Capítulo 3 - A queda e a Centelha

Dos confins do reino, relatos diversos de como bruxos e magos passaram a se aproveitar das famigeradas armas de fogo. Eles adicionavam metal que conduzia melhor a mana, embutiam runas e selos mágicos nas armas, aumentando o seu potencial.

Em pouco tempo essa variável se tornou comum, uma única "arma rúnica", como as chamavam, podia ceifar a vida de vários guardas armados com as versões normais.

Para Merlin, agora um homem desolado, pelo uso indecente da sua melhor tecnologia, que vagava agora por sua existência com o peso das suas frustrações. A sua figura outrora respeitada e aclamada tornara-se uma sombra do seu antigo brilho. Vestindo roupas amassadas e com cabelos desgrenhados, ele parecia um retrato da decadência que sentia no seu espírito.

"As minhas armas, criadas para erguer os fracos, agora são usadas pelos fortes para oprimi-los novamente… " lamentava diariamente.

Enquanto o mundo ao seu redor prosperava com a fusão entre magia e ciência, Merlin via sua visão deturpada e transformada em algo que desprezava. Sua criação, concebida para libertar os comuns do jugo da magia, havia sido distorcida em armas rúnicas que serviam apenas para reforçar a dominação dos magos e aumentar a carnificina. O que ele idealizara como um avanço tornou-se uma ferramenta de destruição.

Sua última visita à Central de Desenvolvimento Científico e Mágico fora o golpe final em seu orgulho. Ao ser conduzido por Liliana, uma jovem assistente com olhar afiado e comentários discretos, Merlin sentiu o julgamento em cada passo. A sala do presidente, repleta de adornos opulentos que refletiam o sucesso daquela fusão que ele tanto repudiava, parecia um mausoléu de sua derrota pessoal.

— "Merlin, meu velho amigo," começou o presidente, um homem de porte elegante chamado Adrian Falk, enquanto indicava uma cadeira de couro macio. "Sente-se, por favor."

O tom amistoso era falso, e Merlin sentia isso. Ele se acomodou de qualquer jeito, afundando na cadeira.

— "O que deseja, Adrian?"

Adrian inclinou-se, apoiando os cotovelos na mesa e cruzando as mãos.

— "Veja bem, Merlin, faz meses que não contamos com sua presença ativa. Enquanto os avanços continuam, sua ausência é notável... e preocupante."

Merlin tentou justificar sua ausência, balbuciando algo sobre estar ocupado com projetos pessoais, mas o olhar cético de Adrian interrompeu sua tentativa.

— "Merlin," o presidente suspirou, "você é o símbolo de tudo isso aqui. Ou melhor, era. O que vejo agora é um homem que se tornou o oposto do que representava. Essa figura desleixada não inspira ninguém."

As palavras atingiram Merlin como lâminas. Ele tentou arrumar o cabelo e a barba, em um gesto instintivo, mas o esforço apenas reforçou sua aparência abatida.

— "Preste atenção," continuou Adrian, com um tom mais severo. "Eu não posso permitir que você seja um exemplo negativo para as gerações futuras. Por isso, estou afastando você das suas funções. Vá para casa, Merlin. Encontre-se novamente. Talvez você precise lembrar quem você é."

Merlin não respondeu. Levantou-se lentamente, murmurou algo inaudível e saiu. Ele estava arrasado.

 

...Reflexão na Solidão...

De volta à sua oficina, Merlin encarou seu reflexo no espelho. A imagem era deprimente: olhos fundos, pele pálida, cabelos e barba sem cuidados. Ele se sentia um eco de algo que nunca fora grandioso o suficiente.

— "Eu nasci para fracassar?" murmurou para si mesmo, com a voz rouca e trêmula. "Talvez eu realmente nunca consiga superar essa barreira chamada magia. Sou fraco demais para compreender algo que transcende o entendimento... fraco demais para..."

Ele não terminou a frase. Suas palavras foram interrompidas por uma folha que deslizou de uma estante próxima e pousou suavemente no chão. Merlin olhou para o papel por alguns instantes antes de se abaixar para pegá-lo. Era uma página de um livro básico de magia, ilustrando um círculo mágico rudimentar que lançava uma bola de fogo.

Ele reconheceu o diagrama imediatamente. Era a primeira magia que qualquer criança nobre aprendia na escola. O círculo estava meticulosamente desenhado, com runas detalhadas para cada aspecto da magia: calor, combustão, movimento, direção.

Merlin franziu o cenho. Algo dentro dele despertou, uma pequena fagulha. Ele estudou o círculo com olhos renovados, notando os detalhes que antes não o interessavam.

