— Bem, é uma longa história, mas ela pertencia à servidão. Desde que nasceu, sabia-se que estava condenada. Seus pais eram escravos do Rei, então ela nasceu e cresceu como tal. No entanto, quando ela chegou à adolescência, o rei ficou obcecado por ela, a tal ponto que até quis desposá-la. No entanto, o que nunca imaginou é que seu próprio primogênito, "o bastardo" de quem havia tentado se desfazer, a reclamasse como sua companheira. Assim, este, quando a encontrou, massacrou seu próprio pai de tal maneira que sequer restaram vestígios de sua existência. Enfim, como verá, nas alcateias também temos histórias como a de Romeu e Julieta, mas as nossas são muito melhores que a dos humanos — zombou com um sorriso — Venha, deixe-me mostrar o resto do quarto. — Disse encaminhando-se na direção oposta — Olha, por aqui tens o teu vestiário, tem espaço mais que suficiente para todas as tuas coisas. Também tens uma cômoda, uma escrivaninha e, por ali, tens um banheiro privado. — E a minha parte favorita… — disse com suspense abrindo de par em par as cortinas — Cha-chan! A melhor vista da mansão, tens aqui, na tua varanda. — Meu Deus — disse boquiaberta observando todo o lugar. Sem dúvida era extraordinário, praticamente se podia ver toda a vila de ponta a ponta.
— Bem, já haverá tempo para que eu te mostre o resto. Agora vamos para a sala, o jantar está pronto.
[…]
Alguns minutos depois…
— Por favor, Naomi, sente-se. — Convidou-me Lesly com um gesto.
— Muito obrigada. — Disse acomodando-me na mesa.
— Onde está Howl? — Perguntou meu padrinho entrando na sala.
— Quem é Howl? — Perguntei disfarçadamente a Mariel.
— É meu irmão, Demian. Papai o apelidou assim quando pequeno porque cada vez que uivava conseguia estourar as janelas da mansão. — riu — Praticamente nunca está em casa, é um jovem popular na região. — Disse desta vez semicerrando os olhos — Já entenderá a que me refiro… — advertiu-me e foi verdade. Durante o jantar, o filho do meu padrinho chegou acompanhado de sua namorada, Úrsula. Quando o vi entrar, entendi de imediato por que Mariel havia me dito que era um jovem muito popular.
Era a primeira vez que via um jovem tão imponente, com uma altura que o situava acima das pessoas comuns. Sua pele era pálida, seus traços finos, seus olhos eram uma mistura de azul celeste e cinza, que pareciam mudar de tom dependendo da luz e do ângulo de onde se o olhasse. Além disso, tinha uma compleição física que denotava uma força tremenda, com músculos bem definidos que ressaltavam ainda mais pelas tatuagens que serpenteavam por seus braços e que sua camiseta deixava transparecer em seu torso. “Acho que a este garoto não o avisaram sobre o uso de esteroides” … pensei para meus botões.
— Bem-vinda — entoou seco e direto à distância, sentando-se à mesa enquanto sua namorada saudava a família. Meu padrinho endureceu o queixo, parecia irritado, como se tivesse a intenção de repreendê-lo, mas não disse nada.
— Obrigada. — Limitei-me a dizer. Por alguma razão, me provocou arrepios quando seu olhar se fixou no meu.
— Muito prazer, sou Úrsula. “A namorada de Demian”. — Disse me saudando com um gesto. Parecia-me que, por seu tom de voz, fez ênfase na palavra NAMORADA?
Fiquei olhando para ela boquiaberta, não pelo que pensei, mas porque sua beleza era sobrenatural, sim, como a de seu namorado. Seu rosto era perfeito, com maçãs do rosto altas, olhos azuis e um nariz delicadamente perfilado, além da dita de uma figura esbelta e perfeitamente proporcionada.
— E você é...? — Perguntou-me.
— Naomi, a afilhada de José. Um prazer em conhecê-la. — Apresentei-me educadamente.
— Ah, sim, certo. “A afilhada do Alpha”. — Não, definitivamente não estou louca, ela fez de novo. Qual era o problema dela? Pensei.
— Conte-me, Naomi, de que alcateia provém? — Perguntou-me Úrsula com uma expressão curiosa sentando-se.
Olhei para ela sem saber o que responder, mas depois de meditar um momento, não vi necessário ocultar minha origem. Cedo ou tarde, acabaria por descobrir.
— Sou humana, — respondi com serenidade.
— A que se refere especificamente com humana? Pensei que provinha de uma alcateia importante, como Ciénaga lunar ou talvez… — continuou Úrsula, antes de ser interrompida pelo meu padrinho José.
— Ela é humana, — repetiu, com um tom que deixava claro que o tema estava encerrado. — Imagino que a fará sentir-se como parte da alcateia, correto?
— Claro, meu senhor, — respondeu com um sorriso. — Seremos grandes amigas, — acrescentou, olhando-me com um sorriso forçado, que apenas dissimulava. — Só me perguntava como a receberão os demais na vila. É a única humana na região — comentou. — Demian se encarregará disso, — interveio Lesly. — Meu rapaz cuidará dela, ninguém se atreverá a incomodá-la no instituto. Verdade filho? — Ele assentiu em silêncio. Não parecia contente com isso, aliás, parecia aborrecê-lo.
— Não me tinhas dito, querido, que estudaria conosco. — Mencionou Úrsula a Demian, como se fosse grande coisa.
— Não é uma obviedade? — Interrompeu-a Mariel — É a afilhada do Alpha, Úrsula, se ele diz que estudará ninguém se atreverá a negar-lhe um lugar.
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Atualizado até capítulo 70
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