Blenda

Blenda foi até a caixa e, ao abrir, encontrou dentro um filhote de Spitz Alemão branco que deu um pequeno latido.

Blenda amou, mas resolveu que ia se fazer de durona. Ela tirou o pequeno de dentro da caixa, que tinha uma pequena cama e, ao lado, ração, petiscos e brinquedos.

Blenda disse: 'Como você é linda, mas não vou poder ficar com você.'

O cachorro se deitou nos braços dela, e ela fez carinho nele.

Blenda: Seu nome será Chanel porque é chique.

Chanel era uma cachorrinha dócil e amou sua dona desde o primeiro instante; onde Blenda ia, a pequena bola de pelo a acompanhava, e no fundo, Blenda estava adorando aquilo.

À noite, Vinícius chegou e, ao ver o cachorro, começou a se alterar.

Blenda: Vinícius, eu não vou devolver o cachorro. Foi um presente do meu pai, então pare com isso.

Vinícius ficou resmungando e foi para o quarto. Blenda foi atrás e falou sobre o dinheiro, entregando-o a ele, que agradeceu e riu à toa; nem parecia o homem que, até pouco tempo atrás, estava alterado por conta de um cachorro.

Uma semana havia se passado; era a semana da formatura de Blenda, onde ela iria à Chanel acompanhada. Vinícius continuava chegando tarde, mas Blenda largou de mão e resolveu que não ia mais cobrar atenção dele. Desde que, no final, ele voltasse para ela, estava tudo bem.

Blenda foi a uma das grifes mais famosas de São Paulo naquele dia para escolher seu vestido, e queria o melhor de todos.

Após experimentar vários, finalmente ela escolheu um. Se tivesse condições, seu vestido seria feito especialmente para ela, com um dos seus próprios desenhos. Mas, como não estava em uma situação muito boa, teve que se contentar com aquilo e resolveu também que não iria pedir nada ao seu pai.

Blenda e Chanel voltaram para casa. Foi então que ela percebeu que não tinha ração e que Chanel precisava de um banho. Ela resolveu ir até a casa de seu pai, já que foi ele quem lhe deu o cachorro e pediu que ele assumisse essa responsabilidade também.

Blenda dirigiu em direção à casa de seu pai, e logo a entrada foi liberada, e a governanta abriu a porta.

Governanta: Olá, pequena Blenda.

Blenda: Oi, senhora Sônia.

Deu um beijinho em cada lado da bochecha da senhora e entregou o cachorro em suas mãos.

Blenda: Meu pai está?

A senhora concordou e, logo, saiu da sala levando a cachorrinha nos braços.

Blenda foi em direção ao escritório de seu pai, mas ele não estava lá. Blenda sentou-se para esperar que ele aparecesse até que avistou o cofre onde seu pai guardava coisas. Não havia dinheiro dentro, apenas sua impecável coleção de armas. Roberto tinha porte de armas e adorava colecioná-las.

Blenda foi em direção ao cofre, digitou a data do seu aniversário e, bingo, o cofre se abriu. Ela ficou encantada com todas aquelas opções, pegou uma delas e a observou, passando-a pelo rosto e respirando fundo.

Blenda: Era só uma apertada e adeus, Blenda.

Blenda ouviu passos, fechou o cofre e esqueceu de colocar a arma de volta. Então, jogou-a dentro de sua bolsa e sentou-se na cadeira.

Roberto: Olá, minha filha! Também senti saudades. Que bom que veio me ver.

Blenda: Não vim só te ver, Roberto. Vim aqui porque preciso de dinheiro.

Roberto: Sinto muito, mas não irei te dar dinheiro.

Blenda: Tudo bem, então. Eu trouxe o cachorro; está com a senhora Sônia, e estou devolvendo. Eu não tenho dinheiro para me manter; imagina um cachorro! Era só isso. Tchau, Roberto.

Blenda levantou-se com sua postura impecável, pegou sua bolsa e saiu desfilando do escritório do pai.

Roberto estava chocado com aquilo. Blenda não havia brigado ou sequer o obrigou a lhe dar dinheiro, e pelos dias que ela estava sem dinheiro, era para ele já estar surtado.

À noite, Blenda estava assistindo a um filme enquanto comia pipoca, quando a porta se abriu. Era Roberto, com o cachorro na mão, de banho tomado e com tudo o que Chanel precisava.

Roberto: Aqui estão as coisas do cachorro. Amanhã venho aqui para sairmos e escolhermos o vestido da sua formatura.

Blenda: Pai, com todo respeito, você pode ir embora. Eu não preciso do vestido; eu já comprei.

