Os primeiros dias após o casamento foram um silêncio cortante.
Marcos não mudou nada em sua rotina. Ele dormia em outro quarto, saía cedo para trabalhar, voltava tarde — e raramente trocava mais do que duas ou três palavras comigo. Eu, Valentina, escondida atrás do disfarce de Valente Oliveira, caminhava pela mansão como uma estranha.
Sentia os olhares dos empregados, os cochichos abafados, os sorrisos tortos. Todos sabiam que aquele casamento era um contrato. E todos sabiam que Marcos me desprezava.
Na manhã de segunda-feira, ele apareceu na sala com uma pasta de documentos.
Marcos (frio, sem me olhar): — Você vai começar a trabalhar na minha empresa hoje. Quero você lá às nove. Não se atrase.
Valentina (surpresa): — Na sua empresa? Mas…
Marcos (cortando): — Esse foi o acordo, lembra? Seis meses casada comigo e trabalhando para mim. Não reclame. E não se meta onde não foi chamada.
Ele saiu, batendo a porta. Eu respirei fundo, tentando engolir o nó que se formava na minha garganta.
Valentina (pensamento): Você não sabe quem eu sou, Marcos. Não sabe que a mulher que você tanto admira, Valentina Salvatore, é a mesma que está aqui, diante de você…
No escritório, fui recebida como assistente. Uma assistente qualquer. Marcos nem me apresentou como esposa. Os funcionários apenas cochichavam pelos cantos. Eu percebia os olhares, os risinhos, as piadas. Eu fazia de tudo para manter a cabeça erguida.
Durante uma reunião, vi Helena, a falsa amiga, entrando com um sorriso encantador. Ela se jogou nos braços de Marcos como se fosse dona dele.
Helena (doce): — Ai, Marcos, você sabe que eu não resisto a trabalhar com você…
Marcos (rindo): — Você é a única diversão desse escritório, Helena.
Doeu. Muito. Como se um punhal fosse cravado bem no meio do meu peito.
Valentina (pensamento, olhando para baixo): Ele nunca me assumiria, mesmo casados. Nunca me defenderia.
Na hora do almoço, sentei sozinha na lanchonete da empresa. Ouvia risadas de longe. Marcos estava rodeado pelos amigos, por Helena, por mulheres que riam alto, tentando chamar sua atenção. Eu? Invisível.
Naquela noite, em casa, entrei no quarto e me tranquei. Tirei os óculos, soltei os cabelos. O espelho me devolveu o rosto que eu conhecia tão bem — a mulher poderosa, a empresária admirada, a herdeira Salvatore. Mas ali, diante de Marcos, eu era só uma sombra.
Valentina (sussurrando para si mesma): — Um dia, Marcos Feraz… um dia você vai perceber quem perdeu.
Me deitei, sentindo o vazio ao meu lado na cama. Ele estava fora, em alguma festa, com certeza. Talvez rindo com Helena, talvez elogiando outra mulher.
Valentina (pensamento): Por que eu insisto nisso? Por que eu ainda espero algo de você? Ainda faltam cinco meses… cinco longos meses.
A dor no peito era constante. Mas ali, no fundo, começava a nascer algo mais. Uma raiva sutil, uma frustração que crescia devagar.
Valentina (pensamento): Eu te amo, Marcos. Mas até quando? Até quando vou segurar esse amor sozinha?
Na manhã seguinte, acordei decidida. Eu iria trabalhar, eu iria cumprir minha parte. Mas não mais para agradá-lo. Eu faria isso por mim.
Porque, no fim, eu sabia: ou ele abriria os olhos… ou eu abriria os meus.
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Jaildes Damasceno
Vai continuar com a farsa e sofrendo com o desprezo e humilhada por ele?
2025-05-06
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