Giulia Moretti ajustou a lapela do blazer enquanto caminhava pelo amplo corredor que levava ao escritório de Vitor Bellucci. Ela precisava ser direta e incisiva na conversa que teria com ele. O Ministério da Defesa exigia uma decisão estratégica, e ela não podia deixar margens para dúvidas. Mas, ao empurrar a porta de madeira maciça, deparou-se com uma cena que não esperava.
Ele estava de pé junto à janela, com uma taça de rum em mãos. A luz amarelada do abajur iluminava parcialmente seu rosto, realçando seus traços marcantes.Parecia absorto, mas ao ouvir o som da porta, virou-se com um sorriso que mesclava confiança e algo mais... quase uma provocação.
— Presidente — ele disse, em um tom levemente arrastado, levantando a taça em um brinde informal. — Que honra a sua visita ao meu modesto escritório.
Giulia manteve a postura rígida, ignorando o calor inesperado que subiu por sua nuca. Não era momento para distrações.
— Vitor, precisamos discutir o relatório sobre os gastos do ministério. Há detalhes que exigem ajustes imediatos — ela começou, caminhando até a mesa dele e depositando uma pasta volumosa com firmeza.
Ele deu um passo em sua direção, deixando a taça sobre a mesa. Seus olhos, intensos como sempre, estavam fixos nela.
— Sempre tão objetiva, Giulia — disse ele, com um sorriso leve. — Mas sabe que pode me chamar apenas de Vittorio. Afinal, passamos tantas horas juntos que formalidades são quase desnecessárias.
Ela arqueou uma sobrancelha, tentando ignorar o tom casual e a proximidade repentina.
— O que é necessário é que tenhamos clareza nos próximos passos. Qualquer deslize pode ser explorado pelos nossos inimigos. Não posso permitir que o ministério seja alvo de críticas.
Vittorio inclinou a cabeça, estudando-a por um instante, como se tentasse decifrar os pensamentos por trás de sua expressão séria.
— Você carrega o peso do mundo nos ombros, Giulia — disse ele, mais baixo desta vez. — Mas me pergunto: quem carrega você?
A pergunta pairou no ar como um desafio. Giulia sentiu o coração acelerar por um breve momento, mas sua resposta veio tão afiada quanto uma lâmina.
— Não sou o tipo de pessoa que precisa ser carregada, ministro. Prefiro liderar.
O sorriso dele se ampliou, um misto de admiração e provocação.
— É exatamente isso que admiro em você.
Ela desviou o olhar rapidamente, retomando o foco na pasta sobre a mesa.
— Sobre o relatório, preciso que sua equipe reavalie os contratos de fornecedores externos. Há inconsistências que podem ser exploradas pela oposição. Quero tudo revisado até o fim da semana.
assentiu, mas não sem antes soltar uma última provocação.
— Considerarei isso uma missão. E, para missões importantes, sempre me empenho ao máximo.
Giulia fechou a pasta e deu meia-volta, evitando prolongar a conversa.
— Espero que cumpra. A segurança nacional depende disso.
Ela saiu do escritório com passos firmes, mas assim que a porta se fechou atrás dela, permitiu-se soltar um longo suspiro. Bellucci era, sem dúvida, um aliado valioso. Porém, a forma como ele a fazia sentir – e o modo como parecia ver através de sua armadura – poderia se tornar uma distração perigosa.
Do outro lado da porta, Vittorio observou o lugar onde ela estivera, sorrindo de forma quase imperceptível. Ele sabia que por trás daquela fachada rígida havia mais do que uma presidente determinada. E estava decidido a descobrir.
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Na manhã seguinte, Giulia revisava documentos na sala de reuniões do palácio presidencial. A agenda do dia era intensa, mas o encontro com Bellucci era prioritário. A reunião seria crucial para alinhar estratégias envolvendo a segurança nacional, especialmente após rumores de movimentações suspeitas nos bastidores políticos.
