Capítulo 3: O Começo de um Sonho
Aline respirou fundo enquanto ajustava a alça da mochila nas costas. O sol ainda nem tinha nascido direito quando ela e Andressa chegaram na pequena rodoviária da cidade. Os pais estavam ali, tentando esconder a emoção, mas os olhos vermelhos de cada um diziam tudo. Era o fim de uma etapa e o começo de outra. Uma despedida com gosto de vitória e medo.
— Cuida da sua amiga, hein, Aline? — disse o pai dela, a voz embargada. — E estuda direitinho. Eu e o pai da Andressa vamos estar aqui, esperando vocês voltarem doutoras.
Andressa soltou uma risada nervosa, enxugando uma lágrima teimosa. — Pode deixar, seu João. A gente vai fazer bonito. Não vamos decepcionar, não.
As duas cresceram ouvindo sobre a cidade grande, sobre como era perigosa e cheia de desafios. Mas agora, com as bolsas de estudo garantidas, a chance de cursar a faculdade dos sonhos finalmente tinha chegado. Aline iria para Medicina e Andressa para Enfermagem. Eram inseparáveis desde crianças, e agora, mais do que nunca, precisavam uma da outra.
O ônibus chegou, levantando poeira na pequena rua da rodoviária. Era o primeiro passo da longa viagem até o aeroporto da capital. Aline sentiu um aperto no peito quando o pai a puxou para um último abraço.
— Sua mãe estaria tão orgulhosa, minha filha — ele murmurou, e dessa vez não conseguiu segurar o choro.
As lágrimas vieram com força nos olhos de Aline, mas ela sorriu, mesmo entre soluços. — Eu sei, pai. Eu vou fazer ela se orgulhar lá de cima. Eu prometo.
Andressa também se despediu do pai dela, que, apesar de mais durão, não conseguiu esconder a emoção. Os dois homens — amigos de longa data, sócios na oficina mecânica da cidade — ficaram lado a lado, assistindo enquanto as meninas embarcavam.
O ônibus partiu, deixando para trás a cidadezinha onde elas tinham vivido toda a infância e adolescência. As plantações, a oficina, a escola pequena... tudo parecia tão distante agora. Era um mundo que elas conheciam de olhos fechados, mas que, naquele momento, parecia pequeno demais para o tamanho dos sonhos que carregavam.
— Meu Deus, a gente tá mesmo indo, né? — Andressa disse, ajeitando-se no banco do ônibus. — Parece mentira.
Aline riu, ainda secando os olhos. — A ficha ainda nem caiu. Só vai cair quando a gente pisar na faculdade.
— Imagina só... Daqui a pouco, a gente vai estar vestindo jaleco, andando pelos corredores. Doutora Aline e enfermeira Andressa! — Andressa disse, empolgada, e as duas caíram na risada.
Foram horas de viagem até o aeroporto, e para as duas, tudo era novidade. Quando o avião decolou, Aline segurou a mão da amiga com força, o estômago revirando, o coração batendo acelerado. Era a primeira vez que as duas andavam de avião.
— Meu Deus, isso tá subindo demais! — Andressa gritou, e Aline soltou uma gargalhada nervosa.
Mas, quando finalmente pousaram na cidade grande, o medo foi dando lugar à animação. Os prédios altos, o movimento intenso, o barulho constante... era tudo tão diferente da calma do interior. Era assustador, mas ao mesmo tempo, fascinante.
Pegaram um táxi até a residência estudantil da faculdade, e quando desceram, ficaram paradas por alguns segundos, olhando para o enorme prédio à frente delas. Era real. Era ali que iriam morar pelos próximos anos.
Foram recebidas por uma funcionária simpática, que as conduziu até o quarto que dividiram. Quando Aline abriu a porta e viu as duas camas, as escrivaninhas e a janela que dava vista para o campus, sentiu uma onda de felicidade invadir o peito.
— A gente conseguiu, Dessa — ela disse, olhando para a amiga com um sorriso largo. — A gente tá aqui.
Andressa largou as malas no chão e pulou na cama dela, rindo. — Isso aqui é maior do que o meu quarto lá em casa! E olha a vista, Aline! A gente vai ver o nascer do sol todo dia!
As duas passaram um tempo explorando o quarto, abrindo as gavetas, testando a cama e sonhando acordadas sobre como seriam os próximos anos. Tudo parecia perfeito. Daqui a três dias, as aulas começariam oficialmente, e elas mal podiam esperar para vestir os jalecos e começar a viver o sonho que tanto lutaram para conquistar.
— Sabe o que eu tava pensando? — Andressa disse, deitada de barriga pra cima na cama. — Que a gente vai arrumar namorado aqui, viu? Quem sabe até casar, hein?
Aline riu, balançando a cabeça. — Para com isso, Dessa. Primeiro a gente precisa focar nos estudos. Depois a gente pensa nessas coisas.
Mas, lá no fundo, Aline não podia negar que também sonhava com isso. Um amor verdadeiro, alguém que a fizesse sentir especial. Só não imaginava que o destino tinha planos muito maiores — e mais complicados — do que ela podia sonhar naquela noite.
Ali, no silêncio do quarto novo, as duas não faziam ideia de que suas vidas estavam prestes a virar de cabeça para baixo. Mas por agora, tudo que sentiam era felicidade e esperança. E isso bastava.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 53
Comments