Azazel
Estou voltando de mais um dia insuportável na escola. Sofro bullying por causa da minha altura, desde quando ser alto é um defeito? Os outros alunos se juntam por temer minha altura, tenho dez anos, mas as pessoas pensam que já sou um adolescente.
Minha mãe me conta que meu pai tinha quase dois metros de altura e meus tios também. Não convivo mais com a família do meu pai, desde que minha mãe se mudou para Moscou. Ela arrumou um bom trabalho aqui e deixou os Estados Unidos para trás assim como nossa família lá.
Mas a vida aqui era tranquila até que minha mãe se sentiu carente afetivamente, precisava de um companheiro e o russo, Pyotr Zubkov, entrou nas nossas vidas. No começo apenas para conquistar minha mãe ele me levava a jogos, era legal.
Foram meses de felicidade até ele vir morar com a gente. A princípio ele só me batia quando estava bêbado, mas as agressões começaram a ficar contínuas com ele sóbrio.
Quando minha mãe chegava e perguntava o motivo para eu estar machucado ele dizia que eu caí na rua brincando ou que cheguei da escola assim. Até o dia que ela pegou ele me espancando.
Eu pensei: agora sim, acabou a tortura. Ele foi expulso da nossa casa pela minha mãe, ficou dias implorando no portão o perdão dela e o meu. Mas tudo mudou quando minha mãe descobriu que estava grávida, esperando um bebê de Pyotr.
Eles voltaram, ele prometeu ser alguém melhor se isso conta apenas com três semanas, pois foi o que durou. Voltaram as porradas.
Cheguei da escola em mais um dia comum na minha vida azarada, ele me pediu para ir comprar bebida e cigarro, já era normal. Eu fui porque já tinha ganhado porrada dele mais cedo e não queria ganhar de novo.
Ao voltar notei a presença de um carro preto e luxuoso bem na nossa porta. Entro desconfiado até que escuto meu padrasto falar:
— Aí está o parshivets. Pode ver com seus olhos, ele é alto para a idade e com o incentivo certo ficará forte como uma muralha. Vale cada centavo.
Vale cada centavo? Sobre o que esse bêbado filho da puta está falando? O senhor com cabelos loiros e alguns fios brancos apenas olha para mim, seu sorriso me lembra a morte. Ele olha para o seu segurança e o mesmo me segura firme pelos braços, as duas garrafas de vodka caem no chão junto com o cigarro.
— Me solta. O que pensa que está fazendo?
O senhor joga para Pyotr uma maleta grande e manda o segurança me apagar me levando para o seu carro. O pano com um odor forte está no meu rosto, quando abrem a porta do carro meu consciente escurece.
Desperto num quarto pequeno, estou em uma cama estreita e confortável, tem uma pequena televisão na parede, tem um guarda roupa, uma mesa e duas cadeiras, mais duas portas.
Me levanto com dificuldade, tudo gira e meu estômago revira. Fecho meus olhos por alguns minutos, a luz que entra pela janela me indica que ainda é dia, menos mal.
Com dificuldade fico de pé e passo por um espelho, eu não estava usando isso. Estou com uma roupa aparentemente nova, nos meus pés um tênis que minha mãe não teria condição de comprar para mim.
Vou até a porta ao lado do guarda roupa, ao abrir vejo um pequeno banheiro, tem sanitário, pia e um box com chuveiro. Isso quer dizer que a outra porta é a saída desse pequeno ambiente.
Mas ao tocar na maçaneta noto que está trancada. Me arrasto de volta para a cama e me sento, olho para as paredes brancas, depois para o piso de madeira e por último as roupas que estou usando.
Me levanto de novo e abro o guarda roupa, as roupas de cama estão de um lado, as roupas comuns do outro lado, tudo organizado. Parecem roupas para mim, abaixo quatro pares de tênis.
— Eu quero a minha mãe. — grito para ver se alguém me escuta.
Fecho a porta do guarda roupa com raiva e dou um soco ali. Para minha surpresa alguns minutos depois escuto a porta se abrir e o mesmo senhor entrar. Ele se senta na cadeira.
— Qual é o seu nome, brat?
— Aza… Azazel Dwight!
— Sua idade verdadeira? Seu padrasto disse que tem quinze anos.
— Tenho dez!
Ele me olha surpreso, e ao mesmo tempo sorri feito uma hiena. Ele aponta para a outra cadeira e pede para que eu me sente, mas fico no mesmo lugar.
— Esqueça sua outra vida, agora você pertence a família Huber, a máfia Huber. Vou treiná-lo pessoalmente para virar o subchefe do meu filho, seu mais fiel e leal cãozinho.
— Eu não serei cãozinho de ninguém. — falo com fúria.
— Bom, garoto. Se mostrou furioso, isso é bom. Tem garra, pelo menos não gastei dinheiro atoa. Vão servir sua refeição, daqui a pouco vão te levar para a arena, se prepara para brigar.
O homem sai e a comida vem, eu não como. Como ele havia avisado, me levaram para um lugar aberto, tem alguns garotos lá. Com apenas um sinal dele três garotos vêm na minha direção com tudo.
Levo socos e chutes em todos os lugares do meu corpo até que me canso de apanhar e começo a revidar. Quando caí exausto no chão tinha derrubado o último garoto… O velho bateu palmas e gargalhou.
Um ano se passou, ele me fez lutar várias vezes, tive aula com professores, aprendi lutas diversas. Mas a primeira vez que se pega uma arma na mão e tira a vida de outro ser humano, isso te corrompe pra sempre.
Eu era apenas um garoto de onze anos, estava treinando com armas de fogo já fazia cinco meses. Porém nunca atirei num ser humano, até aquele dia.
— Aza? — o velho Fritz me chama — Está vendo esse resto de parto? — ele aponta para o homem visivelmente espancado na cadeira — Atire para matar, bem na cabeça.
— Senhor, sou apenas uma criança ainda.
Tento retrucar, mas levo um tapa na cara que faz minha cabeça quase dar a volta no meu pescoço e meu rosto queima.
— Eu te dei uma ordem direta, cumpra ou atiro em você. Não para matar, mas para punir.
Eu aponto a arma para o homem, minhas mãos tremem. Eu nunca tirei uma vida antes. Fritz me olha impaciente, eu apenas miro e atiro. Acertei a testa do homem, bem no meio.
Deixei o meu braço cair ao lado do meu corpo ainda segurando a arma na minha mão. Uma lágrima desce lavando meu rosto, um garotinho morreu naquele momento.
Os anos foram passando, meus sentimentos se esvai com cada morte nas minhas costas até não sobrar mais nada dentro de mim, apenas a casca vazia de um homem.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Ivanilde T. Serra
Nossa! duas vidas sugadas de maneiras diferentes mais tiraram toda a infância deles.
2025-04-26
0
ana
Azazel também tece uma vida triste, a coincidência é ser vendido
2024-12-12
5
Naira Sousa
Tadinho 😂 Venha pra cá, que eu quero fazer amizade 😚
2025-01-05
0