Capítulo 2 – Colisões Inesperadas
O calor do sol da manhã invadia a sala de aula, e Gabriel não conseguia se concentrar. Ele sentia uma inquietação crescente, algo que parecia ter surgido do nada. As anotações que ele fazia não faziam mais sentido; as palavras pareciam dançar diante de seus olhos, distorcidas por algo que ele não queria admitir.
Noah.
Ele sabia que o comportamento de Noah nos últimos dias estava começando a afetá-lo, embora tentasse ignorar. O novo aluno estava sempre por perto, tentando puxar conversa, fazendo perguntas e, de alguma forma, mantendo-se ao seu lado o tempo todo. Gabriel, por mais que tentasse manter o foco no que realmente importava para ele — suas notas e os planos para o futuro —, não conseguia parar de pensar no sorriso fácil e na energia cativante de Noah.
Era um fato simples: eles não eram iguais. Gabriel era contido, reservado, e acreditava que a vida se resumia ao que estava no livro. Mas Noah era tudo o que Gabriel não era — extrovertido, imprevisível e, em alguns momentos, até insuportável.
Naquela manhã, o motivo para a inquietação de Gabriel estava claro: um trabalho em grupo. O professor havia anunciado, no início da semana, que os alunos teriam que se reunir para realizar um projeto sobre música e sua relação com a cultura jovem. A princípio, Gabriel não se importou muito com isso, já que o tema se encaixava bem no seu estilo de trabalho. Mas ele não contava que Noah fosse, mais uma vez, se intrometer.
Eles tinham que dividir as funções para o trabalho, e quando a conversa se iniciou, Gabriel tentou se afastar, ficar na dele. Mas não demorou muito para que Noah se aproximasse com seu jeito descontraído, já jogando ideias para a apresentação.
— Então, Gabriel, o que você acha de começarmos a escrever sobre as influências do rock nos anos 80? Eu acho que seria irado. — Noah falou com um sorriso, seu entusiasmo quase transbordando.
Gabriel, sentado de forma rígida, olhou para Noah, tentando entender o motivo de tanta energia. Ele preferia escrever sobre algo mais técnico, menos emocional. Algo simples, que não o fizesse sair da sua zona de conforto.
— Não sei… Acho que o tema pode ser mais abrangente. O impacto da música de forma geral na juventude seria um bom foco, não acha? — Gabriel sugeriu, tentando manter o tom neutro. Ele não queria parecer antipático, mas estava evidente que Noah não estava disposto a trabalhar no ritmo que ele queria.
— Eu entendo, mas música não é só teoria, Gabriel. Tem que ter um pouco de sentimento no meio. Você vai ver. Se a gente escolher um estilo mais marcante, como o rock, vai ser muito mais interessante de apresentar. — Noah disse com confiança, virando-se para o resto da turma e tentando incluir todos na conversa.
Gabriel sentiu uma onda de frustração. A maneira como Noah falava, como se estivesse sempre no controle, como se soubesse exatamente o que era melhor, o incomodava. Ele não queria ser apenas um participante passivo, não queria que alguém decidisse o rumo do trabalho sem sequer perguntar a opinião dele.
— Acho que você está levando para um lado pessoal demais, Noah. Estamos fazendo um trabalho, não um show. — Gabriel respondeu, tentando esconder a irritação que começava a crescer dentro de si. Sua voz saiu mais ríspida do que ele gostaria, mas já era tarde.
O ambiente ao redor deles ficou tenso, e os outros colegas de classe começaram a observar, percebendo a troca de farpas entre os dois. Noah, ao contrário de Gabriel, não parecia intimidado. Em vez de recuar, ele sorriu ainda mais, como se estivesse gostando da provocação.
— Gabriel, eu só estou tentando tornar o trabalho mais interessante. Você não pode esperar que tudo seja tão... sem graça, né? — Noah respondeu, se inclinando para frente, seu sorriso desafiador.
Gabriel, não querendo dar o braço a torcer, cruzou os braços e olhou fixamente para Noah. O que ele queria dizer era que preferia focar nas coisas que eram importantes para ele, sem perder tempo com algo que fosse muito fora do seu controle. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de si o impelia a ouvir Noah, a perceber que, talvez, esse desajuste entre eles fosse uma oportunidade para aprender algo novo.
Antes que ele pudesse responder, o professor interrompeu a conversa.
— Vamos focar no trabalho, pessoal. Cada grupo vai ter que se concentrar no que mais se destaca para fazer uma boa apresentação. Vamos trabalhar juntos, e não em disputa. — O professor disse, tentando suavizar o clima tenso.
Mas, para Gabriel, aquilo não significava o fim da tensão. O que parecia uma simples divergência de ideias se tornava algo mais: ele estava sendo empurrado para fora de sua zona de conforto, e, de uma maneira desconfortável, Noah estava desafiando tudo o que ele pensava sobre como a vida deveria ser.
Ao longo da semana, a relação entre os dois continuou marcada por essas pequenas colisões. Gabriel tentava se manter focado e controlado, mas Noah sempre estava lá, propondo algo mais ousado, desafiando a maneira como ele via o mundo. Era como se o novo aluno fosse uma tempestade que vinha destruindo suas barreiras, e, de algum modo, ele não sabia mais como evitar ser atingido.
Mas o que Gabriel não sabia era que essas colisões, essas divergências, estavam criando algo novo. Ele não estava apenas sendo desafiado por Noah; ele estava começando a se abrir para novas possibilidades, e, de algum modo, isso o aterrorizava e o fascinava ao mesmo tempo.
No dia seguinte, quando Gabriel entrou na sala, ele percebeu que Noah estava esperando por ele. O sorriso descontraído no rosto de Noah parecia querer dizer algo mais. Algo que Gabriel ainda não queria entender. Mas, no fundo, ele sabia que não poderia mais ignorar. A distância entre eles já não existia mais, e algo que ele não queria admitir começava a crescer em seu peito.
E ele não sabia como reagir a isso.
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Atualizado até capítulo 22
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