homem

Eu desisto.

Meu corpo está exausto, mas o sono se recusa a vir. Não adianta lutar contra isso. Meu coração ainda bate forte, acelerado pela tensão dos últimos acontecimentos. Cada vez que fecho os olhos, vejo o rastro de sangue, a fera me observando, e aquela sensação estranha na minha pele, como se algo estivesse mudando dentro de mim.

Solto um suspiro frustrado e empurro os cobertores para o lado, levantando-me da cama. O calor da fogueira ainda aquece o ambiente, mas minha pele está fria. Decido sair para respirar um pouco, talvez o ar fresco ajude a clarear minha mente.

Assim que abro a porta, o ar noturno me envolve, e o cheiro da chuva ainda paira no ar. Mas nada me prepara para o que vejo.

Não há mais um lobo sentado diante da minha cabana.

Há um homem.

Meu peito se aperta. O choque me impede de dar um passo sequer. Ele está ali, de pé sob a luz da lua, seu corpo alto e forte irradiando algo bruto, intenso, impossível de ignorar. Sua pele morena parece quase dourada sob o brilho prateado da noite, cada músculo esculpido como se fosse obra de algo além da natureza humana. Seu cabelo negro cai de forma selvagem, algumas mechas úmidas da tempestade anterior.

Mas são seus olhos que me prendem no lugar.

Dourados, predatórios. Os mesmos olhos da fera.

Minha respiração falha. Meu corpo inteiro se aquece de dentro para fora, e um calafrio percorre minha espinha ao mesmo tempo.

Ele dá um passo à frente.

— Então é assim que você olha para um macho que acabou de lhe oferecer comida? — Sua voz é grave, ríspida, carregada de algo perigoso.

Minha mente ainda está tentando processar o que está acontecendo. Esse... esse é o lobo? Não pode ser. Mas, ao mesmo tempo, tudo nele grita que sim.

— Você... — Minha voz sai fraca, quase inaudível.

Ele arqueia uma sobrancelha, um meio sorriso surgindo em seus lábios bem desenhados. Há algo nele que queima, algo que faz meu corpo responder antes mesmo da minha mente entender. Ele sabe disso.

Ele sabe o poder que tem.

E isso me enfurece.

— O que você é? — Minha pergunta sai mais afiada do que eu pretendia.

Ele dá mais um passo, e eu recuo instintivamente. Mas isso só faz seu sorriso se alargar. Ele gosta do efeito que tem sobre mim, gosta da minha reação.

— Meu nome é Atlas. — Sua voz é carregada de autoridade, como se cada palavra fosse dita com uma certeza inabalável. — E eu sou o que você vê.

— Você era um lobo. — Eu não vacilo. Preciso manter minha mente no lugar.

— Ainda sou. — Ele inclina a cabeça ligeiramente, me observando como um predador que estuda sua presa. — Mas também sou um homem.

Minha garganta seca.

Ele continua se aproximando, e, dessa vez, não recuo. Não quero mostrar fraqueza, não quero que ele pense que tem qualquer poder sobre mim. Mas meu corpo parece discordar. Meu coração bate forte, meus músculos estão tensos, e minha pele parece hipersensível à presença dele.

Atlas percebe isso.

Ele para a poucos centímetros de mim, sua altura me obrigando a erguer o rosto para encará-lo. A proximidade faz com que eu sinta o calor que emana dele, o cheiro de terra molhada misturado a algo puramente masculino, selvagem.

— Você ainda não respondeu minha pergunta — respiro fundo, tentando ignorar a forma como sua presença me intoxica. — O que você é, exatamente?

Ele levanta a mão devagar, e eu me forço a não me mover. Seus dedos roçam meu braço, exatamente onde a marca da minha maldição queima. Minha pele reage ao toque, como se reconhecesse algo que minha mente ainda não entende.

— Você já sabe a resposta. — Seus olhos se fixam nos meus, intensos demais, profundos demais.

Meu estômago se revira. Há algo nisso, algo nele, que me chama de uma forma que não faz sentido. Minha marca pulsa, e eu prendo a respiração.

Ele percebe.

Atlas se inclina ligeiramente, sua boca ficando perigosamente perto da minha. Ele não toca, não força nada, apenas me faz sentir a eletricidade desse momento. Como se estivesse testando algo. Como se soubesse que, apesar da minha resistência, algo dentro de mim já o reconhece.

E eu odeio isso.

— Se me morder, te faço de casaco — ameaço, minha voz um pouco rouca.

