“Guilherme”
Cheguei na delegacia achando que era tudo muito tranquilo. Uma delegacia da mulher do interior do estado os casos devem ser pequenos, mas estavam todos agitados.
Lá da porta ouvi a voz da Gi falando com autoridade, soltando ordens para todo lado.
Fui me aproximando e ela estava falando com Detetive Melissa, a namorada do Marreta, e ela chamou a Gi de Delegada.
Ela é a delegada linha dura? Eu já deveria ter imaginado, uma mulher tão dona de si não poderia ser a moça do cafezinho, agora entendi porque ela não tem namorado. Quando vira e me vê, vem falar comigo.
— O que você faz aqui? Agrediu alguma mulher? Agora, se veio dar queixa, sente ali e espere logo alguém vira atendê-lo.
— Eu não estou aqui por nenhum desses motivos.
— Não me diga que veio atrás de mim? Porque, se foi isso, é melhor ir saindo. Eu não misturo assunto particular com meu trabalho.
Mas que mulher marrenta, resolvi quebrá-la para aprender a ouvir antes de sair falando.
— Também não foi para isso, eu sou o investigador que veio transferido de São Paulo, só vim conhecer o local onde vou trabalhar, nem sabia que você trabalhava aqui.
“Gi”
Não estou acreditando, será que é uma brincadeira dos deuses? Ele vai trabalhar aqui sob meu comando?
Mas, já que ele está aqui, vamos ver se é bom no que faz. Está querendo me deixar constrangida? Vai ter que fazer melhor, querido, vou te mostrar como as coisas funcionam por aqui.
— Tudo bem, investigador Guilherme Mendonça, estamos com um caso difícil e pouco pessoal.
O homem acusado de abusar da neta está na sala de interrogações, assuma o interrogatório por favor.
— Mas só vim conhecer, só começo a trabalhar amanhã.
— Sou a delegada e estou te dizendo que você já começou a trabalhar, assuma o interrogatório, a investigadora Melissa vai te passar os detalhes.
— Pode deixar, delegada, eu atualizo o investigador Guilherme, vem comigo, por favor.
“Guilherme”
Ela nem se abalou, como pode uma mulher ser tão controlada assim? Achei que ia quebrá-la, ela simplesmente me deu um tombo e ainda me mandou ir trabalhar. Vou fazer o meu serviço, mas ainda vou conversar com a delegada, que mulher.
Fui com Melissa que me atualizou sobre o abuso e me levou até onde está o homem acusado.
Olhei aquele senhor sentado na sala de interrogatório e não me pareceu um abusador.
— Ele não tem cara de ter abusado da neta.
— Guilherme, aqui você vai ver muitos que não têm cara, mas fizeram e, tem algumas vezes, tem alguns que tem cara e não fizeram, a delegada sempre nos manda seguir o lema que o acusado é inocente até que se prove o contrário.
— Ela me parece muito inteligente. Não parece a mesma de ontem à noite.
— Ela é muito inteligente, mas é firme, não aceita erros e nem brincadeiras em serviço, não mistura vida profissional com vida particular, temos a liberdade das pessoas nas mãos e com a lei Maria da Penha, qualquer um quer acusar o outro de violência, você sabe que a lei funciona para os dois lados?
— Sim, sei, mas ainda não vi um homem usando a lei para prender a mulher.
— Aqui você vai ver isso e muito mais, pais acusando filhos de maus tratos, avós acusando netos, marido acusando a esposa.
— Achei que aqui ia ser mais tranquilo do que onde eu estava.
— É mais tranquilo, mas não deixa de ter crimes bárbaros.
— Então vamos lá ver se o senhor Juca abusou da neta.
— Boa sorte aí, eu tenho que arrumar uma psicóloga para falar com a menina.
— Você é o braço direito da delegada?
— Quase isso, estou estudando e especializando para ser escrivã, já fiz até a prova.
— Quer trabalhar com o Marreta?
— Ele é escrivão de polícia há bem mais tempo que eu, está na DIG daqui de Rio Preto e não quero ser igual a ele, só quero ter o meu lugar.
“Gi”
Olhei pelo vidro de minha sala e vi Melissa e Guilherme no mesmo lugar que deixei, mas qual a parte de que temos pouco tempo para acusar o avô que eles não entenderam?
