O brilho do artefato pulsante iluminava o interior do carro, mas para Ayla, parecia projetar memórias de uma época que ela queria deixar enterrada.
O silêncio da estrada era um convite à introspecção, e as lembranças começaram a surgir como fragmentos de um sonho distante.
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Ayla nasceu em uma vila pequena, cercada por montanhas e coberta por campos que floresciam com simplicidade. Sua família era modesta, mas o amor e a união eram abundantes. Ela se lembrava do cheiro do pão fresco que sua mãe fazia e da risada do irmão mais novo enquanto brincavam no riacho. Mas o que era doce foi rapidamente arrancado de sua vida.
O dia em quê tudo começou, foi como qualquer outro.
Ayla tinha apenas 10 anos quando a vila foi atacada por uma milícia em busca de recursos. As chamas consumiram as casas, os gritos ecoaram pelas montanhas, e Ayla viu sua família desaparecer em meio ao caos.
A última imagem que tinha de sua mãe era seu rosto determinado, pedindo que ela corresse e se escondesse.
E ela correu. Correu até que seus pés sangrassem e sua voz não pudesse mais gritar.
Escondida em uma caverna, Ayla chorou até que as lágrimas secassem. Quando saiu, a vila era apenas um amontoado de cinzas e destruição.
Após perder tudo, Ayla vagou por dias até chegar à cidade mais próxima. Lá, descobriu que o mundo era cruel e indiferente para uma criança sozinha.
Ela foi ignorada, maltratada e, às vezes, usada como ferramenta por aqueles que a viam como nada mais do que um objeto descartável.
Mas Ayla era resiliente. Sua dor não a quebrava, mas a endurecia. Aos poucos, ela aprendeu a arte da sobrevivência—furtar comida sem ser vista, escapar de situações perigosas com astúcia e ler as pessoas melhor do que elas podiam ler a si mesmas.
Seus olhos, que antes carregavam inocência, agora observavam cada movimento com atenção calculada.
Aos 16 anos, Ayla tentou um golpe maior: invadir um prédio usado por criminosos locais para roubar informações e ganhar algum dinheiro. Mas foi aí que ela encontrou o chefe da agência, o Matthew. Ele estava lá em missão, investigando o mesmo grupo. Ayla conseguiu invadir os sistemas e quase completar o roubo, mas foi pega no último instante.
Quando viu o chefe pela primeira vez, ela esperava punição, talvez até algo pior. Mas ele a surpreendeu. Ele viu algo nela que ninguém mais viu.
— Você tem habilidade, mas falta propósito. Eu posso te dar isso.— Ele disse, olhando nos olhos dela como se enxergasse além das camadas de defesa que ela havia construído.
Pela primeira vez em anos, Ayla sentiu que poderia confiar em alguém. Ela aceitou sua oferta, embora hesitante, e começou seu treinamento na agência.
O chefe não apenas treinou Ayla; ele a moldou. Ele era firme, mas justo, sempre desafiando seus limites. Ele ensinou habilidades que ela nunca imaginou ter—desde combate corpo a corpo até infiltração em sistemas complexos. Mais importante, ele a ensinou a canalizar sua dor e sua raiva em algo produtivo.
— Suas perdas te definem, mas não precisam te limitar. Use isso como sua força.— Ele dizia, em um dos muitos momentos de aprendizado.
Ao longo dos anos, Ayla se tornou uma das melhores agentes da agência, e sua relação com o chefe se fortaleceu. Ele era mais do que um mentor; ele era a figura paterna que ela havia perdido.
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No carro, Ayla olhou para o artefato novamente e sentiu a carga das memórias. Liam continuava mexendo em seu tablet, mas percebeu o silêncio incomum dela.
— Você é como um quebra-cabeça, sabia? Cada peça parece mais complicada que a anterior.— Ele comentou, tentando puxar conversa, mas sem o tom usual de provocação.
Ayla desviou o olhar para ele, mas não respondeu. Algumas peças do quebra-cabeça eram melhores deixadas fora de vista.
Ao chegarem na base, Ayla encontrou o Matthew esperando por ela. Ele a olhou com o mesmo olhar firme e encorajador de sempre.
— Bom trabalho, Ayla. Você sabe o quanto isso significa para todos nós.— Ele disse, colocando a mão em seu ombro.
Ela assentiu, sentindo um peso familiar se dissipar. O chefe sempre tinha o poder de trazer equilíbrio, mesmo quando o mundo ao redor parecia em desordem.
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Atualizado até capítulo 36
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