Quando a porta se abriu, Vitor entrou com a confiança de quem sabia exatamente o impacto que causava. Vestia um terno impecável, mas era o brilho nos olhos que o destacava. Ele carregava uma pasta de couro em uma mão e, na outra, uma caneta que girava entre os dedos, como se cada detalhe fosse parte de um espetáculo calculado.
— Presidente Moretti — ele cumprimentou, inclinando levemente a cabeça, antes de ocupar a cadeira ao lado dela. — Sempre tão pontual. É algo que admiro.
Giulia ergueu os olhos por um instante, sem permitir que o comentário a desconcentrasse.
— Pontualidade é o mínimo que se espera de um líder, ministro — respondeu, já apontando para os documentos à sua frente. — Vamos direto ao ponto. Recebi relatórios da inteligência indicando vulnerabilidades nas bases militares ao norte. Quero saber qual é o seu plano para resolver isso.
Vittorio abriu sua pasta com calma quase provocativa. Enquanto tirava os papéis, deixou escapar um comentário casual:
— Sempre direta, como uma tempestade de inverno. Admiro isso também, sabia?
Ela o encarou de soslaio, franzindo levemente a testa, mas decidiu ignorar. O trabalho vinha antes de qualquer tentativa de desconcertá-la.
— Foco, ministro. Não temos tempo a perder. O que planejou? — disse, cruzando os braços e recostando-se na cadeira, esperando uma resposta concreta.
Vitor pousou os papéis na mesa, mas não imediatamente respondeu. Em vez disso, inclinou-se ligeiramente em direção a Giulia, mantendo a voz baixa, como se compartilhasse um segredo.
— Sabe, presidente, a questão não é apenas proteger as bases militares. É garantir que você, o coração dessa nação, esteja sempre segura. E, honestamente, acho que ninguém se preocupa mais com isso do que eu.
Giulia permaneceu imóvel por um segundo, os olhos fixos nos dele. A insinuação era clara, mas ela recusava-se a ceder àquele jogo.
— Se está tentando me convencer de algo, Vittorio, sugiro que use argumentos mais sólidos. Palavras vazias não blindam uma nação — respondeu, com a frieza calculada que se tornara sua marca registrada.
Ele sorriu, inclinando-se para trás na cadeira e cruzando os braços, claramente se divertindo com o embate.
— Palavras vazias? Ah, presidente, não me subestime. Cada palavra que digo tem peso, especialmente quando se trata de você.
O silêncio que se seguiu foi tenso, mas não desconfortável. Vitor sabia que tinha ultrapassado os limites, mas também sabia que a linha tênue entre profissionalismo e provocação era parte do que tornava suas interações tão... vivas.
Giulia respirou fundo, recobrando o controle.
— Muito bem. Voltemos ao plano. Como pretende reforçar a segurança das bases?
Ele finalmente retomou o tom sério, explicando detalhadamente suas estratégias. Mas, mesmo enquanto falava de números, tropas e logística, havia algo em sua postura, um brilho em seus olhos, que fazia Giulia sentir que ele estava sempre um passo à frente.
Quando terminaram, Vitor recolheu seus documentos, mas não antes de fazer um último comentário.
— Presidente, se precisar de algo, qualquer coisa, sabe que pode contar comigo. Afinal, proteger você é, de longe, a parte mais interessante do meu trabalho.
Giulia fechou os olhos por um breve momento, como se buscasse paciência, antes de responder com firmeza:
— Agradeço, ministro. Espero que sua dedicação seja proporcional às suas palavras. Boa tarde.
Ao sair, Vitor lançou um último olhar para ela, um sorriso quase imperceptível nos lábios.
Giulia observou a porta se fechar e soltou um suspiro. Ele era eficiente, carismático e estrategista, mas também... irritantemente encantador. Concentrar-se no trabalho estava se tornando mais difícil do que ela imaginava.
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Anatalice Rodrigues
Êta provocação gostosa. /Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm/
2025-01-26
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