— "Uma runa para cada direção," sussurrou para si mesmo. "Então, será que há uma runa para cada informação necessária para criar uma bola de fogo? Uma para calor, outra para ignição, outra para expansão... E se... E se eu puder compreender isso de verdade?"

A ideia tomou forma em sua mente. Merlin sentiu sua curiosidade científica reacender, como um fogo que fora abafado por anos de frustração. Ele pegou um caderno empoeirado e começou a anotar freneticamente, suas mãos tremendo de excitação.

— "Se há runas para cada aspecto, então há um padrão... uma lógica subjacente! A magia não é aleatória; ela segue regras. Regras que podem ser desvendadas."

 

...A Centelha do Renascimento...

Nos dias que se seguiram, Merlin mergulhou de cabeça em sua nova obsessão. Ele reuniu todos os livros básicos de magia que conseguiu encontrar, reestudando cada feitiço simples com uma perspectiva diferente. Não mais como um mago frustrado, mas como um cientista determinado.

Elara, sua antiga assistente, visitou sua oficina certa manhã. Ela ficou surpresa ao vê-lo trabalhando com fervor, cercado de livros e diagramas.

— "Merlin?" ela chamou, hesitante. "O que está fazendo?"

Ele levantou os olhos das suas anotações, um brilho que Elara não via há anos.

— "Elara, você acredita que magia e ciência são incompatíveis?"

Ela franziu a testa, sem saber como responder.

— "Eu... nunca pensei nisso. Por que a pergunta?" se surpreendendo com a pergunta repentina. "E... Nem um 'bom dia'?"

Merlin sorriu, com um sorriso genuíno, embora ainda cansado.

— "Porque eu acho que encontrei a conexão. Magia não é um mistério insondável. Ela é um sistema, como qualquer outro. E eu vou decifrá-la."

Elara sentiu um arrepio. Havia algo diferente em Merlin. O homem quebrado que ela conhecia começava a se reconstruir, uma peça de cada vez.

Naquela noite, enquanto Merlin continuava trabalhando, ele olhou para o círculo mágico na folha que o inspirara. Pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu esperança.

— "Não vou apenas desafiar a magia. Vou entendê-la... e dominá-la."

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Eirlys

Eirlys

Me arrepiou! ❄️

2025-01-15

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Capítulos
1 Capítulo 1 - O Fracasso Acende...
2 Capítulo 2 - A Revolução
3 Capítulo 3 - A queda e a Centelha
4 Capítulo 4 - Não é Magia, é Ciência!
5 Capítulo 5 - O Renascimento
6 Capítulo 6 - Chama da Revolução
7 Capítulo 7 - Desperdício
8 Capítulo 8 - Encontro de Gênios
9 Capítulo 9 - Revolução da Informação
10 Capítulo 10 - Uma Nova Jornada
11 Capítulo 11 - Nova Estratégia
12 Capítulo 12 - Caminho de Midlands
13 Capítulo 13 - Máscara Branca
14 Capítulo 14 - O Início da Caçada
15 Capítulo 15 - Cabeça de Wyrmboroso
16 Capítulo 16 - O Mercado Negro: Parte 1
17 Capítulo 17 - O Mercado Negro: Parte 2
18 Capítulo 18 - O Enigma do Frasco
19 Capítulo 19 - O Flagelo dos Fortes
20 Capítulo 20 - O Caminho para Yggdrasil
21 Capítulo 21 - O Desafio
22 Capítulo 22 - O Confronto no Vale Cinzento
23 Capítulo 23 - O Campo de Batalha de Merlin
24 Capítulo 24 - Um Passo a Diante
25 Capítulo 25 - O Segredo das Dimensões
26 Capítulo 26 - Missão Secreta
27 Capítulo 27 - Adentrando a Mansão Greyrat
28 Capítulo 28 - Pai e Filho
29 Capítulo 29 - Início de Duelo
30 Capítulo 30 - Contra-ataque
31 Capítulo 31 - O Teste Final
32 Capítulo 32 - O Remanescente
33 Capítulo 33 - A Última Peça
34 Capítulo 34 - O Caminho de Volta
35 Capítulo 35 - Mana Natura
36 Capítulo 36 - O Reservatório Absoluto
37 Capítulo 37 - O Domínio do Feiticeiro Perfeito
38 Capítulo 38 - A Lenda do Físico Caído
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Atualizado até capítulo 38

1
Capítulo 1 - O Fracasso Acende...
2
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5
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