Prisioneiros do Desejo
A noite estava sufocante. O céu, um imenso breu sem estrelas, ameaçava desabar a qualquer momento. A estrada sinuosa cortava a floresta como um corte profundo na pele da montanha, e Lara sentia o cansaço pesar em seus músculos enquanto dirigia.
O rádio do carro tocava uma melodia suave, quase um sussurro contra o barulho da chuva que começava a cair. Seus olhos ardiam de exaustão. O dia tinha sido longo demais no escritório de advocacia, lidando com clientes exigentes e prazos insanos. Tudo o que queria era chegar logo ao seu refúgio, uma cabana isolada nas montanhas, onde ninguém poderia perturbá-la.
Mas então, ela viu.
Uma silhueta surgiu no meio da estrada.
Lara arregalou os olhos, o coração disparando no peito.
— Merda!
Seus reflexos assumiram o controle. Puxou o volante bruscamente para a direita, e os pneus cantaram no asfalto molhado. O carro derrapou, girando uma vez antes de bater violentamente contra a cerca de madeira ao lado da estrada.
O impacto a jogou contra o cinto de segurança, tirando-lhe o ar dos pulmões. O rádio desligou, e por um segundo, tudo foi silêncio.
O único som era da chuva tamborilando contra o capô do carro.
O medo rastejou pela sua espinha como um veneno. Seu peito subia e descia rapidamente enquanto tentava processar o que acabara de acontecer.
Seus olhos se moveram para o retrovisor. O homem ainda estava ali.
Imóvel.
Lara sentiu um arrepio.
Quem diabos andava sozinho no meio da estrada, no meio da noite, no meio de uma tempestade?
Seu corpo gritava para que ligasse o carro e pisasse fundo, mas antes que pudesse reagir, o estranho começou a andar na direção dela.
Cada passo dele era letal. Controlado.
Ele era alto, forte, de ombros largos e feições esculpidas na escuridão. As roupas escuras estavam molhadas e rasgadas. Seu rosto era parcialmente obscurecido pela sombra da tempestade, mas Lara conseguia ver os olhos — olhos afiados, intensos, fixos nela como um predador observando sua presa.
Ela engoliu em seco.
Seus dedos vacilaram enquanto pegava o celular no painel. Tentou desbloqueá-lo, mas suas mãos tremiam demais.
O homem parou ao lado da porta do motorista.
E então, sem aviso, bateu no vidro.
Lara gritou baixo, pressionando as costas contra o banco, como se pudesse desaparecer dali.
O coração martelava contra as costelas.
Ele levantou as mãos lentamente, num gesto que poderia significar um pedido de ajuda — ou um aviso.
A voz dele era grave, rouca, cortando o silêncio da noite como uma lâmina:
— Me deixe entrar.
Tudo nela gritava não.
Mas, por alguma razão que não conseguia explicar, sua mão já estava indo para o botão de destravar a porta.
Por que diabos ela estava destravando a porta?
O homem abriu a porta e entrou.
O cheiro dele invadiu o espaço — uma mistura de terra molhada, suor e algo mais... ferroso. Lara se encolheu contra a porta, tentando manter distância, mas o espaço era pequeno demais.
Ele fechou a porta devagar, seus olhos escuros cravados nela.
O silêncio entre eles era denso, elétrico.
— Você quase me matou. — Ele disse, a voz baixa, mas carregada de algo perigoso.
— Você estava no meio da estrada! — Lara cuspiu as palavras, tentando ignorar a adrenalina queimando em suas veias. — O que diabos estava fazendo ali?
O homem não respondeu.
Seus olhos desceram lentamente pelo corpo dela, analisando-a como se tentasse decifrar algo. Lara sentiu um arrepio percorrer sua pele. Havia algo nele, algo bruto e letal, que a fazia querer correr e, ao mesmo tempo, ficar.
— Você está sangrando. — Ela murmurou, seus olhos caindo sobre a camisa preta encharcada dele. Havia um rasgo profundo no tecido, e por baixo, a pele estava marcada por um corte longo e recente.
O homem olhou para a ferida como se fosse irrelevante.
— Não é nada.
Lara piscou, atordoada.
Quem falava desse jeito sobre um ferimento como aquele?
— Você precisa de um hospital.
Ele soltou um riso curto, sombrio.
— Não. O que eu preciso é que você me tire daqui. Agora.
Os instintos de Lara gritavam que aquilo era uma péssima ideia. Ele podia ser um criminoso. Um fugitivo. Um assassino.
Mas então, ela viu.
O brilho metálico de uma arma, presa à cintura dele.
Seu corpo congelou.
O homem notou. Inclinou-se ligeiramente para mais perto, os olhos cravados nela, e então disse, num tom que fez sua pele arrepiar:
— Se eu quisesse te machucar, já teria feito isso. Agora, ligue o carro.
Lara sentiu os músculos travarem. Sua mente gritava que deveria abrir a porta e correr, mas algo nela sabia que ele a alcançaria antes que pudesse dar dois passos.
Ela engoliu seco.
E ligou o carro.
As luzes dos faróis cortaram a escuridão novamente enquanto ela voltava para a estrada, dirigindo sob o olhar afiado do homem ao seu lado.
O silêncio era espesso, sufocante.
— Pra onde você estava indo? — Ele perguntou, a voz rouca cortando o ar.
Lara hesitou.
— Para casa.
— Onde?
— No alto da montanha.
Os olhos dele brilharam com interesse.
— Ótimo. Vá para lá.
Ela engoliu a resposta ácida que queria dar. Seu coração ainda batia acelerado, e o calor da presença dele era perturbador.
A estrada se desenrolava diante deles, e a cada quilômetro, Lara se perguntava no que diabos tinha acabado de se meter.
Mas uma coisa era certa:
Esse homem não era um simples viajante perdido.
E, antes que a noite acabasse, ele mudaria sua vida para sempre.
Continua…
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Atualizado até capítulo 20
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