Mia sentia seu coração pulsavando contra o peito enquanto corria ao lado de Davi. O frio da noite congelava a sua pele, e o chão úmido da floresta parecia querer engolir seus pés a cada passo. E som de folhas e galhos atrás deles ecoava como um aviso sombrio: não estavam sozinhos.
Ela não sabia exatamente do que estavam fugindo, mas sentia—com cada fibra de seu ser—que algo os caçava.
— Falta pouco! — Davi exclamou entre respirações ofegantes.
Mia olhou para ele, vendo o suor escorrendo por sua testa e a expressão determinada. Seus olhos, antes familiares e acolhedores, agora carregavam um brilho feroz, como se ele estivesse prestes a fazer algo extremo.
Outro uivo cortou o silêncio da noite.
Dessa vez, não parecia distante.
— O que é isso? — Mia perguntou, tentando ignorar o medo que apertava sua garganta.
— Não olhe para trás — foi tudo o que Davi disse.
Mas Mia não conseguiu evitar.
Virou o rosto por um instante e viu.
Na escuridão da floresta, entre as árvores, algo se movia. Formas distorcidas, mais sombras do que corpos, deslizavam pelo chão com rapidez antinatural. Seus olhos brilhavam num tom vermelho opaco, como brasas adormecidas.
Mia sentiu sua respiração falhar.
Aquilo não era humano.
— Mais rápido! — Davi puxou sua mão com força.
Eles saíram da trilha e entraram em uma área densa da floresta, onde os galhos baixos arranhavam seus braços e a escuridão parecia ainda mais espessa.
De repente, Davi parou bruscamente.
À sua frente, a floresta se abria para uma clareira iluminada apenas pela lua. No centro, uma construção de pedra se erguia, coberta de musgo e envolta por um ar de mistério. Era um templo antigo, esculpido na própria montanha, suas paredes carregadas de símbolos ancestrais.
— Entre! — Davi empurrou Mia para dentro antes de bater a pesada porta de madeira atrás deles.
O silêncio preencheu o ambiente.
O peito de Mia subia e descia rápido enquanto seus olhos percorriam o interior do lugar. Velas estavam espalhadas pelo chão, algumas ainda acesas, lançando sombras oscilantes contra as paredes. Inscrições antigas cobriam a pedra, símbolos que pareciam vibrar levemente sob a fraca luz.
— O que é este lugar? — Mia sussurrou.
Davi recuou até a porta, encostando-se nela, como se tentasse recuperar o fôlego. Seus olhos estavam fixos no chão, e ele demorou um momento antes de responder.
— Um santuário. O último lugar onde eles podem nos alcançar.
Mia engoliu em seco.
— Quem são "eles"?
Antes que ele pudesse responder, algo bateu na porta com um impacto violento.
A madeira tremeu.
Mia recuou instintivamente, o coração disparado.
Davi olhou para ela com urgência.
— Preciso que confie em mim.
Outro impacto. A madeira rangeu.
Mia sentiu o medo apertando seu peito.
— Me diz o que está acontecendo!
Davi fechou os olhos por um segundo, como se estivesse reunindo coragem. Quando os abriu novamente, havia uma intensidade diferente ali.
— Você... não é só uma garota comum, Mia.
Ela franziu a testa, o pânico momentaneamente substituído pela confusão.
— Como assim?
Davi hesitou, mas antes que pudesse responder, a porta foi atingida com ainda mais força. Rachaduras começaram a se espalhar pela madeira.
Então, um estrondo ecoou pelo templo.
A porta explodiu para dentro, e Mia se encolheu quando estilhaços de madeira voaram pelo ar.
As sombras da floresta entraram.
Criaturas de formas distorcidas, suas silhuetas tremeluzindo como se não pertencessem completamente àquele mundo. Seus olhos vermelhos brilharam no escuro enquanto avançavam, e um frio sobrenatural preencheu o ambiente.
Mia sentiu um nó de puro terror em seu peito.
— Atrás de mim! — Davi ordenou, sua voz diferente, carregada de algo que ela nunca havia ouvido antes.
Antes que Mia pudesse reagir, ele ergueu a mão e murmurou algo em um idioma estranho.
Então, algo aconteceu.
O ar ao redor deles pareceu vibrar, e uma luz azulada surgiu do nada, se expandindo rapidamente até formar um círculo brilhante no chão. Quando as criaturas tentaram atravessá-lo, foram lançadas para trás com violência, grunhindo de frustração.
Mia olhou para Davi, chocada.
— O que foi isso?
Ele respirou fundo, os olhos brilhando com a mesma luz azul do círculo.
— Magia.
Mia piscou, tentando absorver aquilo.
— Isso não é possível...
— É. E você também pode fazer — ele disse, a voz carregada de certeza.
Mia sentiu um arrepio percorrer seu corpo.
— Como você sabe disso?
Davi olhou para ela, e por um momento, pareceu que estava prestes a revelar um segredo pesado.
— Porque é por isso que eles estão atrás de você.
As palavras pairaram no ar como um trovão distante.
Mia sentiu tudo girar ao seu redor. Sua avó, a noite estranha, as criaturas, a fuga... e agora isso?
— Eu não entendo...
Antes que Davi pudesse responder, um som cortou o ar.
Um grunhido diferente. Mais profundo.
Mia olhou para a porta destruída e viu.
Uma figura emergiu das sombras, maior e mais imponente do que as outras. Seu corpo era coberto por um manto negro, mas seus olhos não eram vermelhos como os demais. Eram dourados, como fogo líquido.
E quando ele falou, sua voz fez algo dentro de Mia estremecer.
— Finalmente te encontrei.
Ela sentiu um arrepio subir pela espinha.
Davi se colocou na frente dela instintivamente.
— Você não pode levá-la.
A figura riu, um som baixo e carregado de ameaça.
— Quem disse que você pode impedi-los?
Mia mal teve tempo de processar antes que tudo ao seu redor explodisse em caos.
Luzes e sombras se chocaram. Davi ergueu as mãos e conjurou mais barreiras, enquanto as criaturas avançavam. O templo inteiro parecia vibrar com uma energia desconhecida.
E então, Mia sentiu algo dentro de si despertar.
Seu corpo esquentou, como se uma força invisível estivesse tentando emergir.
A figura de olhos dourados olhou diretamente para ela.
— Vamos, Mia. Você sabe o que fazer.
E, de repente, ela soube.
Não sabia como ou por quê, mas sentiu a magia pulsando dentro de si, esperando para ser libertada.
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Atualizado até capítulo 100
Comments
Elenilda Soares
será quê essa criatura é um caçador e mia vai ser uma também
2025-03-10
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Gelcinete J. Rebouças
Vamos ver o que Mia pode fazer
2025-02-22
0