BRAD
Estou a quatro anos no Congo, o que era para ser uma missão de paz de seis meses vacinando crianças, se estendeu por quatro anos.
Uma vez que conheci essas crianças, não consigo virar as costas para elas. Estava numa péssima fase da minha vida. Tudo aconteceu numa espiral de problemas, um atrás do outro, que quando um amigo me convidou para essa missão de paz dos médicos sem fronteiras, eu simplesmente deixei tudo para trás e parti.
Pensei que conseguiria fugir da dor. Mas ela me acompanha até hoje. Tinha uma vida que todos achavam que era perfeita, mas claro que não era.
Estudei muito, para ser o melhor que eu pudesse na minha profissão. Me graduei com bolsa de estudos, a minha mãe era empregada doméstica, nós vivíamos nos fundos da casa de seus patrões. Eu admirava muito o patrão da minha mãe. Nunca conheci o meu pai, a minha mãe nunca me falou dele, eu também nunca a vi com ninguém. O dr.Gutierrez tinha duas filhas e eu sempre soube que elas eram proibidas para mim, crescemos juntos, e eu as tratava como irmãs. Mas sabia qual era o meu lugar naquela casa. Nunca me revoltei e nem quis mais do que poderia ter.
A minha mãe desde pequeno, sempre me dizia para não ter mais do que amizade com elas, e sempre respeitei isso. O Dr Gutierrez é médico e sempre conversava comigo e perguntava da escola. E a vontade surgiu de seguir a mesma profissão que ele. Quando eu contei a ele, disse-me que o deixaria orgulhoso, se eu seguisse os seus passos.
Eu consegui bolsa integral em Harvard, e fui fazer medicina. Me formei e fiquei imensamente feliz quando ele apareceu na minha formatura. A família dele tem um hospital em Miami e depois da residência, resolvi que queria a pediatria. Ele convidou-me para ingressar no hospital da família, fiquei feliz e me dediquei ao hospital.
Conheci a Alice e começamos a namorar, eu já era um médico prestigiado. Ela era de família rica, mas eu nunca me importei com isso, nos apaixonamos e logo ela engravidou eu a pedi em casamento e nos casamos. Ela me dizia que não queria sair da casa dos pais para não deixar a sua mãe sozinha, que havia ficado viúva há pouco tempo. Então a minha mãe se aposentou e ficou com o meu apartamento e eu lhe fiz a vontade e fomos morar na mansão da família dela.
Eu trabalhava muito e logo começaram as cobranças, depois que nossa filha nasceu, ela queria ir para festas e jantares da sociedade, aos quais eu não tinha interesse e nem tempo. As brigas eram constantes. Se eu não fizesse as suas vontades, o mundo vinha abaixo.
Depois que sua mãe casou-se de novo com um conde da Inglaterra e foi para lá, parece que tudo desmoronou, nossa filha era sempre deixada com as babás. O Dr Gutierrez me pediu para assumir a Vice presidência do hospital, pois ele estava doente. Então a minha carga de trabalho triplicou e um belo dia recebi as minhas malas no hospital junto com o pedido de divórcio. Ela nem falou comigo, somente através de advogados. Eu via a minha filha, somente em fins de semanas alternados, isso quando ela não dizia que a Allyson tinha um compromisso importante e eu não poderia vê-la.
E o meu mundo tão perfeito começou a desmoronar, a minha mãe descobriu um câncer já em estado avançado, não tive como salvá-la e no seu leito de morte eu descobri a verdade sobre a minha concepção.
Ela me contou que sou filho daquele homem que eu admirava tanto. Em uma noite em que ele chegou bêbado em casa, foi para o quarto dela e a violou. No dia seguinte arrependido, implorou que ela não contasse nada para a sua esposa, pois iria estragar o seu casamento e carreira. E ela se calou, quando descobriu a gravidez, falou com ele que prometeu cuidar do meu futuro. As bolsas que eu achava que ganhei nas escolas eram na verdade pagas pelo meu pai.
Até mesmo, Harvard foi paga por ele.
Fiquei furioso com ele, e com ela por nunca terem me contado a verdade. No enterro dela, ele tentou falar comigo, mas eu não aceitei conversar. No hospital, apesar dele não estar lá, ficou um clima estranho, não que alguém soubesse, mas eu me sentia uma fraude. Parece que tudo o que conquistei foi por ele. Eu nem conseguia me concentrar no trabalho, quando resolvi procurar outro hospital onde eu pudesse trabalhar sem a sombra dele, ele também faleceu e fui chamado para a abertura do testamento.
