam cuidadosamente dobrados, convidando ao aconchego.
O conforto do lugar era inegável, mas algo dentro de mim, ainda atordoada pela estranheza da situação, me fez questionar. Mesmo rodeada de tanta beleza e elegância, onde estavam os criados? Onde estava quem deveria cuidar desse ambiente perfeito?
Eu olhei ao redor, buscando respostas. Nenhum som, nenhum movimento, a casa parecia deserta, e a única presença que me acompanhava era a minha própria, refletida nas tapeçarias e no espelho. No livro, nunca foi descrito como era a vida da vilã, e agora eu me via presa nela, sem saber o que esperar. Aquele quarto parecia ser um lugar de luxo, mas por que me sentia tão sozinha?
Decidi sair do quarto. Não sabia para onde estava indo, mas a curiosidade me puxava. Só que, assim que dei meus primeiros passos, percebi que algo não estava certo. Apenas alguns minutos de caminhada e minhas pernas começaram a doer como se eu não andasse há meses. Cada movimento parecia mais cansativo do que o anterior, e eu me perguntei se estava realmente em forma para isso.
A dor me fez parar por um momento, e foi quando comecei a reparar nos detalhes do corredor. As paredes estavam decoradas com quadros imensos, cujas bordas de ouro brilhavam com a luz suave que entrava pelas janelas. Eu deveria ser rica. Muito rica. Mas a riqueza não se resumia apenas aos quadros — a tapeçaria que cobria o chão, o brilho nos detalhes das molduras... Tudo ali exalava uma sofisticação que eu nunca havia imaginado para mim mesma.
Foi então que a vi.
A criada, ou quem quer que fosse, apareceu na esquina do corredor. Os seus olhos se arregalaram ao ver-me, e ela ficou imóvel, como se tivesse visto um fantasma. Olhei para ela e, sinceramente, não pude deixar de achar a cena engraçada.
-Sério? Eu pareço um fantasma?
Tentei chamar a sua atenção, mas minha voz saiu estranha, quase abafada, como se não fosse minha.
- “Ei!”
tentei, ainda com um toque de incredulidade na voz. A criada, entretanto, não parecia disposta a ouvir. Antes que eu pudesse falar mais, ela deu um pulo para trás e, sem pensar duas vezes, começou a correr pelo corredor como se tivesse visto o próprio diabo.
Eu fiquei ali, parada, tentando processar o que havia acabado de acontecer. Que exagero... pensei, antes de sentir minha visão ficando turva. O cansaço parecia ter se instalado em meu corpo de uma hora para outra, e antes que eu pudesse fazer mais qualquer coisa, tudo ao meu redor se apagou.
Eu acordei de repente, o coração acelerado, a cabeça pesada. Por um momento, fiquei ali, imóvel, tentando entender o que estava acontecendo. Tudo parecia tão... irreal. *Foi só um sonho?* pensei, ainda com os olhos meio fechados. Eu havia imaginado que estava presa no corpo de uma vilã, com aqueles cabelos dourados quase brancos, aqueles olhos azuis e aquela sensação estranha de estar vivendo outra vida. Mas agora, de volta à minha cama, tudo parecia ter sido apenas um pesadelo vívido.
Tentei sentar, mas o cansaço ainda dominava meu corpo. Uma dor estranha nas pernas me fez perceber que algo não estava certo. Eu... eu deveria estar em casa, no meu próprio corpo, certo? Mas não conseguia me livrar da sensação de que algo havia mudado, como se as memórias daquela experiência — ou seja lá o que fosse — ainda estivessem me assombrando.
Foi então que ouvi um som próximo, algo entre soluços e gemidos abafados. Me virei lentamente e vi a criada que eu havia visto antes, ajoelhada ao lado da cama, com o rosto entre as mãos, como se estivesse chorando.
— Senhora, você finalmente acordou... — ela disse, com a voz embargada. — Eu... eu pensei que tivesse perdido a senhora!
Eu fiquei ali, em silêncio, tentando compreender. Ela parecia tão real, tão... desesperada. Mas, por que ela me chamava de "senhora"? Era como se eu estivesse em um lugar que eu não reconhecia, cercada por pessoas que me tratavam de forma tão diferente.
Antes que eu pudesse questionar mais, o médico entrou no quarto. Ele parecia sério, mas havia uma preocupação nos olhos dele quando me viu. Aproximou-se da cama e começou a me examinar com cuidado, tocando minha testa e observando minha expressão.
— Como se sente? — Ele perguntou, a voz suave, mas firme.
Eu respirei fundo e tentei falar, mas minha garganta estava seca. Era difícil focar nos meus pensamentos, mas de uma coisa eu sei, eu não posso simplesmente dizer que eu não sou eu, e que eu de verdade não devia tá aqui.
— Eu... não sei. Estou confusa. — Foi tudo o que consegui dizer.
Ele me observou por um momento, anotando algo em sua prancheta. Então, me olhou novamente.
— Você se lembra de quem é? De onde está? — O médico fez a pergunta com um tom gentil, mas sério.
Eu tentei lembrar, procurei por alguma resposta, mas nada vinha à mente no livro não se aprofundava na vida da Camila.
O médico pareceu perceber minha angústia e fez uma expressão grave, como se já soubesse o que estava acontecendo.
— Acho que temos um caso de amnésia. — Ele disse, com calma. — O trauma e a confusão que você está sentindo indicam que sua memória foi afetada. Pode ser temporário, mas precisaremos de mais tempo para investigar a situação.
Eu não sabia se sentia alívio ou pavor. *Amnésia*... Pelo menos eu não vou precisar mentir. Bom pelo que parece vou pernacer nesse corpo por um tempo.
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Atualizado até capítulo 70
Comments
Edna César
é perfeito
2025-05-31
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