Entidades Que Amam

Entidades Que Amam

O Juramento e o Encontro Proibido

A névoa era espessa, como uma cortina de morte que cobria tudo à sua volta. No submundo, onde as almas perdidas se arrastavam sem fim, o tempo não tinha significado. As regras eram claras, impassíveis como a rocha, ditadas pelos superiores que governavam a eternidade. Entre os seres imortais, um demônio e um espírito destacavam-se não apenas pelo poder que possuíam, mas pela dor silenciosa que carregavam em seus corações. Uma dor que, apesar de toda a força sobrenatural, não podiam apagar.

Azrael, o demônio, observava o vazio da sua existência. Sua forma imponente refletia a crueldade que sempre vivera. Seu nome era sinônimo de tirania no submundo. Mas nada poderia esconder a fraqueza que ele sentia pela humana. Nada poderia apagar o desejo que crescia como uma chama incontrolável dentro dele. Pela alma do demônio em mim, ele jurara, nunca fui apaixonado, nunca fui fraco. Mas diante dela, algo mudou. Ele a via em cada canto da escuridão, como um farol em meio à neblina, sua alma pura e vulnerável. Ele não sabia o que era aquilo, mas sabia que não podia deixar de querer mais.

Elyra, o espírito, flutuava suavemente entre as sombras. Sua natureza fria e racional era sua única proteção, seu único escudo contra o tumulto emocional que os mortais pareciam provocar. Ela era uma entidade ligada ao vazio, à morte, ao fim. Sentir algo nunca foi uma opção. Mas isso foi antes dela conhecer a humana. Ela a via em seus sonhos, sua alma vibrando de uma maneira que Elyra não conseguia compreender. Pela minha alma morta, sim, eu me apaixonei. Não queria, não desejei, mas ela… ela me fez ser alguém que eu nunca soubera ser.

Ambos haviam feito um juramento diante de seres superiores. O pacto foi claro: nunca poderiam revelar seus sentimentos, nem aos humanos que amavam. A proteção deles era o único caminho possível. Eles haviam sido escolhidos para ser os guardiões daqueles cujas vidas estavam em risco. Mas esse pacto, como todos os pactos, tinha um preço.

Eles nunca seriam livres para amar.

E então, em meio à escuridão, no silêncio das suas almas atormentadas, o amor floresceu. Um amor impossível, perigoso, condenado desde o início. E com ele, o peso de um juramento que, à medida que passava o tempo, começava a se quebrar por dentro.

A lua estava oculta atrás de nuvens pesadas, como se o próprio céu temesse os acontecimentos que se desenrolavam naquele momento. Azrael estava na borda da cidade, onde o vento cortante sussurrava segredos em línguas antigas. Seus olhos, de um vermelho profundo como o fogo, observavam a janela do edifício onde ela estava. A humana. Ela não sabia, mas ele estava ali, esperando o momento em que pudesse vê-la novamente, embora soubesse que sua presença ali era um risco — para ela e para ele.

Naquela noite, Elyra também estava próxima. Ela não aparecia fisicamente, mas sua essência flutuava perto, como uma névoa que se infiltra nos lugares mais sombrios, mais distantes. O espírito nunca se permitia ser vista por outros, muito menos pela humana que, mesmo inconscientemente, havia arrancado algo profundo e desconhecido de seu ser.

Elyra sentia a mesma atração, a mesma necessidade de aproximar-se, mas a cautela, aliada ao medo do juramento quebrado, fazia com que ela se mantivesse distante. Ela sabia que o que sentia era uma maldição. Seus próprios sentimentos a traíam, fazendo-a duvidar de sua própria existência. Eu sou fria, racional. Não posso ser o que ela deseja. Não posso ser o que nunca fui. E, no entanto, a saudade de algo desconhecido a consumia.

Mas naquela noite, algo mudou. A luz da janela de onde a humana estava começou a brilhar com intensidade, e as sombras ao redor se aprofundaram. Elyra sentiu. Sentiu o desejo, o medo, o tumulto dentro da humana. O coração dela pulsava com uma força estranha. Não era só uma simples alma; era algo mais. Elyra sabia que deveria se afastar, que não devia olhar mais uma vez. Mas algo a puxou.

Ela apareceu.

Silenciosa como sempre, Elyra se materializou na penumbra, sua forma etérea tornando-se mais visível. Seus olhos, gelados e vazios, focaram na humana que estava ali, sentada na mesa, aparentemente perdida em pensamentos. E, naquele instante, algo aconteceu — a humana olhou para ela.

O choque foi imediato, uma colisão de dois mundos que se negavam a existir juntos. Elyra, a essência da morte e do vazio, viu algo nos olhos da jovem — algo que a fez duvidar de sua própria racionalidade.

Ela não deveria ter sido vista. Mas o coração de Elyra disparava de uma maneira que ela nunca experimentara antes. Ela sentiu, pela primeira vez, que estava verdadeiramente viva, não como uma entidade, mas como um ser capaz de sentir, de desejar. E tudo isso se resumia a uma mulher que, no fundo de sua alma, tinha o poder de destruí-la.

Azrael, vendo a cena à distância, sentiu o peso da angústia se apertar em seu peito. Ele não podia agir. Não podia interferir. Mas os sentimentos que tentava ignorar estavam se tornando um veneno que se espalhava por sua essência. Ele sentia a dor da saudade, da impossibilidade. Pela primeira vez, ele se questionava se poderia realmente cumprir o juramento. Eles não podiam ser mais do que apenas sombras e promessas quebradas.

O olhar de Elyra para a humana durou apenas um instante. Mas aquele momento foi o suficiente para ambos, o espírito e o demônio, perceberem que o amor que compartilhavam, em segredo, começava a ser refletido nas almas dos humanos. O destino deles estava entrelaçado de uma forma que jamais poderiam imaginar. E, mais uma vez, o peso do pacto caiu sobre eles.

O que fariam agora?

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