Valéria costumava passear no final da tarde pelo parque perto de sua casa. Aquele era seu refúgio, um lugar onde podia deixar os pensamentos fluírem ao ritmo do vento que balançava as árvores e do som suave dos pássaros. Naquele dia, após uma semana intensa de provas e dramas escolares, decidiu caminhar mais do que o habitual, aproveitando a luz dourada do entardecer.
Enquanto passava por um banco de madeira ao lado de um pequeno lago, uma voz familiar interrompeu seus devaneios.
"Valéria?"
Ela parou, reconhecendo o dono daquela voz antes mesmo de virar. Quando olhou, viu Vinícius sentado com um caderno no colo. Ele parecia tão diferente de como ela o via na escola: mais calmo, quase introspectivo. Ele ergueu os olhos para ela e sorriu, aquele sorriso fácil que fazia seu coração bater um pouco mais rápido.
"Vinícius? O que você está fazendo aqui?" perguntou, surpresa.
"Eu venho aqui às vezes. Gosto de escrever," respondeu ele, mostrando o caderno com a mão.
Valéria piscou, intrigada. "Escrever? Nunca imaginei você escrevendo."
Ele deu uma risada curta, batendo levemente no banco ao seu lado. "Senta aqui. Não vou te obrigar a ler nada, prometo."
Ela hesitou, mas acabou cedendo, sentando-se ao lado dele. O caderno estava fechado agora, mas sua curiosidade continuava a crescer. "Sobre o que você escreve?"
"Pensamentos, coisas que me incomodam, coisas que eu não sei como dizer em voz alta," disse ele, com um tom mais sério do que ela esperava. "E você? Por que está aqui sozinha?"
"Eu gosto de caminhar. Ajuda a organizar meus pensamentos," respondeu Valéria, sentindo-se estranhamente à vontade com a conversa.
Eles ficaram em silêncio por alguns momentos, ouvindo o som da água do lago sendo cortada por patos que nadavam preguiçosamente. Era um silêncio confortável, diferente do que Valéria estava acostumada a viver com outras pessoas.
"Você parece outra pessoa aqui," disse ela de repente, olhando para ele de soslaio.
"Outra pessoa?" Ele franziu o cenho, curioso.
"Na escola, você é sempre o centro das atenções. Parece que todo mundo te adora, e você gosta disso. Mas aqui... você é mais calmo. Quase como se fosse mais você."
Vinícius riu de leve, apoiando os braços no encosto do banco. "Na escola, é fácil colocar uma máscara. Lá, todo mundo espera que eu seja o cara engraçado, que sempre sabe o que fazer. Aqui, ninguém espera nada. É só paz."
Valéria assentiu, sentindo que o entendia de uma maneira que nunca havia entendido antes. "Eu sei como é. Às vezes, parece que as pessoas te olham como se soubessem tudo sobre você, mas elas não sabem nem metade."
"Exatamente." Ele olhou para ela, seus olhos brilhando de compreensão. "Você também sente isso, não sente?"
Ela desviou o olhar, brincando com um fio solto da manga de seu casaco. "De vez em quando."
Mais uma vez, o silêncio os envolveu. O parque estava começando a ficar mais vazio, e as cores do céu iam mudando para tons alaranjados e lilases.
"Valéria," começou Vinícius, quebrando o silêncio. Sua voz estava diferente, mais suave. "Posso te contar uma coisa?"
Ela virou-se para ele, surpresa. "Claro."
"Eu sei que algumas pessoas na escola não são legais com você. Tipo a Bianca," disse ele, observando sua reação.
Valéria ficou imóvel por um momento. Não esperava que ele mencionasse Bianca, nem de forma tão direta.
"Eu queria que você soubesse que isso não muda o que eu penso sobre você," continuou ele, sua voz carregada de sinceridade. "Você é diferente de todas elas, e isso é uma coisa boa."
Valéria sentiu o coração disparar. Era raro ouvir algo tão genuíno, especialmente de Vinícius, que parecia sempre viver rodeado por pessoas que esperavam apenas sua versão mais superficial.
"Obrigada," murmurou ela, sem saber o que mais dizer.
Ele sorriu novamente, mas desta vez havia algo diferente em seu sorriso. Algo mais suave, quase protetor. "Se precisar de alguém para caminhar com você por aqui, é só me chamar."
Ela riu, tentando esconder o calor que subia para seu rosto. "Vou pensar no caso."
O sol já estava quase se pondo, lançando uma luz dourada sobre o lago. Eles continuaram conversando, sobre coisas pequenas e grandes, sobre a escola, seus amigos e até mesmo os sonhos que mantinham escondidos.
Quando Vinícius finalmente se levantou para ir embora, ele olhou para Valéria com uma expressão que parecia dizer muito mais do que suas palavras.
"Até amanhã, Valéria," disse ele, colocando as mãos nos bolsos.
"Até amanhã," respondeu ela, observando enquanto ele se afastava pelo caminho de pedras.
Enquanto caminhava de volta para casa, sentindo a brisa fresca da noite começar a soprar, Valéria percebeu que algo havia mudado. Não apenas em como via Vinícius, mas em como via a si mesma.
Naquela noite, quando pegou o celular para checar as mensagens, viu uma de Vinícius:
"Obrigado por hoje. Você é fácil de conversar, sabia?"
Valéria sorriu para a tela, sentindo o coração se aquecer. Não sabia o que responder imediatamente, mas talvez não fosse necessário. Havia algo crescendo entre eles, algo que não precisava de pressa ou rótulos.
E pela primeira vez, ela não se sentiu sozinha com seus pensamentos. Sabia que, de alguma forma, Vinícius estava do outro lado, talvez pensando nela também.
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Jiliany Oliveira
Que amor ❤️😻
2025-01-14
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