Ele me deixou o hospital em testamento e foi então que as minhas meias irmãs ficaram sabendo toda a verdade e não aceitaram nada bem. Ele me deixou de pés e mãos amarrados, se eu não aceitasse o hospital às minhas irmãs ficariam sem nada. Se eu aceitasse a herança, teria que dirigir o hospital e elas ficariam com as outras propriedades, dinheiro e empresas que ele tinha.
Então pelo bem delas, eu tive que aceitar aquela herança. Mas mesmo assim as duas entraram em guerra comigo.
Elas não achavam justo que eu herdasse o hospital, na verdade, nem eu! Eu não queria aquela herança, não queria nada dele. Primeiro ele foi um canalha com a minha mãe, segundo me deixou crescer naquela casa sem um pai, sem saber que ele estava próximo de mim, não me deu o seu nome, sempre tive mágoa por na minha certidão de nascimento, estar como pai desconhecido.
Eu perdoei a minha mãe, nunca vou entender os seus motivos, mas a perdoei. Mas ele? É outra história, só me arrependo de não tê-lo confrontado, não que o que ele fez tenha perdão! Mas deveria ter falado tudo o que me corrói o peito.
Assumi o hospital e tentei levar a vida adiante. Mas os problemas não terminaram. Desde que fui declarado dono do hospital, os problemas começaram a se acumular. Greve de funcionários, materiais cirúrgico roubados, empresas de produtos hospitalares que sempre trabalharam conosco, de repente cancelaram contratos. Uma coisa atrás da outra. Eu não tinha tempo para nada, só tentando não deixar que o hospital não quebrasse. Quando parecia que tudo ia bem, que conseguia resolver uma crise aqui, outra ali, começaram os processos por negligência, dois médicos foram afastados, até a apuração dos casos.
E quando começa esse tipo de coisa, tudo desmorona, o advogado do hospital me dizia para pagar que tudo sumiria, mas eu sempre acreditei na justiça, e eu também queria saber se houve realmente negligência por parte dos profissionais que integravam a minha equipe.
As ações caíram drasticamente e os diretores também começaram a questionar a minha competência, eu queria entregar essa presidência para um administrador competente, mas nem isso pude fazer. O testamento dizia que tinha que ficar pelo menos um ano no cargo. Eu nem tinha tempo para fazer o que gosto, que é a pediatria.
Uma noite estava saindo do hospital pela primeira vez em dias, dormia de duas a três horas no sofá do escritório mesmo. Quando chegou uma ambulância com um garoto que havia sofrido um acidente de carro, que estava no banco da frente e sem cinto de segurança. Não havia um pediatra de plantão, então fui atender o garoto.
Notei a hemorragia interna e o mandei para a cirurgia, me lavei e entrei e descobri como a equipe estava desfalcada. Só estávamos eu, o anestesista, e uma enfermeira que eu não gostava, e nem confiava. Essa mulher correu atrás de mim por muito tempo, enquanto eu era casado e tivemos uma briga séria, durante um plantão, que eu dormi no quarto de descanso dos médicos, e acordei com ela se deitando nua ao meu lado. A coloquei no seu lugar, mas não dei queixa e nem quando me tornei dono do hospital, a demiti, nunca fui uma pessoa vingativa.
A cirurgia levou horas, eu estava cansado, os ferimentos eram muito graves, mas tenho certeza que fiz o que podia. O deixei na ala intensiva com a fé de que ele sairia dessa.
Sai do hospital e fui para casa, deitei e dormi, me levantei depois de quatro horas e voltei ao hospital. Estava no meio de uma reunião da diretoria, quando a mãe da criança entrou me acusando de ter matado o seu filho.
O garoto morreu e um prontuário com a minha assinatura dizia que dei a ordem de ministrar um remédio que o garoto não podia tomar, pois era alérgico. No primeiro momento eu duvidei que tinha cometido esse erro, tentei de diversas formas, descobrir o que realmente aconteceu e não consegui, cheguei a um ponto de duvidar de mim mesmo. Eu matei uma criança.
Até sair a sentença de erro médico, eu ainda comandei o hospital, mas depois, contratei um administrador, pois já havia se passado um ano, e saí do país. Mas a dor de ter causado a morte de uma criança, nunca saiu do meu coração.
(Foto tirada da Internet)
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Atualizado até capítulo 92
Comments
Maria Do Socorro Bezerra
Com certeza foi essa escrota mal amada que armou para cima dele
2025-04-10
2
Anoan Rodrigues
Tudo armação das irmãs, tenho certeza.
2025-04-06
3
LmA Dicci
A enfermeira que deu em cima dele fez isso por vingança ou a mando das meias irmãs
Certas pessoas não se contentam em fazer seu trabalho e respeitar o outro, querem arruinar por capricho ou por inveja
2025-03-30
4