Capítulo 2 – O Enterro da Duquesa
O céu estava carregado, como se refletisse o peso insuportável da perda que pairava sobre todos. A chuva fina caía sem pressa, encharcando o solo lamacento do cemitério e tornando cada passo um desafio para os enlutados. O cheiro de terra molhada misturava-se ao perfume suave das rosas brancas espalhadas sobre o caixão.
Lady Margaret Montrose, a duquesa de Ravencourt, era agora apenas um nome gravado em pedra fria.
A lápide recém-escavada ostentava inscrições em letras elegantes:
Margaret Montrose, amada esposa, filha e duquesa. Que seu riso ecoe para sempre entre os anjos.
Palavras bonitas, mas incapazes de preencher o vazio que sua morte deixara.
O duque de Ravencourt estava ali, diante do túmulo, imóvel como uma estátua esculpida no próprio mármore que adornava a lápide. Seu rosto, sempre marcado por uma imponência austera, agora era um vazio sem emoção. Seu olhar, fixo na terra recém-revolvida, parecia não enxergar mais nada além do passado.
Os murmúrios de condolências soavam ao redor, abafados pela chuva e pelo pesar coletivo. Nobres e aristocratas trajavam preto, seus rostos refletindo um luto educado, contido, como era esperado da alta sociedade. Algumas mulheres choravam discretamente atrás de lenços bordados, enquanto os homens mantinham a expressão sombria e digna.
Mas ninguém ali sentia a dor como ele.
— Que ela descanse em paz. — A voz do padre soou baixa e grave, carregada de solenidade, antes que ele lançasse o primeiro punhado de terra sobre o caixão.
O som da terra atingindo a madeira foi como uma facada no peito de Alexander.
Era real. Margaret se fora. Para sempre.
Os pais da falecida duquesa foram os primeiros a se aproximar. Lorde e Lady Withmore pareciam devastados. A mãe dela mal conseguia se manter de pé, apoiando-se no marido enquanto soluçava baixinho.
— Ela era nosso anjo… — sussurrou a senhora, jogando uma única rosa sobre o caixão.
— Nossa luz… — completou o pai, sua voz embargada.
Outros vieram em seguida. Amigos, conhecidos, todos murmurando palavras de conforto ao duque, que não reagia. Ele apenas ouvia, sem realmente escutar. Apenas via, sem realmente enxergar.
Porque a única voz que ele queria ouvir nunca mais falaria.
— Meus pêsames, Vossa Graça.
— Que Deus lhe dê forças.
— Ela foi uma mulher admirável…
Ouvia as palavras, mas elas não significavam nada. Nenhuma delas poderia trazê-la de volta.
Apenas quando Lady Beatrice se aproximou, suas palavras penetraram a névoa de dor que envolvia Alexander.
— A morte é uma criatura impiedosa, não é, duque? Arranca de nós aqueles que mais amamos sem aviso algum…
Ele ergueu os olhos, encontrando o olhar penetrante da viúva de meia-idade. Ela não parecia tão triste quanto curiosa.
— Mas não se preocupe. O tempo cura tudo. E um homem como Vossa Graça não permanecerá sozinho por muito tempo.
Alexander sentiu o sangue ferver.
— Se veio aqui para insinuar algo, Lady Beatrice, sugiro que saia. — Sua voz era baixa, mas carregada de ameaça.
A mulher abriu um sorriso enigmático.
— Apenas uma observação, querido duque. Viúvos sempre são alvo de olhares ambiciosos… e piedosos.
Ela se afastou antes que ele pudesse responder.
Alexander fechou os olhos por um momento, tentando conter a fúria e a dor que ameaçavam transbordar.
— Margaret… — murmurou, sua voz se perdendo na chuva.
Ele sentiu uma presença distante, um olhar discreto sobre ele.
Mas não se virou.
Evelyn Fairfax não deveria estar ali.
Ela sabia disso, mas não conseguira evitar.
Observava de longe, como sempre fizera. Como fizera no último baile, quando Margaret ainda sorria nos braços do marido. Como fizera por anos, sem que ele jamais percebesse sua existência.
Mas ali estava ela, testemunhando sua dor.
Seu peito apertava ao vê-lo daquela forma – um homem outrora forte e impenetrável, agora destruído pela perda. Seus olhos azul-acinzentados, antes cheios de vida e propósito, estavam vazios, como se a alma tivesse sido arrancada junto com Margaret.
Evelyn queria ir até ele.
Queria dizer que entendia.
Queria dizer que ele não estava sozinho.
Mas que direito tinha?
Ela não era ninguém para ele.
Então, quando Alexander Montrose virou-se e deixou o cemitério sem olhar para trás, levando consigo apenas o peso do luto e uma promessa quebrada, Evelyn permaneceu imóvel.
Molhada pela chuva.
Silenciosa como uma sombra.
Sem saber que, um dia, por um capricho cruel do destino, seria ela a usar branco e caminhar ao lado do duque de Ravencourt.
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Atualizado até capítulo 35
Comments
💙 Shofie
O momento do velório em si, é um tormento sem fim. Mas mesmo sem vida, a gente ainda sente a presença da pessoa ali. Porém, pra mim, há dois momentos q é como se a pessoa "re-morresse", é quando se fecha o caixão: pois é ali q começa cair a ficha q a pessoa se foi, e esse "punhado" de terra: q é como se vc tbm fosse jogado junto, ainda em vida, naquela dor inabalável
2025-03-14
1
Marta
Prenúncio do Final de quem já não está mais aqui e, o início da tortura de quem fica!
2025-03-05
30
💖 케지아 라임 💜
Perder alguém que se ama é horrível 😢 😔
2025-03-17
1