Amor e Croissants na Sombra e Sabor O gato que me olhava demais

O gato que me olhava demais

Nocturna sempre gostou do silêncio. Era dentro dele que escrevia melhor, onde seus pensamentos dançavam livres, escapando das páginas e criando mundos paralelos — mundos onde o amor era menos cruel, e os finais tristes podiam ser reescritos.

Mas naquela noite, algo a inquietava.

Sentada à escrivaninha, com a xícara de chá ainda fumegando ao lado do caderno, ela sentia o peso de um olhar. Lentamente, virou-se para a janela. E lá estava ele: Fantasma. O gato preto de olhos lilás, quase azuis, sentado na varanda, encarando-a como sempre fazia.

Era o mesmo olhar — profundo demais, consciente demais. Como se ele a conhecesse mais do que ela mesma. Como se esperasse por algo... ou por alguém.

Ela abriu a porta, como fazia há anos. Ele entrou em silêncio e foi direto ao sofá, como um velho hábito.

Nocturna se aproximou devagar, ajoelhando-se diante dele. Passou os dedos suavemente por sua cabeça.

Madame Nocturna

Você é mesmo só um gato, não é?! (Murmurou, mais para si do que para ele)

Fantasma fechou os olhos por um instante, mas não em sono. Era quase como um suspiro.

Nocturna sentiu um arrepio.

Nas semanas anteriores, as coincidências já tinham começado a incomodar. O gato sempre desaparecia por horas e retornava com folhas presas ao pelo, ou cheirando a lavanda, como se andasse por lugares que não existiam mais. E em alguns dias... ela sentia uma presença na casa mesmo antes dele entrar.

Havia noites em que sonhava com um homem de olhos afiados. Ele a observava de longe, sem nunca se aproximar. Apenas a olhava, como se soubesse que não podia tocá-la. Acordava com o coração acelerado... e Fantasma ali, no peitoril da janela, imóvel, atento.

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