Roberto olhou para a filha, triste, e saiu do apartamento de Blenda, que continuou assistindo ao seu filme.

Três dias se passaram. Hoje é o dia da formatura de Blenda. Vinícius esteve com ela esses três dias, fazendo companhia.

Blenda: Bom dia, meu amor! Vamos acordar; hoje é um dia muito feliz para mim.

Vinícius: Bom dia, meu bem. Sabe, eu não tenho roupa. Você poderia comprar uma no seu cartão e eu te pagaria depois, pode ser?

Blenda olhou para ele, chocada com aquilo.

Blenda: Vinícius, eu não tenho dinheiro, não tenho cartão, não tenho mais nada. Minhas contas todas foram bloqueadas pelo meu pai. Eu deveria ter avisado antes, e faz pouco tempo que fiz uma grande compra de roupas para você.

Vinícius ficou alterado ao ouvir que Blenda não tinha dinheiro.

Vinícius: Como assim você não tem dinheiro por causa do que seu pai fez? Eu não irei à sua formatura, então.

Blenda não estava acreditando naquilo.

Blenda: É sério, eu esperava mais de você.

Blenda foi ao banheiro, tomou banho, vestiu uma roupa leve e saiu de casa sem se despedir de Vinícius. Levou sua Chanel, já que fazia questão de levá-la para todos os lugares.

Ela chegou em casa já em cima da hora, tomou um rápido banho, fez sua maquiagem e colocou seu vestido.

Seu vestido era azul royal, tomara que caia, tinha uma fenda que ia até acima das suas coxas e desenhava sua cintura perfeitamente.

Colocou um salto prateado brilhante com tiras, passou creme na pele e finalizou com o seu melhor perfume, o Miss Dior.

Blenda: Infelizmente, você não poderá ir, mas não irei demorar; assim que acabar, eu volto para casa.

Disse, abraçando o cachorro.

Foi até a sala, pegou sua beca e seu chapéu, saiu com sua pequena bolsa e desceu até o estacionamento. O combinado era que seu pai a levaria até o lugar onde aconteceria a formatura e entraria com ela também, mas ele não apareceu. Blenda optou por ir até sua formatura em sua Ferrari SF90 de cor branca com vidro fumê. Ligou o som e saiu como se nada a abalasse.

Alguns minutos depois, ela chegou, vestiu sua beca, colocou o chapéu e caminhou para dentro do espaço. Olhou ao redor e não viu seu pai nem Vinícius. Ela respirou fundo, sentou-se junto com sua turma e logo começou. Houve discursos dos professores e, logo em seguida, começaram a chamar os alunos. Na vez de Blenda, ela se levantou e foi em direção ao palco, até que sentiu alguém cruzar seu braço. Ela olhou para o lado e era seu pai.

Ela ficou feliz. Roberto a acompanhou, esperou que ela assinasse o papel e logo recebeu seu diploma. Cada um voltou para seu lugar.

No final, teve um coquetel. Blenda curtiu um pouco; seu pai levou Patrícia e elas conversaram um pouco. Blenda resolveu ir até o banheiro, fez sua necessidade e estava lavando as mãos quando seu celular apitou.

Eram várias fotos de Vinícius com sua amante. Ela não queria acreditar quem estaria enviando isso. Havia uma foto de Vinícius usando uma joelheira chique. Blenda chorou no banheiro e lavou o rosto.

Blenda: Preciso ir embora, tá? Beijos, aproveitem a festa.

Roberto: O que aconteceu? Acabou de começar! Fica mais um pouco.

Blenda: Não vai dar, pai. Eu tenho que ir pra casa; a Chanel está sozinha.

Essa foi a única desculpa que Blenda conseguiu dar.

Ela entrou no carro e saiu cantando pneu e batendo no volante. A dor que ela estava sentindo naquele momento ela não sabia descrever; havia fotos deles no ato em um motel.

Blenda: POR QUE VINÍCIUS? POR QUE TUDO QUE FIZ POR VOCÊ NÃO FOI SUFICIENTE? MERDA, EU TE ODEIO.

Blenda gritava de dor, e dava para ver que seu grito vinha da alma. Para ela, aquilo foi suficiente; ela iria dar um basta naquilo.

Blenda foi para casa, trocou de roupa e pegou outra bolsa, e logo saiu novamente. Passou em um lugar antes de ir ao seu destino, comprou algo e deu risada.

Blenda: Se isso for verdade, Vinícius, você está muito lascado.

Blenda foi até o trabalho de Vinícius e ficou esperando por ele na saída, dentro do carro. Quando anoiteceu, Vinícius saiu, entrou em seu carro e seguiu em uma direção que ela não sabia muito bem. Logo, parou em frente a uma casa bonita e entrou.

