Giulia...

    Tenho 20 anos. E, por muito tempo, me senti como se tivesse muito mais.

Cresci entre portas fechadas e olhares distantes. A ausência dos meus pais não era física — era emocional, e talvez essa tenha sido a pior parte, minha mãe eu nunca vi, meu pai era soldado da máfia e vivia viajando.

Fui treinada para me calar, para ser forte. Mas ninguém me ensinou o que fazer com o silêncio que fica quando ninguém pergunta se você está bem.

Foi Alana quem trouxe luz para mim.

Na época, ela era só uma amiga. Uma amiga que me ofereceu amor, como eu tinha liberdade e ela não, na minha casa tinha refugio para nossas brincadeiras e conversas.

Anos depois, descobrir que ela era minha irmã... foi como encaixar a última peça de um quebra-cabeça que eu nem sabia estar montando.

E foi com ela que eu conheci os Mansur, ajudando ela a resolver seu problema me encontrei, encontrei cuidado, respeito, amizades e verdades.

Uma família incomum — sim. Mas uma família de verdade. Pela primeira vez, eu não era uma estranha na sala. Me aceitaram, me acolheram. Eu era Giulia, e isso bastava.

E então veio ele.

Enzo.

O nome soava como ameaça e promessa ao mesmo tempo. Forte, intenso, letal... mas com aquele sorriso de canto que parecia esconder todos os pecados do mundo.

E, talvez por isso, eu me vi amando a presença dele antes mesmo de entender o que aquilo significava.

Lembro da noite do casamento da Alana como se fosse agora.

O salão estava deslumbrante. Luzes quentes, flores brancas, o brilho das taças e os sorrisos que dançavam entre as músicas.

Eu estava linda — e eu sabia disso. Vestido justo, cabelo solto, maquiagem leve com aquele delineado que me deixava mais confiante, meus cabelos longos e enrolados estavam radiantes, e eu... Feliz.

Muitos olhares vieram naquela noite, mas eu não queria ninguém.

Queria só um. E ele estava ali.

Enzo me observava do outro lado da pista, ignorando completamente o cara ao meu lado que tentava me impressionar com alguma história sobre carros ou relógios, sei lá.

Eu sorria, fingindo escutar, mas meus olhos encontravam os dele a cada segundo.

Então, ele veio.

A passos firmes. Focados. Sem sorrir.

O cara ao meu lado parou de falar quando sentiu a sombra de Enzo sobre nós.

— Você já terminou aqui? — ele perguntou, com a voz baixa, mas firme como aço.

O outro engoliu seco e desapareceu em segundos.

— Você tá louco? — perguntei, meio chocada, meio... excitada pela coragem dele.

— Se somos só amigos, você tem que me deixar viver minha vida, não acha?

Ele se aproximou. Muito.

A voz veio rouca, grave, carregada.

 — Não. Porque eu não sou seu amigo. Nunca fui. E se mais alguém tentar chegar perto de você, vai ter que passar por mim primeiro.

E antes que eu respondesse, ele me beijou.

Firme. Intenso. Como se tivesse esperado aquele momento desde o primeiro olhar.

E eu... eu deixei. Ou melhor, eu quis.

Mas também o amansei com o toque leve da minha mão em seu rosto, fazendo-o sorrir contra meus lábios. Por um instante, ele não era o herdeiro da máfia. Era só um homem apaixonado.

Mais tarde, naquela mesma noite, enquanto eu ainda tentava entender o que estava acontecendo com meu coração, o celular vibrou.

Número desconhecido.

Atendi com o coração acelerado.

— Giulia? — A voz do outro lado me congelou.

Aquela ligação mudou tudo.

A voz ao telefone era masculina. Fria, direta, com um sotaque que me gelou a espinha.

— Se quiser ver sua mãe viva, venha sozinha. Sem dizer uma palavra. Vou mandar a localização.

Meu coração parou.

Minha mãe? Depois de tantos anos? Depois de tanto silêncio?

— Como eu sei que é verdade? — sussurrei, a garganta apertada.

— Ela tá aqui. Chorando. Implorando para você vir.

A ligação caiu. E com ela, toda a razão que me restava, não podia arriscar, não podia questionar, não tinha tempo.

Eu fui.

Sem pensar, me despedi, neguei ajuda, peguei o celular, enfiei um casaco por cima do vestido e chamei um táxi com as mãos trêmulas. Alana e os outros ficaram — e eu? Eu fugia do meu próprio final feliz.

O endereço me levou para a parte esquecida da cidade. Ruas estreitas, postes apagados, casas que pareciam engolidas pelo tempo.

O carro parou diante de uma construção abandonada. Meu coração gritava, mas minha cabeça só repetia: e se for verdade? E se ela estiver lá?

Entrei.

O chão rangia. O cheiro era de mofo e ferrugem. E silêncio. Um silêncio que berrava.

— Alô? — chamei, hesitante. — Mãe?

E então… ele apareceu.

Um homem alto, rosto coberto por sombras, olhos que não tinham nada. Nem alma, nem piedade.

— Cadê ela? — perguntei, a voz embargando.

Ele sorriu. Um sorriso podre.

— Você veio. Isso é o que importa, seu pai me devia, vou cobrar uma velha dívida.

Corri. Mas não rápido o bastante.

Ele me puxou, me jogou no chão. Bati a cabeça. Senti o sangue. Tentei gritar. As mãos dele em mim. O cheiro dele. O nojo. A dor.

— POR FAVOR! — eu gritava, chorava, implorava. — Não faz isso! Por favor…

Mas ele ria. E eu… eu estava perdendo a consciência. A dor era tanta que o mundo ficou desfocado. Eu não conseguia mais lutar.

Foi quando ouvi.

O estrondo.

A porta explodiu. O som da madeira rachando ecoou como um trovão. Ouvi passos pesados. Uma voz gritar meu nome.

E então, o rosto dele.

Enzo.

Ele entrou como uma tempestade. O olhar assassino. A arma na mão. A raiva viva.

— ENCOSTA NELA DE NOVO, DESGRAÇADO! — ele rugiu.

O homem tentou correr. Enzo atirou sem pensar. Duas vezes.

Tudo virou borrão. Ouvi gritos. Ouvi silêncio. Senti braços fortes me envolvendo.

— Giulia... ei, Giulia, olha pra mim, princesa. Eu tô aqui. Eu tô aqui agora...

Eu chorava sem parar, soluçando contra o peito dele.

Ele me abraçava com tanta força que parecia que queria me colar de volta à vida.

— Você me seguiu? — sussurrei, quase sem voz.

— Claro que sim, — ele respondeu, os olhos marejados. — Você acha mesmo que eu deixaria você sozinha? Nunca. Eu te jurei, Giulia. Eu sempre vou chegar.

Ele tirou o casaco e me envolveu. Beijou minha testa, acariciou meu rosto com as mãos sujas de sangue.

— Você é tudo que eu tenho. E eu vou matar qualquer um que tentar te tirar de mim.

Ali, no meio do caos, entre sangue e escuridão, eu soube:

Enzo era minha guerra. Mas também era meu porto.

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Comments

Rozenilda Alvarenga

Rozenilda Alvarenga

escrever mais tô ansiosa pelos próximos capítulos

2025-04-24

2

Simone Silva

Simone Silva

parabéns autora pelo seu livro ❤️

2025-04-25

0

Dulce Gama

Dulce Gama

Autora linda já estou gostando muito continua escrevendo e apostando 😂😂😂❤️❤️❤️❤️❤️👍👍👍👍👍👍🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁🌟🌟🌟🌟🌟🌟

2025-04-26

0

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