Melissa subiu as escadas do pequeno prédio com os ombros pesados, o uniforme da faculdade amarrotado e o rosto ainda marcado pelo choro. As nuvens escuras do céu pareciam ter seguido seus passos até em casa. O silêncio do corredor foi interrompido assim que girou a maçaneta e empurrou a porta de casa.
O cheiro de bebida era o mesmo de sempre — forte, amargo, impregnado. No chão da sala, espalhados sobre o tapete rasgado, estavam garrafas vazias, cinzas de cigarro e a imagem que mais doía: sua mãe, jogada no sofá, com os olhos semicerrados, murmurando coisas desconexas.
— Mãe… — Melissa se aproximou com cuidado. — Mãe, você bebeu de novo?
— E se bebi? — a mulher virou o rosto e soltou uma risada rouca. — Vai me dar sermão também? Vai dizer que sou um peso? Que sou uma vergonha?
— Não, eu só… — Melissa engoliu seco. — Só queria que você estivesse bem.
— Se quisesse mesmo isso, já tinha arrumado um emprego. Já tinha saído dessa casa! — A mãe se sentou cambaleando, os olhos injetados. — Tá achando que vai viver de estudar a vida toda? Essa sua faculdade aí paga alguma conta, hein?
— Eu consegui uma bolsa integral, mãe… eu tô tentando fazer o certo! Só quero dar um futuro melhor pra gente.
— “Futuro”, “futuro”! — Ela gritou, jogando uma garrafa contra a parede. — Eu quero o presente, Melissa! E no presente, a luz tá pra cortar, a água mal veio esse mês e a comida acabou ontem! Então, ou tu arruma um emprego ou vaza dessa casa. Porque eu não vou sustentar vagabunda!
Melissa sentiu as palavras como socos no estômago. A voz tremeu.
— Vagabunda? Você sabe quantas noites eu virei estudando pra passar naquela prova? Quantas vezes eu deixei de comer pra pagar passagem? Eu não sou vagabunda, mãe. Eu sou sua filha!
Mas a mãe já havia virado o rosto novamente, roncando levemente enquanto se afundava no sofá. Melissa pegou sua mochila com as mãos trêmulas, segurando o choro que insistia em voltar. Foi pro seu quarto, trancou a porta e encostou a testa na madeira fria.
Ali, em silêncio, chorou até o cansaço vencer o peso da dor.
No dia seguinte, logo cedo, Hanna e Isabela estavam sentadas no gramado da faculdade comendo croissants e dividindo um café.
— Cê viu a cara da Mel ontem? — perguntou Isabela. — Parecia que tinha tomado um furacão.
— Tava acabada. — Hanna confirmou. — Mandei mensagem ontem à noite, mas ela nem respondeu.
— Tomara que ela apareça hoje. Essa aula de anatomia não dá pra faltar, não.
Minutos depois, Melissa surgiu pelo portão principal. A blusa branca dobrada nas mangas, o cabelo preso com pressa e os olhos marcados por olheiras. Mesmo assim, tentou sorrir.
— Aêêê, viva! — Hanna gritou, fazendo a amiga rir um pouco.
— Achei que tinha fugido da França de vez — brincou Isabela.
Melissa se sentou ao lado delas com um suspiro longo.
— Ontem foi difícil, gente…
— Sua mãe? — Hanna perguntou, olhando com empatia.
Melissa apenas assentiu.
— Jogou na minha cara que sou um peso morto… disse que ou arrumo um emprego ou tô fora de casa.
— P*ta merda… — Isabela falou, sem conseguir disfarçar a indignação. — E você ainda quer fazer o bem pra ela.
— É minha mãe… — Melissa murmurou. — Mas eu não vou parar. Eu cheguei até aqui com tanto esforço. Não vou desistir agora.
Hanna puxou a mochila e tirou um jornal amassado.
— Então, ó… olha isso aqui. — Ela folheou até a página de classificados. — Passei no mercadinho e vi esse jornal. Tem algumas vagas, mas uma em especial me chamou atenção.
Melissa pegou o papel e leu com calma.
"Família de prestígio busca babá para cuidar de criança de poucos meses. Requer paciência, responsabilidade, descrição. Excelente remuneração. Localização: área nobre da cidade. Interessadas devem comparecer ao endereço X no dia seguinte às 10h."
— Parece coisa de filme — comentou Isabela.
— E é. — Hanna riu. — Aposto que é daquelas famílias super ricas, sabe? Hospital, empresa, o pacote todo.
— Será que…? — Melissa franziu a testa. — Não é aquela família D’Arcy?
— Vai saber — Isabela deu de ombros. — Mas se for, melhor ainda. Tu arranja um emprego bom e ainda cuida de um bebê fofo.
— Nem sei se vão me aceitar — Melissa mordeu o lábio. — Nunca trabalhei com isso.
— Mas tu tem jeito com criança. E é doce, paciente. Vai dar certo — Hanna encorajou.
Melissa dobrou o jornal com cuidado e guardou na mochila, decidida.
No dia seguinte, ela estaria lá. De frente para um novo começo.
O que ela não sabia era que o destino já a esperava — no silêncio de uma casa enorme, com cheiro de lavanda e saudade, onde uma criança dormia sozinha.
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Atualizado até capítulo 93
Comments
💕Sonhadora💕
a história e bem interessante, mas estou sentindo muita falta das fotos dos personagens
2025-05-02
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Jade SOUZA
Breve irei posta fotos dos personagens
2025-05-02
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