Família Ferrari 5 Elisa Renascendo com o Sol
A Sicília despertava sob um céu acinzentado, e a brisa do mar, que antes acalmava o coração de Elisa Castellazzo Ferrari, agora apenas a feria. Era como se a ilha sentisse sua dor, como se o vento sussurrasse memórias que ela implorava para esquecer.
Na noite anterior, Elisa assistiu em silêncio ao que considerava ser o fim de um capítulo que nunca teve um final feliz. Luiggi, o amor da sua infância, o rapaz que ela conhecia melhor do que a si mesma, se ajoelhou diante de Sofia e pediu sua mão em casamento. O brilho no olhar dele não deixava dúvidas: ele havia seguido em frente. E ela, definitivamente, não fazia mais parte do futuro dele.
Ela não chorou na frente de ninguém. Esperou que os aplausos ecoassem e se afastou lentamente da sala onde o noivado fora celebrado. Seu irmão, Mateus, estava distraído em uma conversa com outros membros da família. Ninguém notou sua saída — ninguém, exceto Carla.
Carla, sua sobrinha, estava encostada perto da escada, longe da euforia, com os olhos atentos e a sensibilidade herdada da mãe. Quando viu Elisa pegar a bolsa e descer em silêncio, seguiu-a sem dizer nada.
— Vai embora assim, tia? — sussurrou Carla, do topo da escada, quando Elisa já se aproximava da porta.
Elisa parou, fechou os olhos por um segundo, e respirou fundo.
— Já vi o suficiente, Carla. Ele fez a escolha dele.
Carla desceu os degraus rapidamente, os olhos marejados.
— Não precisa ir agora. Fica essa noite, pelo menos. Amanhã a gente conversa…
— Amanhã será pior. — disse Elisa, com a voz firme, mas quebrada por dentro. — Eu já estava esperando por isso, Carla. No fundo, sempre soube que esse momento chegaria.
Elisa saiu pela porta principal com passos contidos. A noite estava silenciosa, como se respeitasse sua dor. Carla a seguiu até o carro que a LME havia deixado estacionado a alguns quarteirões dali. Elisa não queria chamar atenção. Não queria despedidas.
— Vai pra onde?
— Para casa. — respondeu, com um sorriso triste. — Por enquanto. Preciso arrumar minhas coisas. Preciso sair daqui.
— Você vai mesmo embora da Itália?
Elisa assentiu.
— Vou deixar tudo pra trás, inclusive esse lugar que só me lembra do que perdi. Meus pais, meus sonhos... Luiggi.
Elas andaram em silêncio. A cidade dormia, e cada passo de Elisa parecia mais um adeus. Quando chegaram perto da casa que antes fora o lar dos seus pais, Elisa hesitou na porta.
— Entra comigo?
Carla assentiu, e as duas entraram em um lugar que parecia parado no tempo. Fotos, livros, o perfume suave de lavanda... tudo ali gritava os nomes de Isabela e Fabrício.
Elisa caminhou até a sala, sentou-se no sofá e desabou. As lágrimas que havia segurado por tanto tempo finalmente escaparam, intensas, doloridas. Carla sentou-se ao lado, segurando sua mão em silêncio.
Horas depois, quando o céu começava a clarear, Elisa pegou o telefone. Discou o número de sua tia Ema, nos Estados Unidos.
— Alô?
— Tia… — sussurrou, com a voz embargada. — Eu não aguento mais ficar aqui. Cada parede dessa casa fala dos meus pais. E agora... saber que Luiggi não me ama mais… que ele vai casar com outra… Me destrói. Se eu ficar aqui, vou querer me juntar a eles.
Do outro lado da linha, Ema ficou em silêncio por um segundo, surpresa com a intensidade do que acabara de ouvir. Mas logo sua voz firme assumiu o controle:
— Elisa, escuta o que vou te dizer: pegue suas coisas e venha para cá. Imediatamente. Eu não vou perder você também. Andrew, os gêmeos e eu vamos cuidar de você. Vai recomeçar aqui. Promete?
Elisa respirou fundo.
— Prometo, tia.
Na manhã seguinte, Elisa se preparou para deixar a Itália. Não deixou recado. Não avisou ninguém, nem mesmo Mateus. Só Carla sabia, e foi a única pessoa que a acompanhou até o jatinho particular da LME.
O aeroporto particular da região estava vazio, como se fosse parte do luto que ela carregava no peito. As malas já estavam no carro. Carla segurava uma das alças, com olhos vermelhos de choro contido.
— Tem certeza disso? — perguntou, pela última vez.
— Tenho. Preciso deixar essa dor aqui. Preciso parar de viver em função de quem não me escolheu.
Carla abraçou a tia com força. Elisa devolveu o abraço, com os olhos fixos na pista. Lágrimas desciam silenciosas, mas não mais como sinal de fraqueza — e sim de um adeus necessário.
— Promete que vai ser feliz, tia?
— Prometo que vou tentar. — respondeu Elisa.
E então, sem olhar para trás, ela subiu a escada do jatinho. A Sicília ficava para trás, levando consigo o amor perdido, os pais enterrados e os sonhos que não sobreviveram à realidade. À frente, apenas o desconhecido — mas também a chance de recomeçar.
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Atualizado até capítulo 70
Comments
Claudia Teixeira
essa conversa da Eliza com a Carla foi diferente do livro anterior, o do Luigi
2025-05-05
2
Di Rocha
ele tentou Elisa, você não quis ouvi-lo, deixou a dor e mágoa falar mais alto . já estava escrito em algum lugar que ele não seria seu par com o tempo sua dor vai passar e quem sabe viver um novo e grande amor
2025-04-28
1
claudia da silva
Ele te escolheu várias vezes, mas vc escolheu a raiva, a falta de perdão, o desprezo. Não fale como se ele tivesse te traído. Vc que o traiu.
2025-04-29
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