Horas depois, ele saiu de mãos dadas com a mulher da foto. Eles estavam arrumados, com as roupas que Blenda comprou para ele. Ele estava usando para sair com aquela mulher, e aquilo estava sendo demais para ela, mas precisava se controlar. Vinícius abraçou a mulher e deu um beijo, e logo entraram no carro. Mais uma vez, Blenda os seguiu.

Vinícius parou em frente a um restaurante chique. Blenda deu uma gargalhada; como pôde passar esse tempo todo dando dinheiro para ele sair com outra? Devia ser ironia do destino, mesmo.

Vinícius e sua amante entraram de mãos dadas, logo sentaram-se à mesa e fizeram o pedido. Blenda entrou e viu que ele estava de costas para a porta, sentou-se em uma mesa próxima à dele e ficou de costas, ouvindo tudo.

Vinícius: Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, e hoje estamos completando nove meses de namoro.

Aquilo foi um tapa na cara de Blenda. Eles dois já tinham quase dois anos juntos, e ele estava com uma amante há nove meses. Como isso é possível?

Mulher: Ah, querido, eu amo você.

Eles começaram a conversar sobre coisas aleatórias e logo pediram a sobremesa.

Vinícius: Aproveitando que estamos aqui nesse momento especial, quero te pedir em noivado.

Blenda olhou para trás com os olhos arregalados e encontrou Vinícius ajoelhado, esperando uma resposta da mulher.

Blenda levantou-se e começou a bater palmas.

Blenda: Lindo! - Palmas - Muito lindo! Confesso que fiquei emocionada. Olha só, gente, que cena linda!

Vinícius ficou em pé na hora, assustado.

Vinícius: Blenda, eu posso explicar.

Blenda: Explica o que quer dizer com 'sem querer você escorregou e caiu no colo da sua amante'?

Ela perguntou, rindo.

Blenda: Tá vendo, gente? Isso é o que dá confiar em homem que não tem nada. Eu que dou tudo, desde roupa até dinheiro. Ele falou pra mim que precisava de dinheiro porque a mãe estava doente. Eu dei o dinheiro e aqui ele comprou um anel de noivado de diamante. Ah, tá vendo esse anel aqui no meu dedo? Fui eu quem comprei um par de aliança de compromisso, porque ele não tinha dinheiro para comprar nossa aliança de namoro. Kkkkk! Tá vendo essa roupa? Eu que comprei também. - Blenda olhou para a amante dele e falou, olhando nos olhos dela - Seu anel de noivado, eu que paguei. Esse restaurante chique, eu que paguei também. O carro do ano que você anda, eu que paguei. Essa roupa que ele veste, eu paguei também. Se duvidar, até a cueca que ele está usando, eu que paguei. Não estou te julgando, porque você não me deve nada. Não te conheço e nem me interessa quem você é, meu caso com ele, mas fico feliz que você conseguiu chegar onde eu não consegui. Ele te ama, ele olha para você como nunca olhou pra mim, e eu desejo toda a felicidade do mundo para vocês. Espero que você tenha dinheiro para bancar esse gigolô. Era só isso.

Blenda saiu com sua postura impecável, com Vinícius correndo atrás dela. Ela fingiu que não escutou e foi até seu carro, pegou o fósforo, a gasolina e um taco de beisebol que tinha no porta-malas.

Caminhou em direção ao carro dele, começou a quebrá-lo e o carro ficou todo amassado. Blenda espalhou gasolina pelo veículo e colocou fogo.

Vinícius, que estava indo na direção dela, começou a gritar.

Vinícius: “Você é louca! Olha o que você fez com a porra do meu carro, sua mimada! Só te suportei por causa do seu dinheiro.”

Vinícius foi até Blenda, deu um tapa em seu rosto e começou a empurrá-la com força.

Ela olhou pro chão e viu que sua bolsa era exatamente a que tinha a arma de seu pai, ela não tinha tirado de dentro, ela saiu das mãos dele e foi até a bolsa.

Blenda: Agora você vai ver o que a mimada vai fazer com você.

Pegou a arma e atirou nele que olhou para ela sempre acredita.

Vinícius: Você.. você.atirou em mim.

Ele caiu ajoelhado o tiro agarrou em alguma parte da barriga já que era de lá que sangrava.

Blenda ficou observando ele gemendo de dor a amante dele foi correndo até ele pedindo ajuda o segurança do restaurante rendeu Blenda e ligou pra polícia e ficou esperando chegar.

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