Guilherme já vai chegar causando problemas?
Saí da minha sala e cheguei até onde eles estavam.
— A fofoca deve ser quente, para vocês ainda estarem aqui no mesmo lugar.
Melissa sabe que não gosto de rodinhas, já virou me pediu desculpas.
— Desculpa, delegada, me distrai por um momento.
— Vai fazer a sua parte, investigadora Melissa, e deixa o novato mostrar se merece trabalhar conosco ou não.
— Nossa, Gi, não precisa falar assim com Melissa, ela só estava conversando um pouco comigo.
A delegacia inteira ficou um silêncio, porque sabem que Guilherme acabou de atravessar uma linha que não permito.
— Vou dar um desconto porque não fomos apresentados formalmente e o senhor não conhece as regras internas da delegacia. Aqui eu não sou Gi, sou “Delegada Gi” e o senhor deve respeitar a hierarquia.
Se fosse sua filha que estivesse no hospital passando por aquele exame horrível, você ia querer chegar na delegacia e ver os investigadores trocando figurinhas no meio do corredor? Acho que não, minha delegacia preza pelo nome que tem, então se o senhor quer trabalhar aqui me respeite como sua superior e vá fazer seu serviço.
Guilherme fez uma continência e falou.
— Sim, delegada Gi, agora mesmo, delegada Gi.
Ele vai me dar trabalho, vi os outros querendo rir da insubordinação dele, mas por agora deixei que pense que me venceu, nosso tempo é curto, logo o advogado do estado chega para defender o velho e nós não vamos conseguir interrogá-lo, voltei para minha sala.
“Guilherme”
Cheguei na delegacia e fiz a descoberta do ano, a moça que estava interessado é a delegada.
“Estava” porque agora não estou mais, ela é gostosa, tentando mandar em mim, então ficou mais gostosa ainda, mas não me envolvo com policiais, ainda mais com minha chefe.
Mas achei que poderíamos manter a parte da amizade, me distraí conversando com Melissa e a delegada veio e nos deu uma bronca no meio do corredor.
Vi Melissa desconfortável e resolvi defendê-la. A coisa ficou pior, a delegada acabou comigo, mas sou safo e conheço bem esse tipo de autoridade, é só fazer uma graça e acabo com a moral dela, fiz uma continência.
Já vi muitos superiores frios, mas igual à Gi ainda não havia visto, ela me deu um sermão e me mandou cumprir com minha obrigação.
Voltou para a sala dela e eu fiquei olhando aquela bunda se afastando de mim. Ela ficou muito gostosa de farda, que mulher irritantemente gostosa.
Fui pegar o depoimento do avô e, quando estou quase conseguindo fazer com que ele me conte a verdade, entra o advogado e me impede de continuar.
Saí da sala e a Delegada está me olhando, fui até ela.
— Não consegui fazer com que ele me contasse a verdade, se eu tivesse mais um pouco de tempo, teria conseguido.
— Se o senhor não tivesse ficado de conversa fiada com a detetive Melissa, talvez tivesse conseguido cumprir sua obrigação. Agora temos que esperar o advogado nos deixar falar com ele, e nada vamos conseguir porque ele já vai estar orientado.
— E a menina? Não pode nos ajudar?
— Só tem 13 anos, está assustada e com muito medo do pai e do avô, porque sabe que eles vão voltar para casa e nós não vamos poder protegê-la.
— Então, o que estamos fazendo aqui?
— Lutando contra o tempo para conseguir arrancar uma confissão de um velho pervertido, porque aí, sim, vamos poder mantê-lo preso e longe da garota.
Fiquei olhando para a Gi e senti o peso do cargo que ela exerce, tem que coordenar a polícia inteira e fazer a lei funcionar e no Brasil isso é muito difícil.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 60
Comments
Jocilene Santos
ela tá certíssima todo tempo é curto ate pq as leis do Brasil são uma porcaria é tanto q os próprios presos tem suas leis contra estrupadores
2025-04-08
1
Lu e a Estante de Sonhos
Adorando!!! Gi, tú é top!!! Pelo menos, até agora!!😅😅😅😅😅
2025-03-26
3
Tania Cassia
e o pior que isso acontece é real, 😔😔
2025-03-23
1