Na manhã seguinte, Lia acordou no sofá da casa do pai. Ainda usava a camiseta de Oliver — larga, cheirosa, com marcas da noite passada que ainda dançavam sob sua pele.
Mas o que queimava agora era a dúvida.
Ela passou a mão pelo rosto, tentando ordenar os pensamentos. Desejo e confusão misturados. Emoções que ela havia enterrado por anos estavam ali, pulsando, vivas.
Pouco depois, Oliver apareceu na porta, com café na mão e expressão séria.
— Precisamos conversar.
Ela o encarou. Queria sorrir. Queria puxá-lo de volta para a cama. Mas a forma como ele disse aquilo... ela sabia. O momento de fantasia tinha acabado.
Ele entrou, entregou a caneca e se sentou ao lado dela.
— Seu pai guardava um cofre — começou. — Escondido numa das paredes da oficina. Ele me deu a combinação meses atrás, dizendo que, se algo acontecesse, eu deveria te mostrar. E só a você
Lia franziu a testa, o coração acelerando.
— O que tem nesse cofre?
Oliver inspirou fundo.
— Documentos. Papéis que provam que ele teve uma segunda família... ou quase isso. Uma mulher com quem ele se envolveu por anos, aqui mesmo. Ele cuidava dela em segredo. E mais do que isso... ela teve um filho.
Lia ficou imóvel. O sangue parecia congelar nas veias.
— Você tá dizendo que eu... tenho um irmão?
Oliver assentiu, devagar.
— Meio-irmão. E mais do que isso: essa mulher morreu há pouco tempo. E o garoto — hoje com dezoito anos — está sozinho. Seu pai deixou instruções pra que você decidisse o que fazer com ele. A guarda não foi legalizada... mas ele deixou tudo preparado, caso você aceitasse.
Lia levantou, as pernas trêmulas.
— Isso é loucura. Isso é...
— É verdade, Lia. Eu vi os papéis. Vi fotos. Ele deixou cartas pra você... e pra ele também.
Ela andava de um lado para o outro. A mente fervia. Tudo que achava saber sobre seu pai — mesmo sendo pouco — agora parecia mentira.
E mais ainda: agora ela tinha a responsabilidade por alguém que nunca conheceu.
Alguém que talvez carregasse os mesmos traumas. A mesma dor. A mesma ausência.
— E por que ele te envolveu nisso, Oliver? — ela perguntou, num tom mais duro. — Por que você?
Ele a encarou. Havia dor nos olhos dele. E algo mais.
— Porque eu conheci essa mulher. Porque eu cuidei desse garoto quando seu pai não podia. Porque no fim das contas... ele confiava mais em mim do que em si mesmo.
E talvez porque ele soubesse que um dia... eu estaria aqui com você.
Silêncio.
Lia sentou-se de novo. O café esfriava na caneca.
— Eu não sei o que fazer com isso. Eu não sei como me sentir.
Oliver colocou a mão sobre a dela.
— Então sente tudo. Chore, grite, me odeie se quiser. Mas não fuja. Você não é mais aquela menina que foi embora daqui quebrada.
Você é mulher o suficiente pra encarar tudo isso agora.
Lia olhou para ele. E, pela primeira vez, não viu só um amante ou um mistério.
Viu alguém que estava disposto a carregar os pesos dela. Mesmo que isso significasse se quebrar junto
E ali, entre o passado que voltava com força e um futuro incerto... ela respirou fundo.
— Me leva até o cofre.
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Atualizado até capítulo 42
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