Capítulo 2 – A Ascensão de Renato
A notícia da morte de Damião, o pai de Renato, correu pelo morro como pólvora. Era difícil acreditar. Damião, o homem mais temido da região, o rei das bocas de fumo, havia caído em uma emboscada na porta de casa. Ninguém viu quem foi, mas todos sabiam que, no mundo em que viviam, a morte era só uma questão de tempo. Renato assistiu ao enterro sem derramar uma lágrima. Por dentro, sentia um misto de raiva e frieza. O pai havia partido — e agora tudo estava em suas mãos.
O irmão mais , Rafael, era o sucessor natural. Damião sempre dizia quera Rafael era seu braço direito, seu herdeiro no comando do tráfico. Só que Rafael era estratégico, calculista, daqueles que falavam pouco e agiam nas sombras. Já Renato era o oposto: impulsivo, explosivo, cheio de sede de poder e de prazer. Ele não queria apenas seguir o que o pai havia deixado — queria mais. Muito mais.
Na primeira semana após o enterro, Rafael organizou o morro com mão de ferro. Colocou novas regras, fechou alianças antigas e proibiu festas nas bocas, impondo respeito e temor. Queria estabilidade, queria dinheiro entrando limpo. Só que Renato não estava disposto a aceitar aquela calmaria.
Com pouco tempo, Renato começou a desafiar o irmão. Fazia questão de quebrar todas as ordens. Organizou bailes clandestinos na favela, mandou tocar o terror nas ruas vizinhas e, principalmente, começou a "pegar geral". Não havia mulher que passasse e escapasse dos olhos ou das mãos dele. Renato era bonito, forte e carregava o peso do sobrenome — isso bastava para arrastar todas para sua cama.
Mulheres comprometidas, meninas novas, esposas de aliados... para Renato, tudo era permitido. Ele queria provar para o morro inteiro que agora era ele quem mandava, mesmo que oficialmente fosse Rafael quem estava no topo. E fazia questão de esfregar isso na cara do irmão.
Rafael, claro, sabia de tudo. Recebia as fofocas, via os estragos que Renato causava, mas tentava se manter frio. Para ele, responder à altura seria dar ao irmão o que ele queria: uma guerra interna. Mas por dentro, Rafael fervia de ódio. Era como se Renato fosse uma bomba prestes a explodir no meio da estrutura que ele tentava proteger.
Renato sabia. E gostava disso.
Em uma das noites de baile, no coração da favela, Renato fez questão de chegar com estilo. Camiseta justa, corrente de ouro pesada no pescoço, relógio caro no pulso. Subiu no palco improvisado, pegou o microfone e soltou:
— Aqui quem fala é Renato, filho do rei Damião! E quem não gostou que se morda de inveja, porque agora o morro é meu também!
O povo gritava, aplaudia, dançava. Entre a multidão, meninas se empurravam para chamar sua atenção. Renato sorria, alimentado pela sensação de poder, pela certeza de que todos ali o temiam e o desejavam ao mesmo tempo.
Ele pegou duas garotas pela cintura e desceu do palco, indo para a parte de trás do baile, onde as luzes eram mais fracas e a vigilância menor. Fez questão de ser visto. De novo, como se dissesse: “eu faço o que quero”.
Rafael, assistindo de longe, socava o próprio joelho de raiva. Renato não respeitava ninguém. Nem o pai morto. Nem as regras do jogo. Nem a própria família.
O clima entre os irmãos ficava cada dia mais tenso. Dentro da casa onde moravam, o silêncio era pesado. Rafael tentava manter a autoridade, mas Renato, com seu jeito debochado, sempre arranjava uma forma de provocar.
— Tá pensando que é quem, Rafael? Meu pai morreu, não foi você quem virou Deus aqui não, fi... — Renato cuspia, sempre com um sorriso cínico no rosto.
Rafael se limitava a fitar o irmão com um olhar de desprezo. Sabia que qualquer reação errada poderia colocar tudo a perder. No mundo deles, o poder se sustentava na aparência de força — e uma briga de irmãos era o suficiente para derrubar até o império mais sólido.
Renato não tinha medo. Estava certo de que, se quisesse, poderia tomar o morro para si de uma vez. Mas preferia o jogo lento, a provocação diária, o prazer de ver Rafael se contorcendo em silêncio.
No fundo, Renato não queria apenas poder. Ele queria ser lembrado. Queria que todos soubessem que ele não era apenas o filho de Damião. Ele era o próprio inferno vestido de sorriso.
E, para alcançar isso, estava disposto a tudo.
Até destruir a própria família.
RENATO
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Maryan Carla Matos Pinto
o jogo não é assim
2025-05-06
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