Princesa em cativeiro

26 de abril — 07:30 | Leblon, Zona Sul do RJ

O despertador tocou, mas eu já tava acordada fazia tempo. A cabeça não desligou a noite inteira. Ainda sentia o gosto do beijo do LK e a adrenalina do baile pulsando no meu corpo. Levantei da cama com o corpo na zona sul, mas a alma lá na quebrada.

Coloquei um robe de cetim, fingindo que a vida era boa, e desci pro café da manhã com o sorriso mais falso do mundo.

Mãe (tomando café): — Dormiu bem na casa da Victória? 

Juju (sorrindo): — Dormi sim, a mãe dela até fez pão na chapa pra gente. 

Pai (lendo jornal):  — Que bom. Aproveita os dias que te restam de solteira. Depois que casar, a vida muda.

Revirei os olhos discretamente. Respirei fundo pra não responder do jeito que queria. Minha vontade era jogar a torrada no chão e gritar: "Eu não sou propriedade de ninguém!" Mas me segurei.

Subi pro meu quarto, tranquei a porta e chamei a Vick no zap:

Juju: "Temos 2 dias. O plano é real. Dia 28 à noite eu fujo."

Vick: "MDS JUJU! Tô nervosa e animada ao mesmo tempo kkkkk"

Juju: "Tu vai me ajudar, né?"

Vick: "Óbvio, né? Já tô dentro até o pescoço. Mas vamo ter que ser ninja."

Juju: "Se der ruim, cê jura que segura a mentira pra mim?"

Vick: "Juro. Irmã é pra essas paradas."

Fechei o celular, encostei na janela e fiquei olhando pro mar. Tão calmo. Tão falso. A vida ali parecia perfeita, mas era toda armada. Não era liberdade, era cativeiro cinco estrelas.

Mais tarde, minha mãe entrou no quarto sem bater — como sempre.

Mãe: — O Matheus vai passar aqui mais tarde pra te ver, tá?

Juju (fria): — Que alegria, hein.

Mãe: — Júlia, você devia agradecer. Sabe quantas meninas dariam tudo pra estar no seu lugar? 

Juju (séria): — Então dá o meu lugar pra elas. Vai ser um favor.

Mãe (alterada): — Você vai casar sim. Isso não é uma opção. É um acordo de famílias.

Ela saiu batendo a porta. Eu respirei fundo. Contava os dias, as horas... agora não era mais sobre liberdade. Era sobre sobrevivência.

A campainha tocou. Coração gelou.

Era ele.

Desci as escadas devagar. Ele tava sentado na sala, conversando com meu pai sobre economia, tomando um vinho como se tivesse nascido com a taça na mão. Blazer ajustado, cabelo impecável, relógio que valia mais que meu carro — se eu tivesse um.

Matheus (levantando-se ao me ver):  — Júlia. Que prazer te ver novamente. Está mais linda do que me lembrava.

Forçado. Polido. E ainda assim, irritantemente convincente.

Juju (seca): — Obrigada.

Matheus (com um sorriso leve): — Podemos conversar um pouco a sós?

Assenti, sem vontade. Caminhamos até o jardim nos fundos. As luzes baixas davam um ar de cena de novela. Mas pra mim, era só mais um episódio da minha prisão disfarçada.

Matheus:  — Sei que não começamos da forma mais... espontânea. 

Juju: — Você quer dizer "meus pais te venderam a filha"? 

Matheus (sorrindo pacientemente):  — Prefiro ver como uma união estratégica. Você é inteligente. Deve entender que certos arranjos vão além do sentimental. São alianças. Conexões. Poder.

Revirei os olhos.

Juju:  — E onde entra o “amor” nisso tudo, Matheus?

Matheus: — Amor é consequência. Primeiro vem o respeito, a convivência. Com o tempo, talvez até o carinho. Confie em mim, Júlia... há coisas piores do que ser minha esposa.

Ele disse isso com um tom tão seguro, tão calmo, que me arrepiou. Não era ameaça direta. Era charme venenoso.

Juju (encarando): — E há coisas melhores do que ser enfeite de vitrine.

Matheus se aproximou um pouco, mas manteve a elegância.

Matheus: — Você tem espírito selvagem. Isso é... encantador. Mas cuidado para não confundir rebeldia com liberdade. O mundo lá fora não é tão gentil quanto você pensa.

Juju (com sarcasmo): — E o seu mundo é?

Ele sorriu de novo. Me analisava como quem lê um livro interessante, não como quem ama. E é aí que tá: ele não queria uma esposa. Queria um troféu com opinião moldável.

Matheus: — Te deixo sozinha pra pensar. Mas lembre-se: casar comigo não é o fim. Pode ser o começo... de uma vida que muitos sonham. Você só precisa parar de lutar contra.

Ele voltou pra sala como se fosse dono da casa. Eu fiquei ali no jardim, sentindo a brisa bater no rosto, tentando não surtar.

Mas uma coisa era certa:

Ele podia ter as palavras certas.

O terno certo. 

O vinho certo.

Mas ele nunca ia ter o meu coração.

Mais populares

Comments

Gi

Gi

Meu Deusss 🤩curiosa para o final dessa história

2025-04-28

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!