O sorriso dele cresce, malicioso, divertido. Como se gostasse do desafio. Como se quisesse mais.

— Eu adoraria ver você tentar.

Seu tom é puro fogo. Meu corpo responde, mesmo que eu não queira. Meu sangue corre mais quente, mais rápido. Isso não é normal. Nada disso é.

— Se me machucar usarei a minha magia em você.

O sorriso dele não some. Pelo contrário.

Atlas me olha como se eu tivesse acabado de entreter sua noite. Como se eu fosse um joguete que ele pudesse manejar. Meu sangue ferve com essa ideia. Eu não sou presa. Nunca fui.

— Engraçado — ele murmura, dando um passo ao lado, circulando-me devagar, como se quisesse me testar. — Você não cheira como uma bruxa.

Meu maxilar se contrai.

— Mas eu sou — rebato, sem vacilar.

A verdade é que eu não sei exatamente o que sou. Minha magia sempre esteve lá, mas nunca se manifestou como deveria. Apenas essa marca — essa maldição — sempre ardendo em minha pele, sem um motivo claro, sem explicação.

Atlas continua me rondando, estudando cada detalhe meu. Ele não tem pressa, e isso me irrita.

— Sabe, fêmea — ele murmura, a voz um sussurro carregado de algo que eu não consigo decifrar. — Se quiser me ameaçar, vai precisar de algo mais convincente.

Eu não hesito. Levanto a mão e concentro minha energia no ar ao meu redor. Em um instante, o vento se ergue, as folhas secas se espalham ao nosso redor, e a madeira da cabana range com a mudança súbita de pressão.

Se ele acha que sou frágil, está enganado.

Atlas para no mesmo instante. Seus olhos dourados brilham, e eu sei que ele sentiu.

— Hm. — Seu sorriso cresce. — Isso foi melhor.

Ele gosta disso. Da ameaça, do desafio. Ele não tem medo.

Mas também não avança.

Isso me intriga. Se ele fosse como qualquer outro lobo, já teria tentado me dominar, já teria tentado quebrar essa barreira. Mas Atlas... ele observa. Ele espera. Como se estivesse analisando cada movimento meu antes de agir.

— E se eu quisesse machucar você? — ele pergunta, cruzando os braços.

Eu o encaro, firme.

— Então eu faria com que se arrependesse disso.

Silêncio.

O ar entre nós vibra. A energia dele é quente, bruta, primitiva, como se a qualquer momento pudesse explodir em pura violência. Mas a minha não é menor. Eu sei disso. Ele também.

Atlas inclina a cabeça para o lado, um olhar afiado, intenso.

— Você não tem medo de mim, tem?

Eu hesito.

Deveria?

Algo dentro de mim grita que sim. Que esse homem — esse lobo — não é alguém com quem se deva brincar. Ele exala perigo em cada movimento, em cada respiro. Mas, ao mesmo tempo...

Meu corpo reconhece algo.

E eu odeio isso.

— Se tivesse, eu já teria fugido — murmuro.

Seus olhos brilham de um jeito diferente agora. Como se estivesse me vendo de verdade pela primeira vez.

Atlas dá mais um passo, diminuindo o espaço entre nós. Agora, posso sentir o calor dele, o cheiro de terra molhada misturado a algo puramente masculino.

— Sabe, fêmea... — Ele levanta a mão, os dedos roçando o ar ao lado do meu rosto, sem tocar de fato. Apenas testando minha reação. — Acho que vou gostar de brincar com você.

Meu coração bate forte.

Eu deveria mandá-lo embora. Deveria colocar uma barreira entre nós, expulsá-lo da minha cabana, do meu espaço.

— Brincar? Como assim??

— Você saberá no momento certo, no momento que eu quiser que saiba.

— Você precisa ir embora. Não tenho tempo para essas coisas.

— por falta de comida? Vou te alimentar com carne todos os dias de sua vida. Se for frio irei te esquenta, independente do que precisar estarei lá para ajudar.

No fim desisti de tentar argumentar, ele não parecia que iria embora de qualquer forma.

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Comments

Marfisa Torres Ferreira

Marfisa Torres Ferreira

estou ansiosa pelos próx capítulos

2025-03-12

1

Nélida Cardoso

Nélida Cardoso

é mesmo não dá vontade de parar de ler é muito boaaaaa a istoria amando muitoooo /Heart//Heart//Heart//Heart//Heart//Heart//Heart/

2025-05-01

0

Ester

Ester

ela é o que dela alma gêmea dela

2025-03-12

1

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