De volta ao Trânsito

Roberto narrando

Pedi o divórcio e fiquei arrasado. Tantos anos da minha vida dedicados a uma pessoa, que eu achava ter depressão. Tratei com tanto carinho, fiz tudo que estava ao meu alcance e nada dava certo. É só hoje sei o porquê. Ela não me amou nunca. Foi um casamento de fachada para ela poder ter uma vida a parte com a Patrícia.

O que mais me dói é o Gustavo ter visto. Se fosse somente eu, teria escondido, jamais causaria qualquer mal-estar entre ela e os nossos filhos. Mas tudo tomou uma proporção muito grande.

Ao ver aquela cena das duas na cama, eu pirei. Senão fosse meu filho, nem sei o que teria feito.

Voltamos para São Paulo, fiz as minhas malas, e sai de casa. Estava terminando umas casas num condomínio, para vender. No desespero, resolvi ir pra para lá.

Enquanto isso o Gustavo ligou para os irmãos e contou todo o ocorrido. Se soubesse, não teria deixado, mas sei que não fez por mal.

Os meninos decidiram sair de casa também, embora eu tenha insistido muito para que não fizessem isso. Mas sinceramente eles nunca tiveram amor de mãe. Os momentos de lazer sempre foram comigo e com as babás. Ela nunca se envolveu com eles. Sua vida era shoppings, estéticas e cama.

Nós quatro fomos viver numa casa que ainda faltava mobília, e de um padrão diferente da mansão em que vivíamos. Mas nossas vidas em breve ira mudar. Guilherme terminando terceiro ano, vai fazer intercâmbio em alguns meses. Gustavo e Felipe já estão assumindo posições nas nossas empresas e o apartamento deles já está quase pronto em São Paulo.

A Judite, minha secretária de muitos anos, providenciou a decoração da nossa casa e passamos a viver os quatro, em perfeita harmonia, e posso confessar que nunca dormi tão em paz.

Mas dentro de mim algo está quebrado. Aquele sentimento de que nunca fui amado, nunca tive uma mulher nos meus braços para chamar de minha. Só tive pelo o que paguei. E isso me arrasa por dentro.

Sou conselheiro numa grande empresa na cidade que moro, aonde vou uma ou duas vezes na semana, e certo dia, no trânsito, escuto uma música. Procuro de onde vem o som e vejo uma loira, cantando alegremente dentro de um carro. Pelo pouco que vi, ela devia estar indo trabalhar. Fiquei encantado. As 7hs da manhã, alguém tão alegre cantando tão gostoso, como se a vida lá fora não tivesse importância. Como se meu coração quebrado não tivesse nenhuma importância. O farol abriu e segui ela até a empresa onde eu ia. Ela seguiu o seu caminho cantando.

Não consegui trabalhar nesse dia. Na minha cabeça só tinha aquela loira cantando alegremente.

No dia seguinte, fiz o mesmo caminho, na mesma hora, e lá estava ela , cantando. Segui até uma parte do caminho. Encantado. Intrigado. Querendo saber mais sobre ela.

Nos dias seguintes, eu não deveria ir trabalhar, mas não tinha como me livrar daquele cabelo loiro na minha mente. Levantei cedo e todos os dias no mesmo horário lá estava eu, seguindo ela. E lá estava ela. Cantando.