Capítulo 4

Passei o restante do dia com aquele homem na cabeça. O do shopping. Eu tenho certeza de que é o mesmo. Não estou paranoica… não pode ser coincidência vê-lo em todos os lugares. A sensação de estar sendo observada me acompanha há dias  e agora está ainda mais forte.

THOMAS: — Que foi que tá com essa cara?

MARIA: — Eu acho que tem alguém me seguindo…

THOMAS: — O quê?

MARIA: — Um homem estranho. Ele aparece toda vez que saio de casa. Hoje, no shopping, esbarrei nele de novo. E eu tenho certeza de que é o mesmo que venho vendo ultimamente.

THOMAS: — Que homem, Maria?

MARIA: — Eu não sei quem é. Mas ele é sempre igual. Camisa vermelha, calça escura… alto, forte. Toda vez que saio, sinto que estou sendo vigiada, e ele aparece. Hoje até me segurou quando esbarrei nele.

THOMAS: — Ah pronto… então só porque um cara está no mesmo lugar que você, ele tá te seguindo?

MARIA: —Estou falando sério, Thomas.  Não é normal encontrar a mesma pessoa toda vez que saio. Ele sempre tá por perto, calado, estranho. Eu tô com medo. E acho que você devia fazer alguma coisa.

THOMAS: — E quer que eu faça o quê?

MARIA: — Não sei… mas você não acha perigoso?

THOMAS: — Maria, por favor… para com isso. É coisa da sua cabeça.

MARIA: — Incrível como você não tá nem aí! E se for alguém perigoso? Como vou sair com nosso filho assim? Você não se preocupa?

THOMAS: — Ele te fez alguma coisa? Falou algo?

MARIA: — Não. Só perguntou se eu estava bem, quando esbarrei nele.

THOMAS: — Então pronto. Se ele quisesse te fazer mal, já teria feito, não acha?

MARIA: — Eu não sei! Mas deixa pra lá...

THOMAS: — Olha, se isso acontecer de novo, me avise. Eu vou atrás dele, tá bom?

MARIA: — Tá...

DIA SEGUINTE...

Hoje foi dia de vacina do Benjamim. Ele está bem choroso e com febre.  Reação comum, segundo o pediatra. Passou o dia inteiro no meu colo.

MARIA: — Oi, amor.

Vou até o Thomas e o beijo. Ele acaba de chegar do trabalho.

THOMAS: — Oi.

MARIA: — A cozinheira já deixou o jantar pronto. Só falta a gente se sentar.

THOMAS: — Tá bom. Me dá ele aqui.

MARIA: — Vai lá com o papai, meu amor…

Entrego Benjamim pra ele, que o segura com um meio sorriso.

THOMAS: — E aí, garotão? Tá dodói, hein?

MARIA: — A vacina deixou ele bem manhoso hoje… e com um pouco de febre. Tá só no colo.

Thomas faz um carinho leve em Benjamin e sai da sala com ele nos braços.

THOMAS: — Pode ir indo pra mesa, só vou guardar as coisas lá em cima.

MARIA: — Tá bem.

Assim que ele sai, vejo que esqueceu o celular na bancada. A tela acende. Uma nova mensagem aparece:

“—Amanhã às sete!” De Carolina.

Mas o que tem amanhã às sete?

THOMAS: — Deixei meu celular aqui?

MARIA: — Hum rum. O que tem amanhã às sete?

THOMAS: — O quê?

MARIA: — A Carolina te mandou uma mensagem. Só disse isso: “Amanhã às sete.”

THOMAS: — O que tá pensando? Carolina trabalha comigo! Tá me avisando que um e-mail importante vai ser enviado às sete da manhã.

MARIA: — Hum.  Sei.

Ele pega o celular e o coloca na  minha frente.

THOMAS: — Tá aqui, olha. Pode ler a conversa inteira. Tudo profissional. Eu sou seu marido, Maria. Você precisa confiar em mim.

Leio algumas mensagens anteriores. De fato, só falam de trabalho. Devolvo o celular.

MARIA: — Você me dá motivos pra desconfiar…

THOMAS: — Maria, por favor. De novo isso?

MARIA: — Vamos jantar. Me dá o Benjamim.

THOMAS: — Vai ficar com essa cara a noite toda? Você viu que não tem nada ali!

Ele diz, enquanto me entrega o Benjamim.

MARIA: —Da Carolina, não. Mas posso ver as outras conversas também?

THOMAS: — O quê?

MARIA: — Os outros chats. Me mostra.

THOMAS: — Claro que não! Eu sou o seu marido, Maria. Você deveria confiar em mim.

MARIA: — Tá. Tudo bem. Esquece.

THOMAS: — Palhaçada…

Nos sentamos à mesa e jantamos em silêncio.

No fundo, eu sei… Tem coisa escondida nesse celular. E eu ainda vou descobrir o que é.

Nos dias seguintes, continuei me sentindo observada toda vez que saía. Não vi mais o homem de camisa vermelha. Talvez tenha mudado de roupa. Talvez   esteja disfarçando.

Mas a sensação ainda está aqui. Depois do encontro no shopping, o rosto dele não saiu mais da minha mente.

E o Thomas não faz nada. Não faz o mínimo esforço pra me acalmar ou investigar. Parece que não se importa. E isso me dá raiva.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***